Houve mais do que o cheirinho, mistura de brincadeira e exercício de fé que a torcida do Flamengo professa nesta caminhada do time no Brasileiro. Houve aromas diversos no 1 a 1 de ontem na Arena Palmeiras. Jogos de futebol são feitos de técnica, talento, estratégia. Mas foram tantos acontecimentos que fogem ao usual de um jogo que é até difícil perceber, de fato, não o cheiro, mas o sabor que fica do empate. Porque nem tudo que acontece num jogo é explicável.
Foi um bom ponto para o Flamengo? Provavelmente. Antes do jogo, não soava ruim. Mas quando Márcio Araújo foi expulso, pareceu ainda melhor. Ao surgir o gol de Alan Patrick, de forma inusitada, foi possível vislumbrar a vitória que, por fim, não veio. Ao restante do campeonato caberá esclarecer.
Por mais que um campeonato de pontos corridos dilua a emoção em 38 rodadas, que todos os jogos coloquem em jogo os mesmos três pontos à luz da matemática fria, há partidas que ganham tratamento de decisão. Para o bem e para o mal. Tanto podem mover os dois times na busca obsessiva pela vitória, quanto podem fazê-los cercarem-se de cuidados. Por 39 minutos, a preocupação em anular armas rivais inibia ousadias.
O Flamengo, que ameaçara impor seu jogo com mais elaboração no início, aos poucos se viu sem saída da defesa através do toque. Preocupados o tempo todo com a marcação a Jean e Zé Roberto, Éverton e Gabriel foram se tornando presenças menos habituais pelo centro do campo, onde tentariam criar surpresas para a defesa do Palmeiras. Ainda assim, um chute cruzado de Pará ameaçou o gol.
Do outro lado, um pouco mais de volume e raras sensações de gol. Algo precisaria ocorrer para alterar o panorama, o equilíbrio. A movimentação dos meias do Palmeiras ajudou. Foi sobrecarregando Márcio Araújo, que fez uma falta e levou cartão. Fez outra e, corretamente, não foi punido. Na terceira, foi expulso.
A primeira decisão importante da noite se oferecia a Zé Ricardo. Seria a carta de intenções rubro-negra para o restante da noite. Ele tirou Diego, em tese o jogador de retenção da bola, capaz de aliviar a pressão. Mais tarde, explicou que o meia não estava fisicamente 100%. Manteve Damião, possivelmente apostando que, via passes longos, o centroavante aguentasse a bola longe do gol.
Mas nem sempre é fácil explicar o futebol. Diante de um Palmeiras que voltara para o segundo tempo com Barrios, um centroavante, no lugar de um volante, Zé Ricardo decidiu aos 16 minutos lançar Alan Patrick. O tal meia, como era Diego. Seria uma admissão de erro? Nem tanto, porque o sacado não foi Damião, o centroavante que parecia fora de seu habitat natural vindo buscar a bola mais atrás. Saiu Gabriel. Ocorre que não há explicação tática — a única talvez seja a ausência de Zé Roberto de sua posição — ou conceito de futebol que explique um arremesso lateral do lado oposto encontrar Alan Patrick correndo, quase que no embalo de sua corrida da lateral para o campo, pós-substiuição, em condições de chutar a bola do até então improvável gol do Flamengo.
Vai entender o futebol. Ali desmoronou o Palmeiras; do outro lado, o Flamengo marcava de forma quase impecável. A tal ponto que já era justo questionar se não produzia muito pouco ofensivamente um líder do Brasileiro naquela circunstância do jogo. Tanto que outro lateral mexeria no jogo: resultou em rebote e em finalização de puro talento de Gabriel Jesus: 1 a 1. Que gosto fica para o Flamengo? Melhor mesmo esperar as 13 rodadas finais.
Fonte: O Globo | Carlos Eduardo Mansur
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