Notícias

Faça amor, não faça a guerra

O empate com a vasca foi ruim pro Flamengo, sem atenuantes. A quebra do jejum de 600 minutos sem marcar gols é algo tão pequeno, tão mesquinho, tão oposto ao nosso fuderoso way of life, que o certo era nem ser citado por nós, os bem vestidos. Mas como a fase do Flamengo é tão terrível, as coisas ultimamente tem dado tão errado pro Mais Querido do Brasil que, por piedade, nos sentimos constrangidos a deixar passar essa gafe. Mas que esse tipo de nano comemoração pega mal pra quem tem nosso tamanho, ah, isso pega.

Nem vou falar da vasca porque a postura delas no jogo de ontem foi mais eloquente do que 200 mil blogueiros entupidos de café expresso e sem limite de palavras por texto poderiam dizer. Nossa baranga mimetizou as características mais evidentes de seu dirigente máximo, assumindo descaradamente que tornou-se um time pequeno, com objetivos pequenos, que apela pra violência mais abjeta, que só não foi punida como deveria porque a arbitragem do campeonato Carioca é notoriamente inidônea e comprometida com a vilania federativa.

Não consigo imaginar exemplo de decadência mais ilustrativo do que constatar que no time no qual já jogaram Tostão, Denner e Romário, o atual jogador símbolo vai a campo pra pegar no piru dos adversários. Morreu o outrora grande CR Vasco da Gama, respeitado por sua história e pela sua contribuição ao futebol mundial. Lamento o passamento, mas foi melhor assim. Estava sofrendo muito.

Hoje, enquanto pastava pelas redes sociais, encontrei até alguns torcedores entusiasmados pela atuação do Flamengo no clássico, o que considerei um exagero. Verdade que o Flamengo não perdeu, como nas últimas 3 partidas que disputou. Mas continua o mesmo, quadradinho, previsível e incapaz de agredir com contundência. E quando eu apertei os amigos felizes para que indicassem objetivamente o motivo do entusiasmo eles saíram pela tangente, dizendo que o time mostrou raça. Uma ova! O time está mostrando raça e suando a camisa há muito tempo, não há qualquer indício de corpo mole. O problema do time do Flamengo é com a bola e com mais ninguém.

Mas alguns luminares pertencentes às insuportáveis células rubro-negras da Tradição, Família e Propriedade, sempre predispostos ao tumulto e ao aplauso fácil, tentam há semanas vender a lorota de que nossos jogadores não se esforçam. Que não tem comprometimento, que não respeitam o Manto, entre outras platitudes morais e cívicas ruins de engolir pra quem tem já tem idade pra deixar de ser lobinho e virar escoteiro. A acusação de corpo mole não passa de uma grossa injustiça.

Se o mau comportamento de torcedores atrapalha o desempenho do time em campo não sou capaz de dizer, provavelmente não, os caras estão cagando pra faniquito de torcedor. Mas posso afirmar que me enche o saco tomar conhecimento de certas ideias de jerico amplamente propagadas nas redes sociais por quem tem mais tempo livre do que juízo. E o pior, os privilegiados cérebros por trás dessas iniciativas jumentas não hesitam um segundo sequer em afirmar que falam em nome da torcida do Flamengo.

Alto lá! Devagar com as auto-condecorações. Sabemos que, até por razões estatísticas, a torcida do Flamengo reúne, em termos absolutos, a maior quantidade de imbecis entre as torcidas de futebol. É um dos ônus por sermos a Maior do Mundo. Mas este dado estatístico não significa que todos os imbecis que torcem pelo Flamengo compartilham a mesma Weltanschauung*. Eu, por exemplo, sou daqueles imbecis que se recusa a participar de caçadas à mula-sem-cabeça, porque além do mitológico quadrúpede nunca ter me feito mal, eu tenho mais o que fazer na vida e a promoção de mimimi não paga as minhas contas.

É absolutamente louvável que esses mesmos torcedores que eu malhei nos últimos parágrafos encarnem com tanta intensidade a verdade absoluta do rubro-negrismo: o rubro-negro não aceita, não se acostuma e jamais aprenderá a perder. Isto é um sentimento bonito, porque é verdadeiro, vem da alma, do coração, e não do cérebro. Mas ao mesmo tempo, o mais revoltado dos rubro-negros sabe em seu íntimo que a vitória não ensina e esconde as deficiências. Enquanto as lições mais valiosas chegam quase sempre disfarçadas de derrotas.

O Flamengo só conseguirá ser o grande time que sonhamos e nos prometem há anos se for capaz de aprender com as derrotas. O que, convenhamos, é bem mais difícil fazer quando a corneta não para. Mas a corneta não serve de desculpa para o mau desempenho, pra jogar no Flamengo é indispensável resistir à pressão. Quem não aguenta que peça pra sair.

A verdade é que o Flamengo tem que melhorar muito e pra isso só existe um remédio, que não é demitir treinador, não é demitir jogador, não é demitir cartola, nem jogar fora após uma derrota o trabalho que começou há apenas 3 meses. O remédio para a cura do mal se chama tempo. Que é o fator determinante e indispensável para que se alcance a estabilidade. Esse time precisa de tempo para treinar, aprender a jogar junto e criar os laços de companheirismo e cumplicidade que são indispensáveis nas equipes vencedoras. Infelizmente, o nosso estoque de tempo é limitado.

Estamos pra começar o Brasileiro, seria extremamente positivo que, sem abrir mão da exigência das vitórias, das críticas construtivas e da corneta saudável, a torcida ajudasse no que fosse possível para que o time que temos, e que não acredito que vá mudar, conseguisse se acertar. Me desculpem a rabugice, continuo achando que a torcida do Flamengo é o centro do universo, mas provavelmente a maioria dos que lerão estas mal-traçadas não vai concordar comigo. Não tem problema, eu não quero ter a razão. Eu só quero ser Campeão do Brasileiro. #PAZ

Arthur Muhlenberg

Fonte: República Paz & Amor

Ver comentários

  • Esse cara escreve muito bem, pqp! Mas é verdade, não adianta ficar cornetando. Se no segundo turno do Brasileiro o time continuar claudicando, ainda assim acho que tem que esperar. Melhor ficar um ano, dois com o mesmo técnico. O Alex Fergusson não não ganhou título em todas as temporadas que disputou com MU. Calma, projeto de longo prazo.