Gostaria de pedir aos distintos leitores apenas uma coisa antes de começar o blá-blá-blá: um pouco de distanciamento científico ao analisar, sem quaisquer preconceitos morais ou clubismo, a atuação do Flamengo na tabela do Campeonato Brasileiro 2016. Imaginem que vocês são como um zoólogo numa experiência de campo no habitat do seu objeto de estudo. Escolham uma pedra grande ou uma moita frondosa para se esconder e observem atentamente.
O Flamengo apenas parece estar em uma trajetória errática e sem destino definido. Mas ele sabe o que faz, sabe onde vai e está obedecendo aos comandos impressos em seu código genético. Comandos que buscam, primordialmente, a reprodução da espécie e, em um segundo plano, a transmissão das suas melhores características para a geração futura. Vejam, senhoras e senhores zoólogos, o Flamengo está executando, com a sua habitual elegância, e muito suingue, a dança do acasalamento com o G4. Um ritual decisivo para a reprodução de taças do Brasileiro, que o Flamengo já cria em sua discreta e bem vigiada sala de troféus lacustre desde 1980.
Notem que a dança do acasalamento do G4 é um ritual complexo, repleto de avanços e recuos, falsas ameaças de abordagem e negaceios forjados. O G4 abre as perninhas, se oferecendo. O Flamengo, macho-alfa, infla o peito e parte pra cima, babando. O G4 umedece-se, pronto para ser invadido. Mas o Flamengo é manhoso, arrecua seus halfes, finta e não chuta, e mesmo sob os gritos de toda a floresta, oculta-se atrás de insignificantes machos-beta para aumentar o desejo do G4 em recebe-lo em seu regaço.
Em uma linguagem um pouco mais agreste, o Flamengo está obviamente de sacanagem. Fica sarrando na portinha mas não entra no G4 nem à porrada. E não é porque sabe que é falta de educação frequentar aquele valhacouto de paraguaios antes do returno. É porque seus genes são fortes e a regra é clara: só vale a pena liderar campeonato na última rodada. A reprodução de Campeonatos Brasileiros é o oposto da reprodução sexuada, onde o primeiro espermatozoide a chegar no ovo fica com tudo. Em Brasileiros é justamente o último que chega lá que arrasta a mesa. O Flamengo já tem meia dúzia deles, todos nascidos de parto natural, sem fax, sabe bem como é que funciona o barato. Podem ir se preparando porque o as previsões são de que o Mengão continue no não fode nem sai de cima modeainda por algumas rodadas antes de partir efetivamente pra perfuração.
Agora chega de sexo, vamos falar de futebol. O Flamengo teve amplas condições de vencer o Santos. Jogou mais bola durante os 90 minutos da peleja, ainda que sem saber traduzir seu domínio em gols. O que é um mau sinal, domínio não enche barriga, queremos ver gol. E se o gol não saiu o mais não-culpado é o Guerrero. Putzgrila, como joga esse cara, o problema é que nem sempre vemos o que ele faz. A ultima jogada del Depredador foi espetacular, criou 3 chances de gol no mesmo lance, sempre tocando prum amigo bem colocado e com vários alemão em cima dele. Muito sinistro.
Mas nem a exasperante falta de gols afastou o Flamengo do perigo da precocidade. Em virtude da epidemia de flatulência que acomete os ocupantes provisórios do G4 ao verem o Mengão se aproximar pelo retrovisor, uma bizarra combinação de resultados quase coloca o Flamengo em maus lençóis.
Já pensou se o pusilânime apitador tivesse um ataque de testosterona, desse uma de macho, e apitasse o pênalti escandaloso, pornográfico, obsceno, impudico, devasso, imoral e libidinoso, cometido pelo cara dos Santos, praticamente abraçando uma bola cruzada dentro da área no último minuto do jogo? Se um lance com tamanho grau de licenciosidade fosse a favor dos marginais do Corinthians, que andam por aí quebrando ossos e estourando os músculos de companheiros de trabalho impunemente, era pênalti, expulsão e perda de 10 mandos de campo.
Mas, pênalti pro Flamengo? No Brasileiro? Já sabemos que só com atestado de óbito anexado em 3 vias. Mas mantenha a sua fé. Quando chegarem no Céu, os bons flamenguistas terão direito a bater todos os pênaltis não marcados a nosso favor. E se por acaso o goleiro pegar, o juiz, sempre um santo dos nossos, vai mandar repetir.
Pode comemorar o empate com placar em branco. Acredite, foi um jogo muito perigoso pro Flamengo. Por um triz não saímos da Arena Pantanal na liderança do campeonato. Felizmente tudo terminou bem. Deus me dibre ver o Flamengo passar por uma vergonha dessas. Já não tenho mais idade.
Na certeza de que dias melhores virão, por enquanto me aferro em uma singela oração:
Pai, foda-se o pênalti
Rumoal Épita
Amém
Arthur Muhlenberg
Fonte: República Paz & Amor