Se é verdade que o Flamengo finalizou mais, que prevaleceu no primeiro tempo, também não é possível dizer que o volume de chances criadas tenha sido capaz de tornar absurdo o resultado do Fla-Flu de Natal, ainda que o jogo pudesse ter outro desfecho. Afinal, o futebol pode ser um jogo decidido pela construção de jogadas, mas também pelo acúmulo de erros. No fim, após um jogo de poucas ousadias táticas e raros momentos de brilho técnico, o 2 a 1 premiou um Fluminense aplicado, dedicado e defensivamente mais sólido no segundo tempo. E puniu um Flamengo que abusou dos equívocos individuais graves.
A eterna busca tricolor por uma formação que lhe dê equilíbrio entre ataque e defesa pode não ter acabado. No Fla-Flu potiguar, o time demorou muito a conseguir incomodar o rival. Mas Levir Culpi pode ter encontrado um caminho com Douglas ao lado de Édson à frente dos zagueiros. Douglas, aliás, foi dos melhores jogadores do clássico, dando agilidade ao meio-campo tricolor. Desarmou e ajudou a conduzir o time à frente, mesmo em dificuldade para achar companheiros à altura na hora de criar jogadas. Gustavo Scarpa não foi bem ontem.
Mas, em especial a partir do intervalo, o Fluminense foi um time mais organizado na defesa. Dias antes, contra o Santos, fora desequilibrado sem a bola.
O mesmo Flamengo que apresentou alguns progressos, parece seguir com interrogações nesta sua caminhada de incertezas no Campeonato Brasileiro. Uma delas, saber qual a sua casa. Neste domingo foi Natal, na quarta-feira será Vitória. Sempre há torcida, mas não há, de fato, uma casa. Outra incerteza é a eterna dúvida sobre efetivar ou não seu treinador, contratar ou não um nome definitivo. Algo que parece retardar também a efetivação de um modelo de jogo. Zé Ricardo conseguiu organizar um time de bons momentos na primeira etapa. A entrada de Éderson, possível pela surpreendente decisão de poupar Éverton, dava ao Flamengo superioridade no meio-campo, já que o meia alternava entre o lado esquerdo e a busca do centro do campo para tentar trocar passes. Não era brilhante, longe disso. Mas criava um movimento diferente num duelo de dois times com sistemas de jogo muito similares. A substituição dele por Emerson Sheik, no intervalo, mudaria o panorama. Assim como a entrada de Mancuello, já com o placar de 2 a 1 para o Fluminense, devolveu articulação ao Flamengo, mas pareceu uma decisão tardia.
Possivelmente pelo plano original de jogo, no primeiro tempo o Flamengo criou as raras chances da partida. Alan Patrick perdeu duas ótimas oportunidades, ambas nascidas pelo lado direito, onde Marcelo Cirino levava vantagem.
A substituição rubro-negra e um Fluminense defensivamente melhor organizado equilibraram a balança do jogo na segunda etapa. E, claro, as circunstâncias do jogo acabaram por ajudar o time de Levir Culpi. Afinal, antes mesmo que esquemas fossem postos à prova, Willian Arão, ótimo nome do Flamengo em 2016, cabeceou contra o próprio gol uma bola oriunda de um escanteio.
Ficava claro que o Flamengo tentaria agredir e o tricolor, contra-atacar. É verdade que Diego Cavalieri poderia ter rebatido de outra forma, que Gum vacilou ao interceptar o rebote do goleiro, mas o empate do Flamengo surgiu no primeiro lance de envolvimento de um ataque sobre a defesa rival na segunda etapa. Foi após uma triangulação de Arão, Cirino e Guerrero que o atacante peruano empatou. Mas, do outro lado do campo, o Fluminense também teve suas oportunidades: Magno Alves andou perto do gol.
Levir apostou em Richarlison e Osvaldo, Zé Ricardo em Fernandinho. Havia mais rapidez e menos pensamento em campo. Com isso, menos chances reais. Até que Rafael Vaz deu a Richarlison a bola do gol da vitória do Fluminense. As lágrimas do jovem atacante, em seu primeiro gol no clube, foram a mais bela cena da tarde de Natal. Quis o destino que, 12 minutos depois, ele saísse machucado. Mas vitorioso.
Fonte: Carlos Eduardo Mansur
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