Entre dois tons de azul

Com um intervalo de 15 dias entre os encontros, assisti as apresentações das Chapas Azul e Verde realizadas em hotéis da Zona Sul.

É preciso esforço para encontrar diferenças na essência dos projetos. Ambas as chapas comungam de uma ideologia muito parecida e em vários momentos reivindicam para si êxitos colhidos nesses 3 anos.

Em outros momentos, as propostas para o futuro convergem. Por exemplo, para a Gávea (um tema que interessa apenas aos associados acostumados a frequentar a sede, o que não é o meu caso e, creio, nem o da maioria dos eleitores) ambas prometem seguir um Plano Diretor traçado a partir de pesquisas realizadas com os frequentadores.

Onde as chapas realmente se distinguem? No método!

A Chapa Azul preparou uma apresentação muito luxuosa, com dezenas de slides em Power Point que detalham suas propostas de forma minuciosa. Há um extenso panorama financeiro, mostrando claramente de onde virão os recursos e como eles serão gastos, com a previsão de cenários pessimistas, realistas e otimistas que impactam na adoção dos planos.

A Chapa Verde também tem slides em Power Point, bem mais concisos e apenas enunciativos, mas claramente não dá muita bola para eles. Fiquei impressionado que o primeiro slide, com o nome dos apoiadores da chapa (e que ficou mais tempo em exibição), tem uma formatação preguiçosa e vários erros de digitação – até mesmo o nome do atual VP Geral e candidato à reeleição está errado. Ou seja, ninguém está sequer lendo o que já foi mostrado algumas vezes.

Ao menos nos dias em que estive, também foi notável a diferença dos expositores.

Na Chapa Azul, o candidato a VP Geral fez uma breve apresentação e se despediu, disse ter compromissos onde também estariam o candidato Bandeira de Mello e outros VPs (não ficou claro, mas acho que estavam no clube). A apresentação foi inteiramente conduzida pelo atual VP de Administração Rafael Strauch e alguns de seus colegas do grupo SóFla, nenhum deles com cargo de gestão no clube, mas que se revezavam em suas áreas temáticas.

Na Chapa Verde, Wallim comandou a apresentação e, tirando o Bap, os demais cardeais da chapa (Landim, Tostes, Gustavo, Walter D’Agostino) estavam lá e a todo momento faziam intervenções. Além disso, ao contrário da Chapa Azul, a Chapa Verde tinha na plateia vários apoiadores que comparecem regularmente nessas reuniões.

As chapas são relativamente cautelosas ao falar da cisão entre eles. Depois de várias vezes perguntado, Rafael deu sua versão para o racha, mas de forma bem contida e procurando não ser muito crítico. A Chapa Verde não deu qualquer explicação para a divisão (e ninguém perguntou), mas também não foi particularmente ácida em relação aos agora adversários. Em alguns momentos, uma outra fala um pouco mais dura em relação ao “Eduardo” deixava escapar o desconforto, mas sem muita insistência.

O ponto forte da Chapa Azul é o seu plano de gestão. Está tudo milimetricamente previsto e documentado, quase como se estivessem em busca de uma certificação ISO. É uma lógica de sai fulano, entra beltrano, mas o clube segue na mesma toada, obedecendo a um planejamento prévio.

O ponto forte da Chapa Verde – e eles fazem questão de repetir isso a todo instante, como um mantra – é o “relacionamento”, palavra que eles escolheram para descrever a capacidade de atrair recursos em razão da rede de contatos pessoais dos seus dirigentes.

A dinâmica das apresentações foi bem diferente. Talvez por conta do roteiro (os slides ajudam), talvez por conta do público presente, a Chapa Azul teve uma acolhida melhor da audiência, que na média era mais jovem, com menos tempo de associação e mais entusiasmada. A Chapa Verde teve algumas intervenções mais críticas. A maioria dos presentes na reunião da Chapa Azul já era eleitora da chapa. Na Chapa Verde, tive a impressão de haver mais indecisos e gente que vai votar em outras chapas (um dos que se manifestou era eleitor do Cacau).

O CT é uma prioridade absoluta para os dois grupos. A Chapa Azul, de forma didática, expôs que o Flamengo terá a verba necessária para finalizar sua conclusão. A Chapa Verde diz que vai contrair um empréstimo de R$ 30 milhões na Caixa ou BNDES para terminar o CT, assegurando que não haverá dificuldades para obter esse financiamento.

Na parte mais importante, entretanto, notei uma diferença sutil. A parte mais importante, lógico, é a gestão do futebol, claro, a razão de ser do Mengão ou, como se diz em português corporativo, o nosso core business.

Ambas as chapas são defensoras do conceito do conselho de gestão do futebol, apresentando um argumento bem consistente: decisões que impactam as finanças do clube de modo tão significativo e por tanto tempo (como a contratação de jogadores) não podem ser concentradas nas mãos de uma única pessoa.

Ambas as chapas refutam a noção de que este conselho interfere na dinâmica do departamento de futebol, retirando a autonomia da comissão técnica.

A partir daí, as opiniões divergem.

A Chapa Verde tem a convicção de que o departamento de futebol precisa de uma intervenção permanente do VP de futebol, atuando no cotidiano das atividades. Nas palavras do Wallim, “o VP de futebol é o dono do negócio e tem que falar com o diretor executivo, com o treinador, com os atletas”. E para reforçar esse conceito, lembrou seu papel à frente do departamento na conquista da Copa do Brasil.

A Chapa Azul acredita em maior autonomia do diretor executivo, com uma interferência bem menor da diretoria estatutária, que deveria se limitar à definição de estratégias e cobranças de resultados. E enfatiza que esse modelo representa uma forma diferente de atuação na cultura futebolística do Brasil.

Eu lamentei desconhecer a existência de reuniões semelhantes da Chapa Branca. Se elas estiverem acontecendo, adoraria ser convidado para poder acrescentar suas propostas a esse comparativo.

Mas diante do meu desconhecimento, o que temos para hoje é a análise das chapas que representam os dois tons de azul da eleição passada. Restam 3 comentários:

O carinho e admiração que tenho tanto pelo Rafael quanto pelo Wallim me constrangeram de fazer a pergunta que não consigo esquecer: diante do orgulho demonstrado por ambos pelas realizações do triênio que se encerra, quem, afinal, é o responsável pela escalação do André Santos, que quase nos derrubou? Em 6 horas de exposição e com tão variados temas, ninguém tocou no assunto. Filho feio não tem pai mesmo….

As semelhanças programáticas das chapas são muito evidentes e as divergências, aparentemente, pequenas. Fica o meu conselho à turma que se estapeia nas redes sociais defendendo um lado e atacando o outro. O caso está mais para aquela zona de transição da escala pantone, onde ninguém sabe ao certo o que é verde ou o que é azul.

Parece um tanto óbvio que no cenário ideal seria possível ter a soma do planejamento e da preparação estruturada da Chapa Azul com a força dos relacionamentos da Chapa Verde. Como isso não vai acontecer, resta a cada associado fazer sua escolha. Eu já fiz a minha (já tinha feito antes até de ir às reuniões), um dia conto para vocês qual é.

MAGIA NELES!

Fonte: Magia Rubro Negra

Coluna do Flamengo

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