Luisa Parente fala sobre esporte olímpico e Anjo da Guarda

Luisa Parente tem um nome ligado à história da ginástica artística, aos esportes olímpicos e, é claro, ao Flamengo. Um dos maiores nomes da história da ginástica no Brasil, ela foi campeã em todas as categorias que disputou – mirim, infantil, infanto-juvenil e adulto, além de ter sido a primeira ginasta brasileira a participar de duas olimpíadas consecutivas, Seul/88 e Barcelona/92. Desde 2014, ela também ocupa o cargo de gerente de esportes terrestres do Flamengo.

Esta semana, a funcionária do Mais Querido do Mundo conversou com a equipe do site oficial do clube para falar sobre sua carreira, o esporte olímpico rubro-negro e o projeto Anjo da Guarda Rubro-Negro. “Sou uma mulher de um clube só. Não abandonei nunca o Flamengo e fiquei aqui até o final da minha carreira. Foram 16 anos ao total. Dos 6 aos 22 anos de idade”, revelou.

Vale lembrar que As equipes de ginástica do Clube de Regatas do Flamengo, assim como as do judô rubro-negro, contam com recursos de seu patrocinador – MRS Logística – via Lei de Incentivo Federal/Ministério do Esporte (IR) e do Anjo da Guarda Rubro-Negro. Para contribuir, basta transferir até 6% de seu IR devido, recebendo sua contribuição de volta na restituição do imposto de renda. Clique aqui e participe.

Confira a entrevista com Luisa Parente na íntegra:

Luisa X Flamengo
– A ginástica era a minha atividade esportiva, desde a infância. Eu tentei passar pelo balé, mas eu era muito agitada e meu perfil se enquadrava perfeitamente na modalidade da ginástica. Minhas especialidades foram salto e paralela, onde conquistei minhas duas medalhas no Pan. Dentre meus melhores resultados, na Olimpíada de Barcelona, a prova de paralela foi a melhor da minha vida. Na época a referência era 10, a nota máxima, e tirei 9.812 numa série obrigatória. Voltando… Adorava ginástica e meus irmãos mais velhos já praticavam aqui no clube e vinha assisti-los. Ficava do lado de fora da grade imitando as meninas mais velhas e decidi que queria entrar para a escolinha, Em menos de um mês já estava na equipe. Na equipe passei a treinar diariamente encantada. Adorava treinar, vir para cá aprender elemento novo… Sempre fui apaixonada pela ginástica, é um esporte que brinca com o corpo. É uma delícia ficar de cabeça para baixo, pelo menos pra mim e para a maioria das pessoas que encontram na ginástica um prazer e uma paixão.

Transição da base para o alto rendimento
– Por ser uma escola referência, porque era praticamente o único centro no Rio e um dos poucos no Brasil da modalidade…. A história da ginástica no Brasil começou no Sul com os imigrantes e veio subindo para a região Sudeste por conta do poder aquisitivo e necessidade de maior desenvolvimento. Então, quando você passa para a equipe, você começa a treinar diariamente. A evolução que você tem na escola, é um ritmo. Quando você passa para a equipe já é um ritmo mais acelerado. Com um programa, e com um talento natural também, você vai se desenvolvendo. O alto rendimento classifico já como uma das primeiras categorias. Estaduais, a primeira categoria na minha época era a Mirim. Hoje é chamada Pré-Infantil. Foi na categoria Infantil que já fui para o primeiro Sul-americano da modalidade. É uma categoria de base, mas já numa competição internacional de rendimento. Fui e ganhei todos os títulos: campeã por equipe, individual e por aparelhos. Eu tinha 11 anos.

Base de antigamente X Base de hoje
– A estrutura física, sem dúvida é diferente. Na minha época, a gente vinha e treinava lá naquele quadrado do Kanela. Não tinha fosso e não tinham todos os aparelhos montados, por exemplo, o solo. Junto com o meu desenvolvimento, passamos para o ginásio Cláudio Coutinho, ainda sem um tablado completo e sem fosso, mas tínhamos mais espaço para uma corrida do salto e posteriormente para novos equipamentos que vieram. Acho que só depois de Seul, da minha primeira Olimpíada, que o ginásio começou a se transformar mesmo com fosso, com tablado, com equipamento realmente completo,como centro de referência do Brasil.

Uma das primeiras técnicas, logo que passei para a equipe, era a Luzia Lopes, a primeira ginasta do Flamengo. Era a Luzia e a Vera Bianchi. Elas eram as técnicas das equipes femininas da época. Super abnegadas, muito dedicadas. Logo em seguida, por algum motivo que não sei qual é, a minha geração ficou um pouco desestimulada. Foi um momento passageiro, mas muita gente queria sair da ginástica. Houve então uma mudança de corpo técnico e a Georgete veio para o Flamengo. Uma pessoa já era desse corpo técnico anterior, mas permaneceu por muito tempo depois, que era o Sérgio Jatobá, coordenador geral da ginástica na época. Ele atuava muito no masculino, mas ficava também de olho no feminino. Teve um período depois em que a Georgete saiu do Flamengo e foi atuar em São Paulo, levando boa parte do grupo dela, principalmente as menores. Eu e as meninas mais velhas não fomos. Brinco com isso, dizendo que sou uma mulher de um clube só. Não abandonei nunca o Flamengo e fiquei aqui até o final da minha carreira. Foram 16 anos ao total. Dos 6 aos 22 anos de idade.

A Luzia já dava treino para as meninas mais velhas e a Vera para as mais recentes, que vinham da escola. A Luzia era a referência para as meninas que já competiam, que já representavam o clube nos campeonatos estaduais e brasileiros e, então, a gente pensava: “poxa, vamos crescer e vamos ficar igual a Luzia e a equipe dela”. E era muito legal.

Dedicação na Ginástica de Alto Rendimento
– O processo da ginástica é muito sacrificante, afinal de contas ele passa por todo um processo de desenvolvimento esportivo, mas numa faixa etária muito nova. E é um processo lento. A evolução de um ginasta demora quase uns 10 anos de trabalho árduo para você atingir o auge. Então aos 6 anos eu tenho que trabalhar duro, para aos 16 estar no auge da carreira. Como a modalidade tem esse aspecto lúdico, claro que da iniciação para o desenvolvimento e consequentemente o alto rendimento há uma mudança dessa vivência e dessa conotação, mas a ginástica em si é muito lúdica, mesmo no alto rendimento. Ela desafia o atleta o tempo todo. Não só para aprender novos elementos, mas para aperfeiçoar aqueles que já sabíamos e aumentar o grau de dificuldade. Antes você girava uma vez só, depois passou pra duas e agora três. Girava de perna agrupada, agora afastada e depois carpado. Tem esse elemento motivador intrínseco. Na verdade brinco, porque digo que não perdi a infância, porque acabei conhecendo o mundo com as viagens para competições, ganhei desafiando meu corpo, girando no ar, fazendo coisas que ninguém que brincava de boneca fazia. Pra mim essa era a brincadeira. Talvez por não termos tanta noção do perigo, a gente acaba se dedicando ao máximo e tive uma infância incrível, uma verdadeira brincadeira. Óbvio, se você pensar que não tinha meu sábado e domingo todo disponível para ir à praia, ao cinema, às festas, é claro que não tinha mesmo, mas esse foi um pequeno preço para todas as conquistas.

Referência para atletas de base
– Como também segui a carreira de professora, então muitos alunos nunca ouviram falar. Então aí entram os pais com o discurso que era uma ginástica que eles viram competir, que ganhava tudo, e aí eles passam a me ter como essa referência. Mas aqui no Flamengo não atuo como professora ou técnica. Tem essa facilidade da internet, então quem tiver curiosidade vai entrar ali e ver. Mas acho que hoje já sou encarada como referência nessa área de gestão e coordenação, por querer que tudo dê certo, pelo meu empenho, a maneira que falo exigindo disciplina, etc. De uma maneira geral acaba passando um respeito, claro que eles não me viram competir, mas sabem que sou uma referência da modalidade. De alguma maneira, cada um cria um ponto de associação com aquela pessoa, com aquele ídolo. Acabam querendo se aproximar.

Ginástica hoje no Brasil
– A gente hoje está num estágio, objetivamente em termos de resultados, de evolução. Estamos numa posição nunca atingida antes, claro sem contar com a classificação feminina para os jogos, que já aconteceu outrora. É um passo só mais adiante. Acredito que em abril deva classificar. Mas num todo, temos uma equipe de nível internacional, disputa a vaga olímpica. Na minha época isso não existia. Era uma atleta por vez que ia lá e conseguia a classificação para representar o país. Então eu acho que hoje, sem dúvida nenhuma, não só tem mais ginastas do mesmo nível como também um reconhecimento internacional por inúmeros resultados já alcançados. No masculino também, essa evolução está conseguindo atingir esse patamar. Temos uma ginástica hoje que é Top 10.

Hoje temos a manutenção dessa equipe feminina de altíssimo rendimento adulta aqui no Flamengo, que foi um objetivo muito bom em termos alcançados, de termos conseguido manter, termos passado por todas as dificuldades dos últimos tempos. E ainda com perspectivas muito boas para o ano que vem também.

Equipe masculina do Flamengo
– Quanto aos meninos, já aumentamos o número de adeptos. Estávamos quase sem atletas, com dificuldade até para formarmos uma equipe. Hoje em dia, a base, a primeira categoria já tem número razoável para se desenvolver e atingir as categorias superiores. Ainda precisamos de mais. Estamos numa fase em que, nesses dois anos de projeto, nos mantivemos com o que podíamos, até porque não tínhamos toda a estrutura física. Agora, a partir do momento que teremos uma estrutura física de alto nível, a gente parte para os dois pilares mais fortemente, porque a gente nunca pode abandonar os três pilares, que são: estrutura física, estrutura técnica e o atleta.

Agora, com a estrutura física 100%, que vai ficar maravilhosa, a gente vai ser que dar um gás na técnica. Ou seja, a gente precisa realmente de mais umas duas contratações, além do apoio de estagiários, pra poder dar atenção necessária para essas categorias de base. Precisamos ter uma base larga, que a gente sabe que afunila, e uma base larga para você dar atenção de qualidade para desenvolver corretamente, uma pessoa apenas não consegue. Então você precisa de mais gente. E mais atletas.

Hoje estamos desfalcados no adulto masculino, no juvenil masculino, no infantil já temos uma equipe pequena que conseguimos formar, mas que precisamos agora polir. Eles estavam muito limitados por conta da falta de todos os seis aparelhos masculinos, mas agora nós temos condições de correr atrás desse prejuízo de tempo e alcançar. E no feminino temos essa carência no juvenil hoje. Temos até uma estratégia aí para alcançar esse objetivo, meio que suprir imediatamente com admissões direto do juvenil, para não termos essa lacuna até formar. Já estamos começando a formar de novo, mas como falei anteriormente, demora de cinco a dez anos pra isso. Nós até temos vontade de trazer uma figura forte e referência no masculino, mas temos de ter prioridade no projeto. A gente se questiona sobre isso. Temos metas das duas, masculina e feminina. O ideal seria priorizarmos as duas, porque somos referência no Brasil, então temos sempre que lutar por isso. A gente teria como fazer uma ou outra ação pontual, mas realmente esse modelo da seleção brasileira, que faz com o que atleta convocado não treine aqui ou próximo daqui, realmente faz esse sentido de referência um pouco distante. Acho que não é uma estratégia razoável. Acredito que com essa mudança da estrutura física tenhamos uma mudança, com um pouco mais de treinos das equipes principais do Flamengo na Gávea. Talvez de não 100% da equipe ou dos dias, mas uma boa parte.

Flamengo Pós Rio-2016
– Após as Olimpíadas, acredito que tenhamos uma folga das principais atletas, até porque é muito sacrificante do ponto de vista administrativo também do COB e da CBG. Naturalmente deve haver essa mudança e aí é hora de tocarmos nosso barco aqui da melhor forma. Já teremos toda a estrutura técnica, os atletas perto, e muitas delas talvez se aposentem. Ninguém sabe. Em algum dado momento, apesar da idade de aposentadoria da ginástica hoje ter aumentado, pode ser que algumas delas queiram sair na idade normal. Na minha época era 20 e 22 anos. Eu parei com 22.

Realizações pendentes?
– Gostaria de ver ainda em atividade aqui todos os três pilares prontos e rodando com segurança. Estruturas física, técnica e de atletas. Não gostaria de ver lacunas em categorias ou comissão técnica, e tudo isso integrado a gerência nova que estar por vir, que é a gerência multidisciplinar. Isso acho que é um sonho. E uma roda, uma engrenagem, bem fluida com a escola de base. Esse fomento, o velho lema de “craque se faz em casa’, da gente realmente ter uma escola de qualidade que vai atender todos os anseios, que é para aquele que quer desenvolver a ginástica na infância pra seguir outros rumos e aquele que quer servir da ginástica para se direcionar e desenvolver na ginástica. Queremos nos desenvolver com muita qualidade para desenvolver os dois públicos.

Performance da base em 2015
– Dentro do esperado, considerando que não tínhamos 100% da estrutura física e das perdas, tanto no masculino quanto no feminino. Casos pontuais inevitáveis. Outros fatores, incluindo familiares. Isso faz parte também, e é por isso que temos de ter uma base larga para suprirmos nessas horas e não termos desfalques. Fomos muito bem. Masculino não tinha como ser melhor, principalmente o adulto e o juvenil, porque não tínhamos dois aparelhos, dos seis. Quando chegaram, eles tinham 2 ou 3 meses pra treinar, enquanto que os adversários nunca pararam de treinar ou estavam há um ano praticando. O trabalho foi feito bastante estratégico buscando o melhor resultado dentro do possível.

Significado do Anjo da Guarda para a ginástica
– Acho essa sustentabilidade do núcleo principal, que é a comissão técnica e uma garantia mínima de atletas. A gente sabe que a estrutura, por exemplo, estamos agora renovando todo o ginásio, exige uma certa manutenção e inovação ao longo do tempo, mas é uma estrutura muito duradoura. Durou tantos anos até um incidente acontecer. Mas a sustentabilidade do dia-a-dia, e eu acredito muito que o Anjo da Guarda seja um programa que cada vez mais terá adesão aumentada. A gente trabalha muito pra isso, porque é uma contribuição lícita e que a pessoa pode fazer permanentemente. É muito bom saber que estou fazendo uma contribuição que está indo pro caixa do governo e sei lá pra onde. Estou ajudando o governo a cumprir o dever constitucional dele de fomentar o esporte, mas direcionando pra onde eu quero. Vai até o encontro a muitas políticas e ações da atualidade de você investir localmente. Eu estou aqui e invisto localmente. Além disso, alguém que tenha identificação com o clube e que esteja de longe pode ajudar o clube onde ele mais desenvolve e você tem a condição de determinar pra onde você está destinando o seu dinheiro, o seu imposto. E o mais legal é que, além de apoiar o Flamengo, você pode escolher pra qual modalidade exatamente dentro do clube você quer fomentar. Inclusive, vou pegar o meu computador agora porque ainda não fiz a minha doação. Preciso resolver isso hoje.

Fonte: Site Oficial Flamengo

Coluna do Flamengo

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