Fonte: Falando de Flamengo
Ontem teve jogo de time argentino na televisão e, como sempre, a visão da torcida argentina trouxe, pelo menos nas minhas redes sociais, de volta o debate entre o novo e o velho Maraca. Domingo passado eu tive a oportunidade de ir ao estádio acompanhado do meu pai (um senhor de 65 anos) e da minha mulher, ele de Superior Leste e nós de Norte, sem problema algum, e lembrei de como era a aventura de prestigiar ao vivo o nosso Mengão no velho gigante.
Comprar ingresso era uma aventura, lei do mais forte! Você tinha que tirar o dinheiro que estava escondido em algum ponto sem esquecer de jogar o tronco para trás, na tentativa de respirar e de não ser amassado entre a multidão ensandecida e o guichê de pagamento, essa operação de guerra era repetida nas poucas roletas de entrada e na saída do estádio, já que só havia duas rampas de acesso.
Uma vez dentro do estádio, os dois banheiros mais usados (e eram muito usados; porque se vendia cerveja) eram as pilastras do corredor de acesso e os copos vazios de cerveja; que muitas vezes eram simplesmente arremessados nas pessoas que estavam em fileiras inferiores. Acessibilidade era uma palavra que ainda não existia naquela época.
Quem já esteve em partidas com mais de 120.000 pessoas, sabe que nunca coube 200.000 por lá! Torcedores sentavam entre os degraus e, em uma situação extrema, o empurra-empurra da superlotação causou a queda e morte de pessoas na final do Brasileiro de 1992. Então, o estádio se tornou um ambiente onde os fracos não têm vez! Terra para pessoas fortes! E você sabe, onde todos são fortes, o que não pode faltar é briga. E elas se proliferaram no Maraca. Era briga entre torcidas rivais, entre torcidas organizadas do mesmo time, entre pessoas contrariadas com alguma coisa que aquele ambiente hostil poderia causar. E para resolver tudo isso, lá estava a PM com seus cacetetes…
Com isso, em nome de pertencer ao povo, o estádio expulsou o povo do Maracanã. Mulheres, velhos, crianças e portadores de necessidades especiais não tinham vez, a ponto de qualquer mulher que saísse da boca do túnel de entrada ser saudada com coros desabonadores, de tão incomum que era. E aí? O Maraca era nosso? Quem somos nós?
O velho estádio ainda existe nas paradas de ônibus e trens lotados, só o mais forte embarca. Ainda existe na cabeça de um idiota que pensa em dar uma lição no Sheik para ele não fazer com o time dele o que o ex goleiro Manga cansou de fazer com o nosso na década de 60 (e entrou para o anedotário do futebol; apenas).
Perdura lá na sede da FFERJ e na cadeira presidencial de um clube à beira do abismo que se dedica a brigar pelo lado no estádio.
Está tudo lá! E nós queremos distância do passado! Como disse Djavan, “ainda bem que eu sou Flamengo!”
P.S. Mesmo na época do estádio medieval, esse debate sobre as diferenças entre as torcidas no Brasil e na Argentina sempre existiu. E eles sempre foram alvo da nossa inveja. Freud explica!