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“Elegância furtiva cheia de veneno”

Não está sendo fácil. Mesmo imerso na azáfama habitual do meu extenuante ganha-pão o Flamengo não tem me permitido um minuto de paz. Seus mais recentes feitos colocaram os povos da confederação arco-íris em alerta geral e incrementaram ainda mais a opressiva presença flamenga em todos os veículos de comunicação do país. Claro, além de não perder para ninguém e ganhar de todo mundo, o Flamengo também corrige distorções estatísticas e pulveriza tabus.

Houve tempo em que as vitórias do Flamengo sobre os coxas lá no Alto da Glória eram tão raras, tão raras, que rolava a lenda que cada vez que o Flamengo conseguisse triunfar em Coritiba o pau de seus torcedores cresceria 0,5 cm. Aqueles que foram capazes de sobreviver ao sexo degenerado dos anos 80 e às catástrofes da venda de Zico e da contratação de Ronaldinho Gaúcho descobriram na segunda década do século XXI, consternados, que a lenda não se baseava em fatos, não passava de wishful thinking. Porque depois de 2010 toda a hora a gente ganha desses buchas na casa deles e o amigo lá nem tchuns. Continua tudo na mesma, seja qual for a régua usada.

O que apenas comprova que o Coritiba, se é que um dia o foi, deixou de ser bicho-papão, ainda mais depois que virou mensalista na Z4. Não havia a menor condição do Flamengo, vivendo a plenitude daquele momento Sai da Frente, Pangaré! perder ponto pros caras. Mas com a bola rolando é que deu pra ver mesmo porque o Coritiba não sai da zona, porque é totalmente inofensivo. Mas quem disse que o Flamengo passeou? Foi aquele perrengue pra bola sair do meio e chegar no ataque. Mancuello e Alan Patrick precisam discutir a relação, parece que um intimida o outro e o jogo não flui. A despeito do amplo domínio e da humilhante posse de bola foram apenas duas ou três jogadas que deram certo no 1º tempo.

No 2º tempo Guerrero meteu logo um gol, o que foi, ao mesmo tempo, bom e ruim. Bom pela vantagem no placar, bom pros números do Guerrero, o cara que atualmente mais toma porrada no futebol sul-americano, e ruim pros nervos da massa de gente simples e sofrida que apoia o Mais Querido. Que teve então que suportar duzentos mil minutos em que o Flamengo saiu do jogo e deixou ao Coritiba todas as chances do mundo pra empatar a pelada. Foi desesperador, porque o Flamengo não passava do meio de campo e a bola acabava sempre com um deles, nunca com um dos nossos.

Na minha soberba de torcedor autossuficiente tenho certeza de que o Zé Ricardo substitui mal, privilegiando sempre a defesa em detrimento do ataque, o que caracteriza um distanciamento das nossas raízes mais profundas – o compromisso umbilical com a ofensividade de quem nasceu para o futebol metendo 16 x 1 no Mangueira. O jogo ficou ruim, só dava os caras, fui dar uma mijada e quando volto vejo o Cirino em campo. Desanimei. Porque sou idiota e não entendo absolutamente nada sobre substituições. Mas o Zé sabe.

Ele viu que enquanto os coxa nos apertavam deixaram um monte de espaços onde um contra ataque rápido e letal poderia dar números definitivos à peleja e tirar nosso saldo de gols do zero. E foram os caras que ele colocou em campo que assinaram nosso segundo gol. Cuellar meteu pro Cirino, que parecia impedido mas não estava, matar no peito e guardar depois de dar um corridão. Renasceu o menino Cirino, seja bem vindo. Tudo bem, o Zé sabe substituir e eu só falo groselha. Mas será que ele é capaz de nos explicar qual a necessidade do Flamengo jogar o 2º tempo inteiro na sufocolândia?

Enquanto ele não responde, regozijai-vos, mulambos. Podem aproveitar os efeitos sutis do Ácido Heptanóico sobre o seu sistema nervoso central. Nosso Flamengo está cumprindo com suas obrigações de maneira exemplar e isso não é viagem. Sem qualquer traço de oba-oba somos forçados a reconhecer a bela figura que nossa rapaziada está fazendo. É preciso que se registre que Rafael Vaz foi o destaque no nosso onze, veja você.

Como não elogiar a elegância furtiva do Mengão se aproximando, sorrateiro e irresistível, dos pangas do G4? O pânico já se instalou lá em cima e o bafo do Flamengo, mesmo se mantendo no sapatinho frenético, eriçou os pelos no cangote dos paraguaios, provocando reações esfincterianas causadoras da flatulência. Geral peidou. Nós já vimos esse filme antes, em 2009. É muito bom filme, eu gostei. E, mesmo sendo apenas uma lenda aquela história de 0,5 cm em Curitiba, minha mulher também gostou.

Mengão Sempre
Arthur Muhlenberg

Fonte: República Paz & Amor

Coluna do Flamengo

Ver comentários

  • Extraordinário! Esse maluco do Mulhenberg alegra a semana com sua coluna. Sabe mesclar a análise do time com acidez e bom humor num tom poético. Além de ter uma linguagem própria, é sempre surpreendente!

    Afinal, Alan e Mancuello precisam realmente 'discutir a relação' kkk, pq se não se aproximarem trocarem passes, a inoperância do caramujo impera.

    E realmente ninguém aguenta mais jogar o segundo tempo inteiro na 'sufocolândia'. Kkk

    Sensacional! Mais uma vez!

  • Muhlenberg sempre é muito bom ler os textos dele, tá de Parabéns como sempre!

  • A crônica do Muhlenberg é ótima, kkk, mas o que é esse último paragrafo??? Obra-Prima. SRN

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