Um ano sem título e com problemas extracampo: o time montado pelo Flamengo contou com nomes de peso, como Guerrero, Sheik e Marcelo Cirino, mas o mau comportamento comprometeu o que poderia ter sido a arrancada para o G-4 do Brasileiro.
O estopim para a crise que fez o sonho da Libertadores virar pesadelo foi a notícia publicada pelo EXTRA sobre a cobrança da diretoria a cinco jogadores, que seriam afastados por participação em uma festa depois de um treino, em Vargem Grande.
Desde o Estadual, a dificuldade da diretoria em acertar os ponteiros com o comando de campo foi um dos fatores que fizeram o planejamento não dar certo.
Marcelo Cirino, anunciado no começo do ano como grande reforço, se juntou a nomes como Everton, Paulinho, Pará e Alan Patrick, e formou o chamado “Bonde da Stella”, grupo que se reunia fora do clube para curtir a vida, dando trabalho para a diretoria rubro-negra.
Os atletas foram multados e afastados por uma semana. O episódio ocorreu em um momento em que o time não conseguiu sustentar a subida na tabela do Brasileiro, competição que restava, após uma eliminação precoce no Campeonato Estadual e na Copa do Brasil.
Sob o comando do técnico Oswaldo de Oliveira, o Flamengo conseguiu emplacar seis vitórias seguidas na competição e alimentou até o sonho do hepta. A carruagem virou abóbora com uma derrota inesperada diante de quase 70 mil pessoas em Brasília, para o Coritiba. Na Copa do Brasil, a queda foi para o mesmo Vasco do Estadual, que fez do Flamengo freguês em 2015. O fato se repetiu nos clássicos válidos pelo Campeonato Brasileiro.
Nas últimas rodadas, o cenário político tomou conta do ambiente no clube. Jogadores descompromissados, partidas apáticas e novas derrotas. Foi a imagem pior possível para o torcedor rubro-negro. A reformulação se anunciou mais forte do que parecia necessária. Mais do que nomes, postura. O presidente Eduardo Bandeira de Mello, em mensagem de fim de ano para a torcida, prometeu correção.
“Sabemos do compromisso que temos com os nossos mais de 40 milhões de torcedores. Em 2016, vamos trabalhar firme nessa obrigação de construir uma equipe de futebol competitiva. Com a cara e a alma que o clube Mais Querido exige”.
Contratações não deram retorno
O Flamengo contratou muito em 2015, mas as apostas não deram retorno. Além de Guerrero, o clube investiu em Marcelo Cirino, com a ajuda de um grupo de investidores, e viu o atacante revelação do Brasileiro de 2013 ficar pelo caminho e acumular atuações ruins e lesões. Na lista, inclui-se ainda Ederson, novo camisa 10. Trazido do futebol europeu e com passagem pela seleção brasileira, o meia ficou mais tempo tratando de lesões do que em campo pelo clube.
As apostas de menor investimento também não vingaram. Muitas delas foram pedidas pelo técnico Vanderlei Luxemburgo: Pará, Almir, Arthur Maia, Thallyson, Armero, Jonas e o zagueiro Marcelo, entre outras indicações. O zagueiro César Martins chegou depois do meio do ano e não conseguiu se firmar, assim como o lateral Ayrton e o meia Alan Patrick. Emerson Sheik veio junto com Guerrero e foi um dos que se salvaram na temporada, com atuações destacadas. O veterano inclusive renovou por mais um ano seu contrato. Dos principais atletas contratados, Sheik, Pará, Jonas, Ederson e Alan Patrick ficam para 2016.
Guerrero não vinga
Um ídolo que não vingou. Paolo Guerrero foi contratado junto ao Corinthians, e o Flamengo pagou, por um contrato de três anos, mais de R$ 40 milhões. Sua chegada teve festa e três gols nas primeiras três partidas. Contudo, os constantes desfalques para defender a seleção peruana e algumas lesões, especialmente contra o Vasco, fizeram o centroavante cair de produção. No total, foram apenas quatro gols na temporada, em 18 jogos.
A cobrança aumentou quando o Flamengo conseguiu chegar ao G-4 sem ele, que atuava na Copa América, pela seleção do Peru. Na sua volta, Guerrero pouco produziu e viu o time cair pelas tabelas com atuações apáticas. Isolado, sem personalidade para cobrar dos companheiros e irritado com a falta de estrutura, o atacante se recolheu.
— Não sou salvador do Flamengo. Não sou Superman — declarou Guerrero.
Agora, em 2016, com a promessa de novos reforços para elevar o nível do elenco, Guerrero terá a segunda chance de provar o alto investimento. Sua parceria com Emerson Sheik também foi um fracasso. Isolado no ataque e no clube, deu mostras de que precisa de um time com mais capacidade de dividir responsabilidades.
O Flamengo manteve-se firme na aposta em sua principal contratação. Mesmo com algum assédio internacional para a transferência, deixou claro que só negociaria o atleta em caso de pagamento da multa, que chega a quase R$ 100 milhões. A ideia é ter o resultado em campo, e não usar o jogador para encher o caixa.
A renovação de contrato de Sheik e a manutenção de Marcelo Cirino nos planos, a princípio, pouco mudará o cenário para Guerero. É ele que precisará provar que pode evoluir e crescer.
Ciranda de técnicos atrapalhou
Muricy Ramalho foi anunciado logo após a reeleição de Eduardo Bandeira de Mello. O novo treinador chegou com a missão de corrigir todos os erros que o departamento de futebol cometeu ao longo do primeiro triênio da atual administração. Só de treinadores, oito nomes passaram pelo comando até então: Dorival Júnior, Jorginho, Mano Menezes, Jayme de Almeida, Ney Franco, Vanderlei Luxemburgo, Cristóvão e Oswaldo de Oliveira.
Em 2015, Vanderlei Luxemburgo não deu continuidade ao bom trabalho que fez em 2014, quando tirou o time da zona de rebaixamento do Brasileirão. No Estadual, mesmo com a chegada de reforços, a equipe não conseguiu manter o bom nível de atuações, e o empate sem gols com o Nova Iguaçu foi o retrato da crise. Depois, o time acabou eliminado pelo Vasco, o que enfraqueceu Luxemburgo. Foram apenas dois jogos com revés no Brasileiro, e o técnico acabou demitido. Saiu soltando os cachorros e dizendo que a diretoria não entendia nada de futebol. Algum tempo depois, a pasta teve a saída do vice Alexandre Wrobel.
O técnico Cristóvão veio como aposta em um perfil menos contestador. A relação com os dirigentes e com o elenco foi a melhor possível, mas, em campo, os resultados não apareceram. Depois de muitas críticas da torcida e vaias no Maracanã, o treinador não resistiu. Assumiu em seu lugar Oswaldo de Oliveira, mais experiente e com passado rubro-negro. O início foi avassalador. Seis vitórias no Brasileiro e empolgação mesmo com a eliminação na Copa do Brasil também para o grande rival Vasco. Só que a queda repentina de produção desgastou Oswaldo no fim do ano, e ele também foi fritado, até Muricy Ramalho virar a nova solução para a cadeira.
Apresentado imediatamente após a vitória de Bandeira, o treinador chegou como salvador da pátria. Ainda sem reforços de peso anunciados, ele será o responsável por corrigir os problemas do time. O principal deles, relacionado à defesa, que sofreu com a bola aérea. Outra missão de Muricy será monitorar o comportamento do elenco fora de campo. Em sua apresentação, ele já avisou que não será babá de jogador e que cobrará resultado.
Bandeira de novo
Eduardo Bandeira de Mello foi reeleito presidente do Flamengo para o triênio 2016-2018 e desbancou Wallim Vasconcellos e Cacau Cotta. A campanha foi morna e as propostas do presidente reeleito priorizaram o futebol, relacionando o êxito ao saneamento financeiro.
Os opositores tentaram desqualificar o comando de Bandeira no clube, especialmente no futebol. Wallim Vasconcellos anunciou um acordo com o técnico Jorge Sampaoli, mas o tiro saiu pela culatra com o próprio treinador negando o acerto. Cacau Cotta veio como franco atirador, criticou o modelo de gestão de um Conselho Gestor do Futebol, e anunciou que manteria Jayme de Almeida como treinador.
Bandeira acabou reeleito sem dificuldades e, além de um time mais forte, prometeu estruturar o Ninho do Urubu, alvo de críticas ao longo dos primeiros anos devido à interrupção das obras. Os dirigentes colocaram em pauta ainda a necessidade de um novo estádio ou a aquisição da concessão do Maracanã. O clube veio com orçamento de R$ 419 milhões para 2016, e a diretoria espera resultados na temporada.
Fonte: Extra
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