Marcos Rogério Ricci Lopes é um daqueles jogadores que todo técnico gosta de ter no elenco. Joga em várias posições, pouco se lesiona e ainda comanda a resenha no vestiário. Talvez você não o conheça pelo nome, mas certamente pelo apelido.
Trata-se do lateral Pará, que foi revelado pelo Santo André e passou por Santos e Grêmio antes de chegar ao Flamengo, que defende desde janeiro do ano passado.
Dono de títulos importantes na carreira, como a Copa do Brasil de 2004, com o clube do ABC paulista, e a Libertadores de 2011 (entre outras taças), pelo Santos, ele está em busca de um sonho: levantar uma taça pelo clube carioca, seu time de coração desde a infância, na cidade de São João do Araguaia, no Pará, a 725km de Belém.
E, aos 30 anos, se diz pronto para morrer por esse sonho, se necessário.
“O maior sonho da minha vida é ser campeão brasileiro pelo Flamengo. Os caras que já ganharam, como o Everton, que foi campeão em 2009, me disseram que é coisa de louco. Eu sou rubro-negro doente, desde criança, e vou dar meu sangue pra isso virar realidade”, clama o ala, em entrevista ao ESPN.com.br.
“Comigo, nunca teve bola perdida, e nunca vai ter. Eu dou minha vida por esse time. Se precisar, eu morro em campo. Quero entrar de qualquer jeito pra história do Fla”, brada.
Assim como o restante do elenco rubro-negro, Pará vem uma crescente depois de um início de temporada ruim, ainda com Muricy Ramalho no comando. Atualmente, porém, vem jogando bem, e conquista seus companheiros com muita vibração em campo e até nos treinos.
Um lance que o marcou aconteceu na partida contra o Grêmio, que teve a estreia do meia Diego, no Mané Garrincha. O Fla vencia por 1 a 0 quando os gremistas chegaram com perigo, mas o lateral se recuperou no lance e mandou para fora, salvando o Fla. Pará vibrou tanto que chegou a ficar com as veias saltadas.
Segundo o experiente atleta, de 30 anos, o clube da Gávea vai longe sob o comando de Zé Ricardo, que assumiu no lugar de Muricy Ramalho e colocou o Flamengo na vice-liderança do Brasileirão, atrás apenas do Palmeiras.
“Passamos por um momento difícil no começo do ano, saindo cedo da Copa do Brasil e falhando na Primeira Liga e no Carioca. Isso nos abalou muito, mas a partir daí nós nos reunimos e fechamos. A gente disse: ‘Vamos colocar um ponto final aqui. A partir de hoje, vamos fazer uma nova história’. Só aí as coisas começaram a encaixar”, conta.
“O professor Zé Ricardo foi efetivado depois, e tenho certeza que em dois anos estará no topo dos técnicos brasileiros. Ele estuda e entende muito de futebol, não tem como dar errado. Ele pegou um grupo cascudo, com jogadores que já conquistaram de tudo na vida e de muita qualidade, e agora tem uma dor de cabeça boa pra colocar todos pra jogar”, acrescenta.
“Como ele conhece muito bem o jogo, faz as coisas da melhor maneira possível, e esse ano nosso torcedor pode ter certeza que vamos brigar até o fim pelo Brasileirão e pela Sul-Americana”, assegura.
Além da confiança de Zé Ricardo, Pará conquista cada vez mais os torcedores com sua irreverência, principalmente nas redes sociais. Em sua conta no Twitter, costuma dar respostas divertidas aos fãs, principalmente quando publica fotos.
No final de julho, por exemplo, postou uma foto comemorando vitória, mas sem sorrir, já que prefere ficar marcado pela cara séria. Em seguida, um internauta o interpelou: “Sua cara não está feliz”. O lateral foi rápido e rasteiro: “Quem vê cara não vê coração”.
Passando fome na cidade grande
Até realizar o sonho de jogar no time do coração, Pará passou por muitas dificuldades.
Antes de ser um “operário da bola”, foi operário de verdade na construção.
“Eu trabalhava como servente de pedreiro do meu pai lá no Pará. Batia laje, subia telha pra lá, telha pra cá… Era pesado o serviço, foi sofrido (risos)”, recorda.
“Nessa época, eu treinava numa escolinha, mas não levava o futebol a sério, porque na cidade não tinha opção nenhuma. Eu estudava e trabalhava, mas me destacava quando ia lá jogar, umas duas vezes por semana, quando dava pra conciliar com o serviço”, lembra.
Tudo começou a mudar quando olheiros viram talento em Pará e foram pedir a seus pais para levar o garoto a São Paulo, onde faria testes para tentar virar profissional. E assim o adolescente embarcou para a terra desconhecida, em busca de uma grande oportunidade.
“Viajei para fazer uma avaliação no São Paulo, mas não deu certo. E a partir daí só deu problema, porque o rapaz que me trouxe me largou em São Paulo sozinho. Eu, com 13 anos, perdido na cidade grande, sem saber o que fazer…”, relata.
Pará conheceu a fome, mas não iria desistir do futebol tão fácil.
“Eu fiquei numa pensão que custava R$ 56 por semana, mas não tinha nem como pagar isso. Não tinha nada pra comer, e passei muita necessidade nesses tempos. Passei fome. Ao mesmo tempo, meus pais me ligavam do Pará e perguntavam como eu estava, e eu respondia: ‘Tá tudo bem, tudo sob controle’. Do outro lado, minha barriga roncava (risos). Eu não queria assustá-los, então ficava só enrolando”, conta.
Depois de ficar abandonado na capital paulista, sem ter nem ideia do que fazer, o garoto faminto foi socorrido por um amigo, que o levou para o pequeno Barcelona Esportivo Capela, time da zona sul de São Paulo onde Diego Costa, hoje no Chelsea e na seleção espanhola, começou a carreira.
Foi lá que as coisas começaram a dar certo, mas não antes sem mais apertos.
Morando na guarita (e dormindo sentado)
“Chegamos no Barcelona e esse amigo explicou minha situação. Falou que eu não conhecia nada em São Paulo, que sonhava em jogar bola e não podia ficar parado na pensão, ainda mais sem dinheiro. Pediu pra eu ficar treinando por lá, e o presidente deixou, pedindo pra eu voltar no dia seguinte pra fazer um teste. Fui treinar e ele ainda me deu o dinheiro pra eu quitar o que estava devendo na pensão”, rememora.
A estrutura era parca, e o garoto se virou como pôde.
“Eles me colocaram pra jogar, mas não tinha alojamento nem nada. O presidente sugeriu: ‘Está vendo aquela guarita ali? É onde o guarda fica. De noite, ele vai fazer a ronda e você dorme na guarita, pode ser. Aí durante o dia vocês invertem’. Eu topei e assim a gente ficou (risos)”, relata.
“Fiquei um mês e meio, quase dois meses, desse jeito. Era ruim, viu… Eu tinha que dormir sentado, porque não tinha nem como esticar as pernas se deitasse. Sorte que depois o presidente comprou um sofá cama e aí melhorou (risos). Pelo menos dava pra esticar as pernas e descansar melhor”, completa.
“Levo isso pro resto da minha vida, e aprendi muito com esse pessoal. Eu agradeço demais sempre tudo o que eles fizeram por mim. Sempre que posso, vou lá dar uma assistência e uma moral, pois foi onde tudo começou”, revela.
Um ano se passou com Pará treinando no Barcelona e nada de uma grande chance aparecer. Descrente, pensou em voltar à sua terra natal e largar a bola.
“Cheguei para o presidente e falei: ‘Acho que não vou dar em nada, mesmo… Preciso voltar pra minha casa, estou com saudades dos meus pais. O senhor me dá o dinheiro da passagem?’. Eu ia desistir mesmo, foi pouco muito pouco. Aí ele me falou: ‘Espera mais 10 dias, porque eu vou organizar um quadrangular aqui entre a gente, o Santo André, o Taboão e a Portuguesa’. Eu topei, e parece que foi coisa de Deus”, recorda.
A partir daí, ele embalou de vez, e até de maneira cômica.
“O primeiro jogo foi Barcelona contra Santo André, vencemos por 1 a 0 e eu fui bem jogando de volante. Nosso treinador chegou pro presidente do Santo André e jogou a ideia: ‘E aí, o que achou do Pará?’. Ele respondeu: ‘Excelente jogador, mas na função dele já temos vários, e que estão aqui há mais tempo. O que eu estou precisando mesmo é de um lateral direito…’. Aí o treinador manda essa, sem nem falar comigo: ‘Então você precisa ver esse rapaz jogando de lateral!’ (risos)”, gargalha.
“O presidente do Santo André não acreditou no começo, perguntou se era sério, e o técnico continuou: ‘É um baita lateral, joga na esquerda e na direita, hoje só estava quebrando um galho de volante’. E eu nunca tinha jogado de lateral na vida (risos)”, diverte-se.
Com tantas boas recomendações, Pará foi chamado para disputar um jogo-treino no dia seguinte pelo Santo André. A pressão era grande, e o frio na barriga também.
“Peguei minha malinha e fui pro ‘Ramalhão’, pois tinha amistoso contra o Paulista, lá em Jundiaí. O técnico do Santo André me colocou de lateral e falou: ‘Moleque, se você for bm, a gente fica contigo. Caso contrário, vai embora e procura outro time’. Eu só falei: ‘Tudo bem…'” , conta.
Mas o destino queria mesmo que ele vingasse.
“Rapaz, eu comi a bola nesse jogo, corri que nem um louco. Atrás não passou nada, e, quando fui pro ataque, dei três cruzamentos na cabeça do centroavante, o moleque meteu as três pra dentro e ganhamos de 3 a 0. Com 15 do segundo tempo, o treinador me substituiu e falou pra eu ir direto assinar o contrato (risos)”, relata.
“Hoje eu dou risada, mas na hora me emocionei demais. Assim que pude, peguei o telefone e liguei pra eles pra contar tudo, eles choraram, eu chorei, choramos todos juntos (risos). Foi o pontapé inicial de tudo pra mim, em 2003”, acrescenta.
O amor por Santo André
Inicialmente colocado na equipe de juniores do “Ramalhão”, ele foi promovido aos profissionais no ano seguinte, e fez parte do elenco que conquistou a Copa do Brasil de maneira surpreendente, batendo justamente seu Flamengo na final, no Maracanã.
Ele não participou da decisão, mas foi para as ruas receber seus amigos.
“Quando eles chegaram no caminhão do Corpo de Bombeiros na cidade, eu pensei: ‘Um dia, vou ser campeão e chegar como esses caras'”, salienta.
No ano seguinte, com o técnico Sérgio Soares, virou titular e estourou durante a boa participação do Santo André na Série B. Destacou-se principalmente pela polivalência, atuando em várias posições e já chamando a atenção de diversos clubes grandes.
“No ‘Ramalhão’, só não joguei de goleiro! Fui lateral esquerdo, direito, volante e até camisa 10. O Marcelinho Carioca me elogiava bastante, e até fui quem dei o passe pro gol de número 500 da carreira dele, contra o Avaí, na Ressacada”, cita, com memória afiada.
Em 2008, transferiu-se para o Santos, time pelo qual seria duas vezes campeão do Paulista, uma da Copa do Brasil e uma da Libertadores, ao lado de Neymar, Ganso e outros. Jogaria ainda no Grêmio por dois anos antes de realizar seu sonho e ir para o Flamengo.
Apesar do coração rubro-negro, contudo, é em Santo André que Pará se sente em casa.
“A torcida do ‘Ramalhão’ se lembra até hoje de mim. Conquistei muita coisa boa lá, fomos campeões da Série A2, subimos para Série A do Brasileiro. Meu nome está na história lá, e sempre recebo muito carinho do pessoal. Falam que eu dava a vida pelo clube, mas aonde eu vou é assim: não tem bola perdida, e eu dou a vida dentro de campo. Eu caio, morro de cansaço, mas não tem tempo ruim. Sempre fui assim”, brada.
É no ABC paulista que o lateral vai morar depois de se aposentar, inclusive.
“A primeira coisa que faço quando chego em Santo André é ir na barraquinha de cachorro quente na frente do estádio. Os donos foram como pais pra mim. Eu morava debaixo da arquibancada do estádio, e todos os garotos iam visitar a família nos finais de semana, mas eu não podia, porque não tinha condição de ir pro Pará. Eu ficava quase sempre sozinho, e os donos da barraquinha me levavam na casa deles, na Vila Luzita, como se fosse da família”, emociona-se.
“Eles me davam almoço e me falavam: ‘Fica à vontade, filho’. Se eu estiver em Santo André, pode me encontrar lá, que eu sempre vou visitar. Não tem como esquecer esse pessoal, que me abraçou desde o início. Se hoje eu virei alguma coisa na vida, é por causa dessa turma. E pra você ter noção, sou tão apaixonado por Santo André que vou morar lá quando me aposentar”, decreta.
Enquanto isso não acontece, o objetivo é conquistar o Brasileirão pelo Flamengo, concretizando assim o sonho do garoto que saiu de São João do Araguaia para tentar a sorte no mundo da bola.
“Eu agradeço muito a Deus, à minha família e a todos esses amigos que eu fui fazendo por estarem do meu lado nas horas boas e nas ruins. Sou devoto de Nossa Senhora Aparecida e a única coisa que peço é que nada de ruim aconteça comigo, com meus colegas e meus adversários. Eu lembro sempre de tudo o que passei, e é por isso que procuro dar meu máximo em todo treino e todo jogo”, ressalta.
“Felizmente, depois de um começo difícil, agora as coisas estão acontecendo, está todo mundo me elogiando, o time está crescendo, e isso me deixa muito feliz. Preciso seguir trabalhando, pois vou fazer de tudo pra entrar pra história do Flamengo”, afirma.
“E espero no fim de ano desfilar também no caminhão dos Bombeiros”, encerra.
Fonte: ESPN
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Nunca critiquei esse guerreiro.
Eu nao consigo ainda acreditar que ele esteja jogando bem. Hauhahahahahaha
Não consegue ou não QUER? &;-D
Darei o sangue por esse time.
Farei de tudo pra entrar pra história.
É rapaziada, acho que está nascendo um novo ponto de referência no Fla. Em dezembro isso pode estar começando a acontecer.
Depois dessa história sofrida vou até pagar uma Stella pro Pará, o moleque merece. SRN
Chorei de rir aqui kkkk
Kkkkkkklkkkkkkkkkkkkkkkk mitou!
Diferente do MA, o pará foi muito contestado,mas vem jogando bem e fazendo muito pelo time, o contrário do MA.
Só pra não perder o costume daquela velha cutucada
Esse é um digno "sujeito homem"... &;-D
Joga muito o menino pará gente. SRN
Que grande história, vc merece essa reviravolta na sua vida Pará!
Uma história de vida muito bonita, precisamos desse "Espirito Guerrero" no Fla. Cara na boa, é para a gente pensar na vida...
Certamente Almir!
Jogadores assim que o flamengo gosta sangue nos olhos e com uma história de vida muita sofrida,torço muito que ele continue jogando esse bom futebol e é poucos laterais do Brasil como ele que levanta a cabeça pra cruzar.
As vezes eu acho que ele tem um extra-campo que complica ele, mas outro dia eu disse quando ele ainda estava sendo bem contestado "se ele quiser o Rodinei não entra", é um dos jogadores que sabemos que pode entregar mais....boa sorte pra ele, nos e o nosso mengo.