Fritura, rixa com craques e acusações: ídolos sofreram como dirigentes do Fla

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Mozer tenta mudar histórico de ex-jogadores; Zico foi perseguido por conselheiro, Júnior, desrespeitado por vice, Gilmar teve relação controversa, e Zinho pediu o boné

As tais raízes rubro-negras tão valorizadas pela atual gestão do Flamengo, o ex-zagueiro Mozer, novo gerente de futebol, tem. Mas a combinação ídolo e cargo de diretor historicamente não é receita de sucesso na Gávea. Júnior, Zico, Zinho e Gilmar Rinaldi tiveram trabalhos breves à frente do futebol do Fla. Esbarraram em interferência de dirigentes amadores, conselheiros e, mesmo com toda a trajetória vencedora dentro do clube, acabaram questionados. Único do quarteto que não ostenta o status de ídolo, Gilmar foi quem mais durou no Flamengo e também quem acabou na mira da torcida, pela rixa com Romário e posteriormente por ter deixado o clube na condição de empresário dos jovens Juan, Reinaldo e Adriano.

Diretor executivo de junho e outubro de 2010, Zico aprovou o nome de Mozer, mas destacou que é preciso melhorar o nível do elenco. Além disso, disse que o novo gerente não entra em campo.

– Eu acho que pode ser positivo, principalmente pela experiência dele em relação a conhecimento do Flamengo, também pelo que vivenciou no tempo todo lá em Portugal, um cara que conheceu um outro conceito de administração do futebol. Trabalhou com treinadores do mais alto nível, foi técnico de clubes fora do Brasil. Isso dá uma maturidade. Dentro do que escutei, é um trabalho para fazer a ligação entre diretoria e jogador. É quase o que faz o técnico de futebol. E ele trabalhou com o Mourinho, né? Não tem nem o que falar (risos). Os jogadores estão correndo, lutando, não pode dizer que os caras estão devagar. A qualidade precisa melhorar para chegar à disputa do título. Para meio da tabela, tudo bem, mas para brigar por título tem que melhorar a qualidade. O Flamengo não tem um grande elenco – opinou.

Júnior, o atleta que mais vezes vestiu a camisa do Flamengo, foi diretor técnico do clube entre janeiro e dezembro de 2004. E, a exemplo de Zico, é outro a respaldar a contratação de Mozer.

– Inicialmente, para você exercer essa função, é preciso ter autonomia. Isso, para mim, é a coisa mais importante para tomar decisões. Claro que não está sozinho, e ele vai ter o Rodrigo Caetano ao lado para passar a ele o que naturalmente tem de ser passado. São só dois profissionais no departamento de futebol: ele e Rodrigo Caetano. O Mozer naturalmente terá que se adequar à filosofia. Mas, se não tiver autonomia, dificilmente consegue emplacar suas ideias. Personalidade ele tem. É cara inteligente, que sabe escutar, e isso é uma virtude. Escuta e filtra. Tem um profissional legal do lado dele, que é o Rodrigo Caetano. Tem o Jayme (de Almeida), que foi companheiro dele em outras funções. Há muita coisa que ele pode fazer. É um cara que sabe a dimensão de uma vitória e uma derrota para o Flamengo – afirmou o Capacete..

Confira perfis de ex-jogadores do Fla que passaram a diretores:

Gilmar Rinaldi (dezembro de 1998 a fevereiro de 2000)

Goleiro do Flamengo na conquista do Carioca de 1991 e no penta brasileiro, um ano depois, Gilmar voltou à Gávea com a vitória de Edmundo dos Santos Silva nas eleições presidenciais de 1998 e assumiu o cargo de superintende de futebol. Em 1999, tornou-se inimigo de Romário, estrela da companhia. O Baixinho dizia que tinha consigo uma liberação do departamento médico para não treinar nos dias posteriores aos jogos, algo que Rinaldi contestou. No fim do ano, após Romário ser flagrado na Festa da Uva, em Caxias do Sul, isso no mesmo dia em que o Fla foi eliminado do Brasileiro, Gilmar pediu sua cabeça. Ainda em dezembro, o camisa 11 acertou seu retorno ao arquirrival Vasco.

Gilmar ficou mais dois meses na Gávea e acabou demitido em fevereiro. No mesmo ano, já como agente Fifa, função que admitira em seu site exercer desde 1999, passou a representar os pratas da casa Juan, Adriano e Reinaldo. Os últimos, aliás, foram envolvidos em negociação por Vampeta. A transação fez Gilmar cair em desgraça com a torcida.

Júnior (diretor técnico entre janeiro e dezembro de 2004)

Júnior, também novato àquela época na função de diretor técnico, chegou ao clube quando foi formado o Fla Futebol. A inovação tinha no ídolo o responsável pela gerência do carro-chefe rubro-negro. Com ele, trabalhavam os profissionais José Maria Sobrinho, diretor executivo, Paulo César Pereira, assessor jurídico, e João Henrique Areias, do marketing. De acordo com o Capacete, acabou tendo sua atuação limitada por não permitir que vices influenciassem em seu trabalho. A contratação de Dimba, feita contra sua vontade num cenário de salários atrasados e com direito a adiantamento de R$ 1 milhão para o centroavante, foi o indício de que não permaneceria na Gávea por muito tempo.

– Problemas eu tive desde o inicio porque não deixava ter interferência no futebol. Aí quando os diretores sentiram que não conseguiriam dar palpite, contratar amigo de amigo, isso começou. Tem que saber dizer não. Eu tive problemas principalmente na contratação do Dimba, capitaneada pelo Artur Rocha. Tanto que na apresentação do Dimba eu não fui, porque não fui eu quem o contratou. Foi um diretor amador (Artur Rocha).

Júnior crê que a Mozer basta a verdade para triunfar como gerente e vê a reconstrução do departamento do futebol como uma repetição do que fora realizado 11 anos atrás.

– Não acredito que manche. Ele precisa dizer a verdade. Torcedor e jogador não gostam de mentirinha. Em 2004, se tivéssemos ganhado a Copa do Brasil, as coisas teriam dado uma guinada muito grande. Aquele modelo do Fla Futebol tinha tudo para dar certo, tanto que estão fazendo a mesma coisa quase 10 anos depois. O salto que estão dando hoje poderia ter sido dado lá em 2004.

Zico (diretor executivo de junho a outubro de 2010)

Zico teve passagem muito breve pela direção executiva do futebol rubro-negro. Durou quatro meses apenas e saiu por decisão pessoal. Questionado pelas contratações dos atacantes Val Baiano e Cristian Borja, teve como seu principal opositor o então presidente do Conselho Fiscal, Leonardo Ribeiro, o Capitão Léo. Léo tratava a parceria entre Flamengo e o CFZ de Zico, que consistia num intercâmbio entre as categorias de base dos clubes, como lesivo ao Fla. Acusou o Galinho e seus filhos Bruno e Júnior Coimbra de costurarem acordos prejudiciais ao clube.

Em uma carta publicada no seu site pessoal, Zico despediu-se dizendo: “Morreu no meu coração esse Flamengo de hoje que está representado por essas pessoas. Algumas delas que sequer conheço e atuam dentro do clube como se fossem os donos”.

Ainda sobre o ex-companheiro Mozer, Zico afirmou que o ex-zagueiro não tem como botar a bola para dentro, mas ressaltou o histórico vitorioso dentro da Gávea.

– Eu acho que é sempre bom ter alguém que venceu pelo clube, tem sempre alguma coisa positiva. O problema é que normalmente essas pessoas geram expectativa em demasia daquilo que você chega, em função daquilo que o cara conquistou. Todo mundo acha que vai chegar da noite para o dia e vai conquistar tudo. Tudo tem seu tempo, sua hora. Tem muito trabalho para fazer. É mais uma peça, pode tentar dar uma contribuição, mas quem decide é quem está dentro do campo.

Zinho (diretor de futebol de maio a dezembro de 2012)

Último ídolo a assumir funções gerenciais no Flamengo, Zinho tornou-se diretor de futebol do clube em maio de 2012, cargo que ocupou até dezembro do mesmo ano. De cara, encarou repetidos casos de indisciplina por parte de Ronaldinho Gaúcho, que deixou o Flamengo 19 dias após sua chegada. Depois de um fraternal encontro no dia da apresentação de Zinho, a relação da dupla estremeceu devido aos erros de R10 nos capítulos seguintes.

Resolveu não renovar com o clube tão logo que a atual gestão venceu as eleições de 2012. À época, o propuseram redução salarial e hierárquica. Deixaria de ser diretor de futebol e passaria a gerente, ficando subordinado a Paulo Pelaipe, contratado como executivo.

– Saio de cabeça erguida. Acho que fiz o meu trabalho, mostrei, tenho o reconhecimento dos torcedores na rua. Em respeito aos torcedores não aceitei essa nova função. Para a rua, para vocês (imprensa), continuaria com o mesmo comando e não exerceria a mesma função. Não ia ter a caneta para assinar. Fazendo o que vinha fazendo, a responsabilidade que assumi em momentos de crise, de dificuldade, acredito que no início do trabalho vocês e os torcedores me veriam da mesma forma – disse no ato de sua saída Zinho, atual auxiliar técnico do Vasco.

Fonte: GE

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