“Domingo, eu vou ao Maracanã…” Os versos de Neguinho de Beija-Flor se tornaram quase um hino dos torcedores do Flamengo e dos outros times cariocas. Porém, há 120 anos, o domingo era das regatas na praia homônima ao clube que aniversaria amanhã. Hoje, já nem tanto. O esporte fundador do rubro-negro, o único que não pode deixar de existir, vive em águas um pouco turvas, assim como as da Lagoa Rodrigo de Freitas.
Com redução de investimentos e saída de atletas, o remo rubro-negro viu a hegemonia carioca ser tomada pelo Botafogo, que venceu os últimos três estaduais. Atualmente, o esporte conta com 70 atletas federados em todas as categorias. Mesmo tendo representado o Brasil com 11 integrantes (nove remadores e dois técnicos) no Pan-Americano deste ano, as chances de ter alguém na Rio-2016 são remotas — o país tem direito a duas vagas nas categorias individuais por ser país-sede.
Bem distante dos anos 80, quando o Brasil teve o melhor resultado em Olimpíadas, ficando em quarto lugar. Veio das braçadas dos atletas rubro-negros Angelo Roso e Valter Hime, apoiados por Nilton Alonço, na prova dois com timoneiro. Recentemente, Fabiana Beltrame também teve destaque no clube. Em 2011, ela conquistou o ouro no Mundial da Eslovênia, no single skiff leve, modalidade não olímpica. Este ano, trocou o Flamengo pelo rival Vasco.
— Quando a Patrícia (Amorim) era presidente, investia em atletas e estrutura. Depois que ela saiu, o clube se voltou para o futebol e o pagamento das dívidas. O investimento piorou e algumas modalidades olímpicas foram cortadas, até pensamos se o remo também não seria — relembra ela.
O presidente Eduardo Bandeira de Mello, que concorre à reeleição pela Chapa Azul, confirma o corte nos investimentos — para este ano, foram cerca de R$ 2 milhões, os valores de 2016 ainda não estão fechados. Porém, ele garante que o clube deu alguns passos para trás de olho no futuro:
— Não adianta ficar fazendo esse troca-troca entre os clubes só para ganhar estaduais.
Parceria com ingleses
A ideia é dar continuidade aos projetos em andamento em caso de reeleição. Hoje, o remo ainda não é autossustentável e busca mais recursos das leis de incentivo. Para janeiro, o clube aguarda a compra de novos equipamentos com verbas da Confederação Brasileira dos Clubes (CBC), que repassa a receita das loterias.
— Nós já conseguimos melhorar a estrutura do clube, temos uma academia e recebemos equipamentos do comitê olímpico britânico (BOA). Fizemos uma parceria no remo com eles, que devem fazer a aclimatação no clube e esperamos mais investimentos por causa dos Jogos (o Comitê Olímpicos dos EUA também investe no clube para usar suas instalações em 2016). O objetivo é fortalecer o remo brasileiro a médio e longo prazo. Seria algo para termos retorno em 2020, 2024 — explicou o diretor executivo de esportes olímpicos, Marcelo Vido, que ainda não sabe qual será a contrapartida da Rio-2016 pelo uso da área da sede náutica nos Jogos.
Os outros candidatos também são sensíveis ao assunto. Afinal, são 120 anos de remo a serem comemorados — o futebol só nasceu 17 anos depois. Wallim Vasconcelos, da Chapa Verde, sabe que é hora de voltar a investir no esporte:
— Temos que tornar o remo atrativo. Conversar com os outros clubes e a federação para podermos vender bem esse produto. Assim, conseguiremos patrocínios e receitas. Também aproveitaremos as Olimpíadas para fazer intercâmbios, clínicas em outros países.
Cacau Cotta, candidato da Chapa Branca, acredita que o remo precisa voltar a ser prioridade. Segundo ele, os esportes olímpicos estão abandonados:
— É Clube de Regatas do Flamengo e só sabem discutir a arena como prioridade.
Fonte: O Globo