A vaidade

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Tenho uma pergunta, das fáceis, pra fazer a vocês. O que é que vale mais do que dinheiro? E não vale responder que são as barras de ouro que o Silvio Santos distribuía no Show do Milhão. Tempo! Ok, já esperei demais, eu mesmo respondo. O que vale mais do que dinheiro são as vitórias do Flamengo. Um artigo de primeiríssima necessidade que muitas vezes, por um ainda inexplicável desequilíbrio entre oferta e demanda, torna-se escasso, provocando terríveis crises de abastecimento entre a culta e bem vestida, e não muito tolerante, torcida rubro-negra

Depois do Mengão sapecar um convincente 3 x 0 no dragão de papel Confiança e garantir sua presença na Segunda Fase da Copa do Brasil, é salutar e previdente pensar na escassez de vitórias justamente no momento em que não estamos sofrendo com a falta delas. Afinal, o Flamengo acaba de consignar a sua terceira vitória consecutiva e cavalga, com grande elegância, uma promissora série invicta que já se estende por 450 minutos, ou 5 jogos, como queira. Como nos ensinam os mais velhos, o dia de muito pode ser a véspera de pouco e as entressafras não tem hora certa pra começar.

Dada a sua natureza expansiva e folgazã, e ao seu talento inato para a festa, a torcida do Flamengo encontra uma certa dificuldade para pensar como a morigerada formiga da fábula. Não que ignoremos o valor do trabalho duro, da economia e da moderação, também prezamos essas caretices. Mas somos muito mais eficientes no papel da cigarra, que canta e desfruta sem pejo do bom da vida. Principalmente porque as vitórias do Flamengo tem a capacidade de trazer à superfície o que o torcedor tem de melhor.

Quando o Flamengo cumpre com as suas obrigações faz com que nos sintamos como se nós mesmos tivéssemos cumprido com as nossas. Parece muito com a sensação provocada pelos nossos filhos quando chegam em casa com notas boas no boletim. O mérito é todo dos pequenos, mas nós os pais, que no mais das vezes nem chegamos perto de um livro escolar, nos sentimos os grandes vencedores. Como dizia Sêneca, o Moço em suas Consolationes, “Tirai ao gênero humano a sua vaidade e a sua ambição, e acabarás de vez com os heróis e patriotas”. Sempre me tranquiliza saber que à luz da Escola Estoica a vaidade e a ambição também podem ser valores positivos.

Para o Flamengo, vencer ao Confiança se enquadrava na categoria ambição. Temos planos para a Copa do Brasil, nos agrada a ideia de chegar à Libertadores do ano que vem disputando tão somente 14 partidas e não as rebarbativas 38 que no Brasileiro são obrigatórias. Era preciso ganhar dos sergipanos para manter vivo nosso planejamento. Missão cumprida, parabéns aos envolvidos. Mas vejam como tudo muda de figura em relação ao nosso próximo compromisso.

O Flamengo, decididamente, não precisa de outro Campeonato Carioca, estamos fartos desses brinquedo. O que nos levará até Manaus para mais um rendez-vous com nossa baranga de fé (se já não bastassem seus muitos defeitos a bigoda agora marca encontros lá na casa do caralho) a motivação única será a vaidade. Vaidade que nada mais é do que a valorização que atribuímos à nossa própria aparência, ou quaisquer outras de nossas qualidades físicas, morais ou intelectuais, fundamentada no desejo de que tais qualidades sejam reconhecidas ou admiradas pelos outros.

Às favas com as convenções sociais, estamos entre amigos e podemos ser francos sobre nossas fraquezas. Estamos cagando pro Carioca, que já não está pagando nem o aluguel do Maracanã. Queremos ganhar da vasca por vaidade mesmo. Nos é extremamente desagradável, e um pouco incompreensível, a esdruxula condição de não sermos capazes ganhar dos nossos freguesões desde 2015. O jejum, a mini-escrita, são como o reverso da vaidade. Uma espécie de série desinvicta que nos envergonha. Mas que ao mesmo tempo provoca, ao menos no íntimo do torcedor, aquela ira santificada que só quem combate do lado certo conhece.

Seja pelo planejamento, seja pela ambição (formiga way of life) ou seja pela vaidade (cigarra style), Domingo essa palhaçada tem que acabar. Que a vasca prenda suas cabras, porque o bode do Mengão está solto. Vamos, Flamengo, vamos ser campeão, vamos Flamengo.

Mengão Sempre

Arthur Muhlenberg

Fonte: República Paz & Amor

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  • Eu não tenho como desistir do flamengo, seria desistir de mim mesmo. Ele quem me escolheu, estou preso a ele como preso a vida, se ela me deixar, morro. Como filho é o maior, o melhor, mas contra o time do fascínora mafioso, pode jogar futebol americano, pode ter expulsões, brigas, roubos mas principalmente a vitória.

  • Muhlemberg comanda véi… cara escreve muito.

    • Esse tem o talento.

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