A história de Júnior: de filho de empresário a comentarista

Campeão mundial e brasileiro pelo Flamengo.

Titular da seleção da Copa de 1982.

Técnico do Corinthians por apenas duas semanas.

Cantor dono de um disco de platina!

Acredite, Júnior já foi tudo isso, mas sem querer. Se perguntasse para ele há pouco mais de 40 anos, o ex-lateral esquerdo e hoje comentarista da Globo diria que não tinha como sonho nada disso.

Leovegildo Lins da Gama Júnior, hoje com 61 anos, tem um perfil que foge do tradicional no mundo do futebol. Paraibano criado em Copacabana, filho de empresário e que só não se formou em administração por causa do futebol.

Futebol e Flamengo que entraram em sua vida meio que por acaso. Atleta amador de futebol de areia, seu sonho era mesmo ser veterinário. Ainda assim, quase foi contratado pelo Real Madrid e relatou por que só durou duas semanas no Corinthians, em 2003.

Veja abaixo, nas palavras do próprio Júnior, curiosidades sobre a vida de um dos principais laterais do futebol. Entre elas, por que ele ganhou o nome do pai se não era o primogênito.

Filho de empresário e irmãos atletas

Eu fui para o Rio com 5, 6 anos porque o meu pai era dono de uma fábrica de mosaico (azulejos e pisos) e depois ele foi para o Rio. O meu irmão mais novo chegou a jogar profissional na Portuguesa carioca, o mais velho jogou voleibol na seleção brasileira, jogou Pan-Americano, chegou a jogar nos EUA profissionalmente.

Jogou no Flamengo para agradar os familiares

Na verdade, eu não gostava de jogar futebol de campo porque as chuteiras me machucavam os pés, joguei muito tempo futebol de salão e não estava nem mais querendo jogar futebol. Eu estava fazendo vestibular. Foi quando um amigo do meu tio-avô, que era amigo do Bria do Flamengo, falou: “pô vamos lá treinar”. Eu não estava muito afim, eu fui mais para agradar os dois coroas, eu já tinha 19 anos

Sempre é aquela história de um dia você querer jogar futebol. Eu desde moleque gostaria, mas em questão de tudo que vinha acontecendo, eu nunca viajei muito nesta história, sempre fui pés no chão, eu venho de uma família de uma classe diferente de tudo o que é jogador de futebol. Sempre tive praticamente tudo o que quis, estudei em bons colégios. A única coisa que minha mãe, dona Wilma, disse, foi o seguinte: “tudo bem, você vai jogar, mas a escola é a prioridade”. Então, eu nunca me deixei muito por me levar por este entusiasmo. Claro, quando as coisas começaram a tomar uma dimensão e uma proporção, que eu poderia me tornar e viver do futebol, aí a coisa passou a ser completamente diferente. Passei a me dedicar muito mais como se fosse um profissional, porque eu joguei só um ano de categoria de base. No outro ano, eu fui para o profissional, e em dezembro de 74, eu já era campeão carioca e a revelação, então a minha vida deu uma reviravolta praticamente em um ano e meio.

Mas, eu tive uma formação diferente da maioria dos jogadores, isso para mim teve uma influência muito grande no meu comportamento e continua até hoje. Não tem mudança nenhuma. Não é porque eu consegui atingir e conquistar tudo o que eu conquistei na minha vida que eu tenho de mudar, muito pelo contrário. Eu tenho de me manter sempre nesta mesma posição, mostrando para os outros que podem fazer de tudo, podem conseguir tudo o que você quer, sem precisar puxar o tapete de ninguém, sem atropelar ninguém, deixar a humildade de lado.

O melhor para mim não é alguém dizer que eu fui um bom jogador e sim como eu sou exemplo para os torcedores. Isso é uma coisa que me deixa gratificado e eu, naturalmente, devo isso principalmente a minha formação familiar.

Júnior, o veterinário?

Fiz vestibular pra Veterinária e por muito pouco, eu não entrei aí quando eu comecei a jogar no Flamengo. Aí, eu fiz vestibular para Administração de Empresas, entrei na Cândido Mendes, uma faculdade tradicional aqui do Rio e acabei fazendo o curso até o segundo ano. Era o único curso que tinha condição de fazer por estar jogando, qualquer outro curso, que eu poderia fazer, era período integral. Para jogar futebol, tinha um certo limite de idade, para estudar, tinha a vida inteira.

Queria ser veterinário porque tenho afinidade por animal. Eu sempre tive cachorro, sou amante do Boxer, tive dois Boxers um com 11 e o outro com 13 anos. O trauma foi grande pela perda dos dois. A minha filha menor levou pra pegar um mini Maltês, é um cachorro mais doméstico, mais de casa, mas a minha raça preferida é Boxer.

Faculdade

Posso ter sido um privilegiado, mas eu não vejo este privilégio, pelo contrário, as pessoas não sabiam de onde eu vinha, o que eu fazia, qual era a formação que eu tinha, apenas eu me comportava como um deles. Eu fiz ginásio cientifico, preparação para a faculdade, sempre tive essa orientação dentro de casa, coisa que infelizmente a maioria dos colegas de profissão não tiveram essa oportunidade. Quem teve essa oportunidade naturalmente hoje está bem. Vou dar um exemplo do próprio Caio (Ribeiro, comentarista da Globo). Ele tem de uma formação de família, quer dizer, ele aprendeu naturalmente. A facilidade com o que a gente tem, mas isso não é muita virtude nossa, é uma virtude dos nossos pais, das pessoas que na verdade procuraram sempre nos orientar para que se não desse certo no futebol, você teria a possibilidade de se dar bem também em qualquer outra profissão.

O nome

É aquela história de nordestino, gente que vem de fora, mete o dedo e não sabe porque. Eu, mesmo com o irmão mais velho, que se chama Lino, quer dizer normalmente seria o filho primogênito, fui o segundo filho e terminei como Leovegildo. Leovegildo é o rei Visigodo, o rei da Antiga Grècia.

Família hoje

Eu tenho três filhos, o Rodrigo que é o mais velho, a Juliana e a Carolina. O Rodrigo entrou no futebol, foi campeão carioca de juniores em 2003, pelo Fluminense, depois jogou no Bangu, no América, esteve em Portugal e resolveu parar e estudar. A Juliana é formada em dança e é professora, coreógrafa, e a Carolina trabalha comigo na TV Globo, é estilista na área de esporte.

Real Madrid

Eu poderia ter ido para Europa antes de 82, tive uma sondagem do pessoal do Real Madrid depois do Mundialito do Uruguai em 81, mas naquela época não me entusiasmou muito esse negócio de ir embora. Jogava num clube que ganhava sempre, tinha um ótimo salário, tinha a minha família, então, não tinha a necessidade de ir para fora. Só fui embora depois de dois anos após a Copa de 82, já estava com 29 anos, consegui aproveitar bem, não somente a parte financeira, mas aprendi outra língua, tive a oportunidade de viver em outra sociedade (Itália), usufruí muito do extra campo, porque dentro de campo era uma coisa que eu sabia fazer. Hoje, vou em Torino, sou ídolo, vou em Pescara, sou ídolo. É o que eu falei, isso é o que vale mais, é a coisa mais importante que ficou.

Seleção de 82

Um prazer e um privilégio de ter participado daquela geração, não foi melhor que a de 70, porque em 70 tinha o Pelé. Se tirar o Pelé, acho que seria igual, mas com o Pelé é impossível, não tem jeito.

Vida de técnico e o prazer de ser comentarista

Eu encontrei o Platini, antes da Copa de 1998, em um jantar aqui no Rio de Janeiro e ele perguntou: ‘O que você está fazendo?’ Eu disse: ‘eu sou treinador do Flamengo’. Isso em 97, ele falou: ‘você está maluco’. Eu perguntei o porquê. Ele responde: ‘Você sabe que os caras não vão fazer nunca tudo aquilo que você fez, você vai pedir para fazer uma coisa, eles não vão conseguir fazer, você vai se irritar, vai se estressar’. E era uma coisa que estava começando a acontecer, exportando craques que hoje tem de montão aí. E eu vi que o ambiente não era o ambiente em que eu tinha vivido. O futebol está completamente deteriorado e isso me fez se afastar completamente. A minha última experiência dentro do futebol foi como diretor técnico do Flamengo em 2004. Mas eu pensei que conhecia o clube e não conhecia, só conheci quando eu fui dirigente, que tive que participar de todos os mecanismos e todos os movimentos que existem. Aí eu pensei: ‘não dá, isso aqui não é para mim, eu vou procurar outra coisa para fazer’. Já tinha começado essa história de comentarista desde 95 na TV Globo e já tinha uma experiência na Itália. Daí eu falei: ‘de repente isso aqui vai ser uma coisa que vai dar a possibilidade de fazer o que eu gosto, vou estar no meu ambiente e hoje, tenho o prazer de comentar jogo, os clubes. Estou sempre procurando me aprimorar, ver o que está acontecendo para justamente poder fazer a coisa direito.

Tiro curto no Corinthians

No Corinthians, me venderam um projeto que não era verdade, me contaram uma história que iria acontecer e a história nem ia acontecer, não ia acontecer porque não tinha grana, tinha um monte de coisa que não ia acontecer e eu só fui perceber isso depois. Então, as pessoas falaram: ‘pô o cara é maluco, amarelou’.

É duro quando você infelizmente vê a coisa depois de quando está dentro do processo. Eu gostaria ter tido essa possibilidade antes de aceitar, porque a primeira coisa que eu achei estranho foi quando eu estava discutindo valores. Fiz o pedido e eles aceitaram na hora. Eu conversei com o meu tio, que é advogado. Nós fizemos mais de 20 contratos na minha carreira e sempre houve negociação. Desta vez, no Corinthians, não houve negociação. Só depois eu fui entender o porquê, porque eles queriam um cara com credibilidade, com nome, para estar ali para aparar aquele raio todo.

Eu não falei nada, não posso dar para o Corinthians o que ele precisa de mim. Quando chegou o Campeonato Paulista, só não foi rebaixado pelo Grafite que fez aquele gol (pelo São Paulo). Foi aí as pessoas começaram a dizer que era um cara de visão. O futebol é bem simples, se você não tiver material humano, se você não conseguir pagar em dia, você não vai a lugar nenhum. Infelizmente, aconteceu isso, e eu passei como um cara que desistiu do Corinthians. Mas foi muito pelo contrário. Digo isso sempre: ‘se eu tivesse treinado o Corinthians em outro período, eu certamente estaria lá até hoje’. Não sei nem se como treinador, mas estaria trabalhando na instituição pela grandeza, pela dimensão, por tudo o que eu vi, por pouco tempo que eu passei lá. Só que na posição de treinador você não pode ficar aparando raio toda hora. Eu preferi sair para evitar realmente que tivesse consequência maiores. Muitos ex-colegas, que gostariam de ir para o meu cargo naquela época, começaram a falar um monte de besteira e depois tiveram que se retratar porque viram que não era nada disso. Na época, o presidente era o seu Alberto (Dualib), tinha o Citadini, estava o Andrés, o Edgar Simões, tinha o Moraci Santana, Jairo Leal. Eu fiquei duas semanas.
Ex-jogadores que viram comentarista

Para jornalista esportivo, acho que o cara tinha que fazer um curso de treinador e de arbitragem. Faz comunicação da mesma forma como de ex-jogadores também deveriam fazer. Para você falar de economia, para Miriam Leitão falar de economia, ela precisa ter o curso de economia. Para o Sardenberg falar de economia, William Waack, como eles falam, precisa estar preparado como eles estão preparados. Muita gente fala de futebol como uma coisa tão simples e quem esteve lá dentro do campo sabe que não é tão simples assim por uma série de coisas.

Agora, tem o erro de quem contrata, não dá para você ligar a televisão e vê os outros comendo o S, falando com concordância errada sem ter nenhuma preparação do que está acontecendo no mundo do futebol. Então, as pessoas que contratam deveriam fazer uma avaliação melhor em relação a isso.

Cantor

A carreira continua, mas sempre informalmente, mas o meu disco de Platina “Voa Canarinho” está lá pendurado na parede de casa com mais de 500 mil cópias, mais exatamente 726 mil.

Eu tenho um projeto aqui no Rio que é a Samba dá Sopa Junior. A gente faz de 15 em 15 dias. O que a gente arrecada, o couvert artístico, é o que as pessoas pagam. Tem sempre um convidado do samba, a gente destina a compra de alimentos para instituições, quer dizer, a música está sempre viva, não tem como fugir.

Fonte: UOL

Coluna do Flamengo

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  • Ídolo eterno... Quem dera ter você nesse nosso meio campo hein Vovô Garoto?!?!

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