Petkovic tenta deixar para trás sua imagem de atleta para se consolidar como técnico

Fonte: GE

O tiro certeiro na cobrança de falta que Hélton não alcançou e é tão lembrado pelos flamenguistas pode ser recordado esporadicamente. Porém, em vez da corrida com os braços esticados e punhos cerrados para comemorar o que seria um antológico, a batida é precedida de uma palavra a um jovem jogador de olhar atento no treino de bolas paradas do Criciúma. Dejan Petkovic ainda vibra, porém não mais correndo, mas nem por isso menos entusiasmado. A fase é outra. O sérvio agora busca o reconhecimento como treinador e também pelos triunfos tão significantes quanto os celebrados dentro de campo.

A garra e a vontade demonstrados com a bola estão aparentes nos movimentos, passados mais de três anos que ela deixou de ser companheira. Não há mais arranque pela posse do balão, mas a personalidade o acompanha para a nova função na carreira.

Nos treinos táticos do Carvoeiro, Pet é efusivo nas orientações. A raça com as pernas foi transferida para os braços, com gestos bem marcados. Há um pouco do Petkovic que também vestiu as camisas do Estrela Vermelha, Real Madrid, Vasco, Flamengo ou Vitória do Petkovic que transferiu a regência para a área técnica. A batuta não é do time em campo, mas de todo o Tigre que tenta voltar à Série A do Campeonato Brasileiro.

– Tem muito do jogador no técnico, tem coisa boa. Que bom, é competição, é seriedade, é profissionalismo. Acho que fui um jogador assim. O que vivi vale para técnico, é importantíssimo. Tem muitas coisas boas que trago. Conheço o ambiente, que é importante, as atitudes positivas que tem que ter, a determinação, o comprometimento. É importante almejar coisas, ter união, todos têm mérito. Eu fiz aquilo porque tinha companheiros para ajudar, defender, roubar a bola, fazer um-dois. Eu não conseguiria sozinho – descreve o condutor do Criciúma na Série B do Brasileirão.

A forma física está conservada e aponta que os 23 anos de futebol profissional ainda o fazem ter cuidado com o corpo. Não perdeu também o leve arquear das costas, da postura que tinha quando jogava. É o seu jeito, assim com o português arrastado pelo sotaque do carioca. Porém, acredita estar diferente de quando marcou aquele gol no estadual de 2001 ou quando levantou o título nacional de 2009 pelo Flamengo. É outro, é treinador. Se vê como um, embora saiba que ainda falta para que seja reconhecido como um grande técnico, como tantos que o comandaram, e não apenas ser o sérvio bom de bola que saiu do Real Madrid para jogar pelo Vitória e outros seis clubes brasileiros até 2011.

– Deixei de ser visto como jogador. No início ainda era um pouco visto como um pela imprensa, pela saudade de me ver jogar, talvez pelo futebol estar um pouco carente de craques, e ainda está, aí puxa para este lado. Lembro do gol sobre o Vasco, em 2011, mais do que do título brasileiro, em 2009, às vezes. Mas são momentos fantásticos, principalmente da torcida rubro-negra. Lembram disso e não acredito que se passaram 14 anos. Porém, é normal porque ainda não têm muito material da minha nova profissão. Tem o de agora, do ano passado e, daqui a pouco, vai começar a juntar as coisas e me consolidar como técnico, falar mais da nova profissão. Mas nunca deixarão de falar do Pet jogador. A história está aí escrita. Que bom.

PROFESSOR PET

Quando deixou o gramado do Engenhão em 5 de junho de 2011, no empate do Flamengo com o Corinthians, pela terceira rodada do Campeonato Brasileiro daquele ano, Dejan Petkovic começou a buscar o que tinha como plano para o pós-bola. Passar por diferentes clubes o fez perceber que o futebol carecia de homens bem preparados para administrá-lo e acreditava que este era seu destino. “Cabeça dura”, como diz, resistiu aos pedidos para que virasse treinador de imediato. Os trabalhos começariam dois anos e meio depois da aposentadoria e com um curso na Espanha. Mas para ser cartola.

Segundo Pet, o convite para dirigir a equipe sub-23 do Atlético-PR englobava mais do que o comando técnico. A proposta era ter o time que disputava o estadual enquanto o principal jogava o Campeonato Paranaense e também coordenar as categorias de base do clube. O primeiro contato com os jogadores, porém, desmanchou o plano traçado e encaminhado após a aposentadora.

– Quando cheguei, no primeiro dia: olho abertos, admiração grande, foi bacana. Eu falei para mim: “Quero isso como técnico”. O Pet jogador já acabou, tenho que mostrar para eles como técnico em campo. Tive 23 anos de profissão, a gente sabe que quando chega o técnico no primeiro dia você presta atenção. Depois se ele não te agrada, não conduz como acha que deveria, perde isso aos poucos. Eu quero isso deles todos os dias, e consegui. A minha filosofia desde o primeiro momento é de ter clareza absoluta. O que vamos fazer, porque vamos fazer e como vamos fazer. Foi fantástico. Os resultados foram maravilhosos – relembra.

Convicto do caminho, tratou de ajustar a rota. Foi fazer o curso de treinador no segundo semestre do ano passado e recusou convites para que estivesse seguramente preparado. A partir dos primeiros dias de 2015 passou a viver como um técnico de pouca experiência: esperar por uma proposta. Não pode se queixar do que ocorreu desde então. Teve possibilidades que apostava e não deram certo e outros que declinou. Não se empregar, para ele, foi ‘circunstancial’.

Porém, aproximadamente um ano após o desligamento no Atlético-PR, o aguardo estava prestes a acabar. Quase foi recomeçar a nova carreira no futebol onde terminou a de jogador, no Flamengo. Porém, o Criciúma reapareceu, e o negócio foi fechado em “doix minutux”, como diz o sérvio que desenvolveu seu português no Rio de Janeiro.

– Quando não pega no início do ano, você fica esperando a segunda oportunidade. Aí no início do Campeonato Brasileiro falei: não vou esperar mais, vou assumir um clube. O Criciúma foi o oitavo que apareceu desde o início do ano. Cheguei a conversar em abril e optaram pelo Moacir Júnior. Porém, me retornaram para dizer que gostaram do papo comigo, que não esperavam tanto. Fiquei feliz, “beleza”, e quase fui para o Flamengo. Estava entre o Cristóvão e eu, e optaram por ele. Aí, de repente, o ex-técnico do Criciúma pede demissão, e me ligam. Neste período chegou ao clube o Felipe Ximenes, meu amigo de longa data, apresentou o projeto que estão fazendo, o que queriam. Depois de falar, negociamos por dois minutos e fechei.

A vontade de assumir um clube e começar o trabalho foi tamanha que não se importou com o pouco tempo entre o acerto e o primeiro jogo. Foi anunciado pelo Criciúma depois da derrota por 3 a 1 para o Sampaio Corrêa, numa sexta-feira, e foi ao encontro da delegação para comandar o time na terça-feira, no começo pé quente com 1 a 0 sobre Luverdense, também fora de casa. Sem tempo sequer para conhecer melhor os comandados, apostou no 4-2-3-1 que tanto tem aparecido nos gramados brasileiros. Ele manteve o esquema também depois do período maior de treinamento, em intervalo entre jogos.

– Esta era a forma em que o time vinha jogando quando eu cheguei, estava montado. Depois, nos treinamentos, eu percebi que era o que melhor se encaixava para as peças que a gente tem. Nada mais do que isso, não é porque todo mundo joga, mas pelas características que tenho no elenco. E ele pode começar assim e depois você muda, mexe, transforma. O 4-2-3-1 é só uma forma quando o jogo começa. Depois, tudo que ocorre na partida te obriga a mexer, mudar, encontrar variações com quem está em campo – avaliou o dono de uma uma arrancada de sete jogos sem perder pelo Criciúma.

Além de conhecer o time e o clube, Pet também tinha que conhecer a cidade. Afinal, o Criciúma é o time único do município do Sul de Santa Catarina e que tem pouco mais de 200 mil habitantes, conforme estimativa do IBGE em 2014. Foi acompanhado do técnico da equipe júnior, Eduardo Duca, para um passeio pela região central, após um treinamento da tarde. Acostumado a morar em grandes cidades, teve um choque quando encontrou as portas do comércio fechadas.

– Depois das 19h, só shopping e mercado – constatou.

AINDA RAMBO

Os movimentos bruscos que faz nas orientações durante o treinamento ainda preservam um pouco da característica de quando jogava. Pet era jogador de fibra desde a tenra idade. Por isso, não refuta o apelido que ganhou quando ainda jogava na extinta Iugoslávia. Mas os trejeitos e os gestos de jogador, hoje, minguam e desaguam para compor a nova profissão. No time catarinense, porém, espera que o respeito adquirido não seja apenas pelo que jogou, mas pelo que faz um time jogar. E sem perder a marca que lhe gerou o apelido: Rambo.

– No começo eu não gostava muito do apelido. Mas depois pegou e aceitei. Foi desde pequeno, quando eu jogava nas seleções de base da Iugoslávia, acho que passei por todas as categorias. Acho que tem a ver comigo, porque tenho força mental. Sempre tive desde muito jovem uma gana, muita vontade, sou persistente. Podem me bater, me amassar, me torcer, mas eu volto ao meu estado normal e continuo novamente.

Ele encontrou um outro termo para definir sua personalidade e não se coloca como o Rambo Petkovic. Dejan gostou do que aponta o horóscopo. Toda hora fala “sou virginiano”, porém garante que é mais uma palavra que pode ajudar as pessoas a entendê-lo.

– Um dia me disseram que eu era virginiano. Pegaram a data de meu nascimento e viram no horóscopo. E realmente as características combinam com a minha personalidade, meu jeito de ser e encarar as coisas. Mas eu nunca fui muito ligado a isso.

Dejan deixou a família no Rio de Janeiro e parece estar onde quer. O Criciúma lhe provê a oportunidade de mostrar que pode ser um técnico tão bom quanto o que foi jogador. Uma carreira que traz para a nova profissão livre de qualquer mágoa. Petkovic passou pelo Real Madrid e outros clubes da Europa e não conseguiu mostrar seu futebol. Apresentou muito no Brasil. E no país que escolheu morar pode ter como treinador o começo que o levou a Madri, Sevilha, ao futebol italiano. Pet está feliz, como sempre esteve.

– Não tenho frustração nenhuma. Eu poderia ter uma carreira bem diferente, é verdade, jogar em outros grandes clubes da Europa e construir toda a minha vida por lá. Mas se não fosse por isso, eu não teria vindo para o Brasil e ter vivido e conquistado tantas coisas boas que tive aqui. Posso até imaginar como teria sido mostrar meu talento na Europa, mas sou muito feliz e não reclamo, não tenho mágoa alguma do que aconteceu no Real ou ter jogado pouco na seleção do meu país.

Coluna do Flamengo

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