representantes do Rio de Janeiro fazem a melhor participação dos últimos anos no Campeonato Brasileiro, e o Vasco trilha seu caminho de volta à Série A. Mas não é só nos gramados que os times cariocas estão merecendo aplausos. Na véspera da reabertura do Maracanã para o jogão entre Flamengo e Corinthians, as pistas de outro ponto turístico da Cidade Maravilhosa, a Lagoa Rodrigo de Freitas, recebeu torcedores corredores dos quatro grandes, e também de América e Bangu. Na noite desse sábado, a Corrida das Torcidas reuniu cerca de dois mil atletas amadores que percorreram os 7,5km da Lagoa em clima de muita alegria.
– Primeira vez que faço essa prova, gostei muito. Dá uma motivação a mais correr representando o time do coração. Torcedor de verdade tem que vestir mesmo a camisa – comemorou Paulo Roberto, de 35 anos, que correu vestindo uniforme completo, com direito até a meião.
E ao menos na Lagoa a rivalidade ficou de lado. Tudo bem que teve corredor vascaíno fazendo força para cruzar a linha de chegada na frente do botafoguense, mas, no fim, o que prevaleceu mesmo foi a paz e a união entre todas as torcidas.
– A gente passa e brinca com os outros, muda a vibe só de corrida. A gente tem que resgatar esse espírito esportivo, essa amizade entre os grandes clubes do Rio – disse o estudante Cadu, de 20 anos, que passou pelo pórtico de chegada com a bandeira alvinegra nas mãos.
Mas quando a rivalidade está dentro de casa, fica um pouco mais difícil deixar as paixões clubísticas de lado. É o caso do casal Jennifer e Jorge. Juntos há seis anos, a vascaína e o rubro-negro só não se entendem quando o assunto é o time do filho de 2 anos.
– Rola uma competiçãozinha. Mas a gente se respeita acima de tudo, se alfineta às vezes. Estou super orgulhosa por representar o Vasco, dei meu máximo pelo meu time – disse ela.
– Passamos pela sede do Flamengo (na Gávea), senti cheirinho de hepta – retrucou o marido.
Certamente o clima durante a rodada vai ser animado na casa do casal. Além deles, muitas famílias marcaram presença na Corrida das Torcidas, como Jorge e Meiriele, pai e filha, ambos apaixonados pelo Fluminense.
– Corremos há três anos juntos, e o Flu é de família. Somos apaixonados pela corrida e pelo Fluminense e nessa prova conseguimos unir essas paixões – afirmou Meiriele.
O rubro-negro Roberto também levou todo mundo para correr. Vestindo o “manto” vermelho e preto, ele correu com os filhos, os pequenos Rayner e Ryan, e o afilhado Matheus.
– Eles estão começando agora, estão aumentando as distâncias progressivamente, foi a primeira de 7,5km. Nascemos com esse defeito de ser Flamengo, estamos acostumados a vencer. Vamos assistir ao jogo com aquele churrasquinho, como bons cariocas – disse Roberto.
Seguindo os passos do pai, o pequeno Rayner admite ser mais fã da bola do que das pistas, mas garante que vai continuar correndo.
– Prefiro jogar bola. Mas correr também é muito legal, gosto muito.
E os rubro-negros já podem comemorar, pois o time saiu na frente mesmo antes de voltar a pisar no Maraca. O Flamengo ficou com o troféu de maior número de inscritos – seguido por Vasco e Fluminense – e também o de melhor índice técnico – Fluminense ficou em segundo, e Botafogo em terceiro. Além disso, o vencedor da prova, Paulo Machado, é torcedor do “Mais querido”. Já a campeã entre as mulheres, a funcionária pública Brígida Anjos, de 41 anos, é tricolor.
– Gosto de correr, amo correr. Essa prova é diferente, a organização também é muito legal, e é meu time de coração, né – festejou.
Vitória dentro e fora das pistas
Mas nas corridas de rua, todos são vencedores, cada um com sua batalha pessoal. É o caso da tricolor Cristina Leôncio, de 56 anos, 39 deles como fumante. Há quatro anos o cigarro perdeu lugar para as corridas. Tudo começou quando ela sofreu uma forte arritmia cardíaca que a deixou no CTI. A partir daí decidiu fazer algo por sua saúde e, incentivada pelo namorado e a filha mais nova, decidiu caminhar. Hoje se diz “viciada” em correr e deixa até festas de lado para estar “em campo”.
– Meu namorado sempre me chamava para correr, e eu dizia que não tinha fôlego. Um dia passei mal, com uma arritmia cardíaca violentíssima e fui parar no CTI. Passado o susto, comecei a fazer caminhadas com minha filha caçula. No começo reclamava de dor nas costelas, mas fui superando e achando prazeroso. Hoje tenho uma outra qualidade de vida. Fui de fumante à atleta. E esta Corrida das Torcidas veio somar a paixão pelo meu time com a paixão pela saúde. É uma adrenalina muito gostosa. Tinha uma festa para ir, mas nem fui. Aqui já é uma festa – disse Cristina, exibindo o escudo do Fluminense tatuado no ombro.
E quem pensa que a corrida é um esporte para pessoas mais velhas, se engana. Aos 18 anos, o vascaíno Tacio Lemos foi o mais novo corredor da prova. Cheio de disposição, ele se conta que sua trajetória esportiva começou no futebol, mas alguns problemas o levaram para as corridas e hoje, como o próprio define, ele corre “por saúde e diversão”. E nada poderia ser mais divertido do que correr vestindo o manto do seu clube, o Vasco da Gama. Aliás, curiosamente, ele nasceu no ano em que o clube conquistou a Taça Libertadores e se enche de orgulho por isso.
– Infelizmente não tive a oportunidade de acompanhar ao vivo, mas sinto muito orgulho daquele ano maravilhoso na história do time. Creio que foi um dos momentos mais marcantes, aquele título sensacional na casa do adversário com jogadores especulares, como Leandro Donizete, Luisão, Juninho Pernambucano, Carlos Germano… – orgulha-se.
Na noite de sábado, os corredores fizeram sua parte na Lagoa. Agora é só sentar na arquibancada, ou mesmo no sofá, e torcer para o time do coração também mandar bem em campo.