Foi uma guerra. O Flamengo foi mais consciente. Mesmo com um jogador a menos desde os 39 minutos do primeiro tempo, parecia que o time carioca tinha dois a mais. O Palmeiras, afobado, teve coração, garra. E Gabriel Jesus. Só graças a uma jogada individual do seu maior talento, o time de Cuca arrancou o gol salvador, que empatou o duelo em 1 a 1. A igualdade arrancada a fórceps manteve os palmeirenses em primeiro, com 48 pontos. Os cariocas seguem com um ponto a menos. O Campeonato Brasileiro segue imprevisível.
O técnico da Seleção, Tite, escolheu muito bem a partida que assistiu. Foi digna de uma final, tensa do primeiro até o último minuto. Jogo foi um teste para cardíacos.
“Jogo em casa, maior parte do jogo ficamos com um a mais, então estamos tristes (pelo empate). Não fizemos o melhor jogo. Em casa, não podemos perder pontos, ainda mais do jeito que foi hoje. Saio chateado pelas finalizações que eu errei, não vi meus companheiros em alguns lances.
“Todos sabem que não tenho vaidade para eu tentar marcar os gols, mas errei mesmo nas finalizações. Não pode acontecer. Agora é pensar no jogo de sábado, contra o Corinthians, que infelizmente não vou poder ir, suspenso. Prometi pra mim mesmo que ia parar de cobrar o juiz, mas no calor do jogo é complicado”, dizia, Gabriel Jesus, muito mais se desculpando, do que comemorando.
“A gente acabou tendo que adotar a estratégia que cabia no momento. Temos que comemorar o resultado, foi uma atuação de quem quer chegar longe na competição. Sobre a expulsão, não tenho que fazer comentários. O árbitro estava próximo ao lance. Já esperava uma troca no intervalo, mas aconteceu da expulsão antes.
“A opção pelo Diego foi porque entendi que precisávamos de velocidade do lado do campo. O Diego vem de uma sequência de cinco jogos, até mais do que esperado nesse reinício no futebol brasileiro. Foi um pensamento tático”, resumiu Zé Ricardo. O jovem treinador foi mais competente que Cuca. E ainda teve coragem, visão de tirar o ídolo, o jogador mais badalado, aos 40 minutos do primeiro tempo.
Gabriel Jesus e Zé Ricardo foram os dois principais personagens da partida. Cuca perdeu muito tempo fazendo teatro. O seu principal jogador, de 19 anos estava recuperado do rodízio de pancadas que recebeu no estádio gremista. Mas o treinador do líder do Brasileiro fez questão de criar um clima de mistério.
Afinal, Gabriel Jesus jogaria ou não?
Cuca desperdiçou a chance de praticar jogadas novas, com o time inteiro, inclusive Gabriel Jesus, para tentar superar o Flamengo. Mas o técnico preferiu um duelo psicológico. Optou por tentar deixar Zé Ricardo em dúvida, mesmo sabendo que o jovem jogador estaria em campo. O foi uma grande bobagem.
O Palmeiras foi absolutamente previsível. Entrou para pressionar a saída de bola. Tentou sufocar os cariocas. Só que o Flamengo havia decorado as vitórias palmeirenses na sua arena. E tratou de usar a tática para acabar com a pretensão dos paulistas. Zé Ricardo distribuiu muito bem seus jogadores. Duas linhas fixas e juntas de quatro e cinco atletas. O Palmeiras poderia tocar bola até o meio de campo. A partir daí, não tinha mais espaço, mais oxigênio para tentar qualquer coisa. Foi um trabalho estratégico esplêndido.
Além disso, o time carioca estava muito melhor psicologicamente. Mais racional, frio, calculista. O Palmeiras, não. Seus nervos estavam a flor da pele. Logo no início do jogo. Queria vencer a partida de qualquer maneira. Não se conformava em ser travado. Raivoso, parecia preso em uma rede. E quanto mais raiva, mais se enroscava.
No mundo moderno, quando uma equipe entra para atuar no 4-5-1, com todos marcando atrás da linha da bola, sem dar espaço na intermediária, há um antídoto. Triangulações pelas laterais do campo. As beiradas desmontam os melhores sistemas defensivos. Mas foi tudo o que o Palmeiras não fez. O time de Cuca forçou jogadas pelo meio. E cruzamentos aéreos. Foram 23 bolas jogadas a esmo na área carioca, demonstração de puro desespero.
Jean e Zé Roberto cortavam pelo meio. Deixavam as pontas abandonadas.
O goleiro Muralha não era exigido. O Palmeiras não chutava a gol. Porque o Flamengo não deixava. Mas neste duelo entre o líder e o vice-líder, um jogador de Zé Ricardo não teve sangue frio. Mário Araújo, sempre fica com a adrenalina descontrolada ao enfrentar seu ex-time, que o desprezou. E hoje, outra vez, não se controlou. Estava bem nos desarmes, mas cometeu três faltas dignas de cartão amarelo. Tomou dois e foi expulso, com justiça, aos 39 minutos do primeiro tempo.
Zé Ricardo teve visão e personalidade. Ele substituiu Diego por Cuéllar. O jovem treinador tinha convicção que seria muito melhor ter mais um atleta com poder de marcação do que um meia voltado para o ataque. Muitos técnicos veteranos pensariam dez vezes antes de mexer com Diego.
No intervalo, Cuca continuou sem perceber que o erro do Palmeiras estava em não usar os lados do campo. E trocou o volante Gabriel pelo atacante Barrios. Seria mais um jogador a atuar pelo meio, embolando a partida. O técnico seguia apostando em Dudu centralizado. Tchê Tchê e Moisés também pouco ajudavam ao ataque, anulados com a marcação por setor.
O Palmeiras seguia travado. Cuca trocou Roger Guedes por Cleiton Xavier, buscando um pouco mais de consciência nos lançamentos e troca de passes. Zé Ricardo tirou Gabriel, por cansaço, e colocou Alan Patrick, aos 16 minutos. 60 segundos depois, ele marcava contra seu ex-time. Recebeu excelente passe de Everton. Entrou nas costas de Zé Roberto. E chutou forte, sem chances para Jailson. 1 a 0, Flamengo.
Foi aí que o Palmeiras se desesperou de vez. Foi todo à frente. E passou a forçar jogadas pelo meio. Sem consciência. Só coração, raça, vibração. Tudo estava ficando complicado demais para os paulistas. Nervosos, irritados, afobados. Gabriel Jesus tomou o terceiro amarelo, por reclamação, e ganhou a suspensão. Não enfrentará o Corinthians, sábado.
O Flamengo ia arrancando a liderança do Palmeiras. Até que em uma jogada individual de sua principal estrela, o time de Cuca se salvou. Depois de um lateral cobrado por Moisés para a área, a bola foi afastada. Sobrou para Gabriel Jesus, ele cortou Pará, e bateu no canto direito de Muralha, indefensável. O jovem jogador comemorou com raiva. 1 a 1, aos 37 minutos.
O Palmeiras partiu de vez para o sufoco. Sem a menor coordenação. Só afobação. Bolas levantadas, chutes de qualquer maneira, falta de paz para uma tabela. Nem parecia que o Palmeiras tinha um jogador a mais. Taticamente, o líder do Brasileiro foi um desastre.
Ao final, o empate veio pela luta, pelo coração.
Não pela estratégia, pela razão.
O Flamengo saiu forte da arena palmeirense.
E Cuca precisa repensar.
Muito mais importante que o ‘teatro’.
Uma equipe precisa ter coordenação.
A afobação acaba com a qualidade de um time.
Há muitas lições para ser tirada deste 1 a 1.
Principalmente no Palestra Itália.
O Brasileiro de 2016 pode ter um líder isolado.
Mas está longe de ter o seu dono…
Fonte: Cosme Rimoli
Quem será que é esse tal de Mário Araújo
Se o futebol que a Palmirinha jogou ontem for o futebol que jogará o resto do campeonato, esse campeonato já é nosso… nunca vi um time depender de tanta bola aérea igual ontem… era só chuveirinho na área… parecia jogo de várzea… confundiram jogar por pressão com bumba-meu-boi…
SRN
Analise mais lúcida que eu vi, não porque puxou a sardinha pra o nosso lado mas sim por abordar todos os pontos da partida