Essa foi uma semana de profunda tristeza para o mundo do futebol. O acidente que ocorreu com o voo que levava jogadores, comissão técnica e dirigentes da Chapecoense, além de diversos jornalistas, deixou feridas em todas as pessoas envolvidas com o esporte, e que dificilmente serão cicatrizadas.
Em entrevista coletiva concedida na sala de imprensa do CT George Helal na tarde dessa quinta-feira (01), o diretor de futebol rubro-negro Rodrigo Caetano pediu a compreensão dos jornalistas presentes pela ausência de jogadores aos microfones nos últimos dias. Antes de qualquer pergunta ser feita, Caetano falou em nome de atletas, membros da comissão técnica e funcionários do clube sobre os tristes momentos vividos essa semana.
Diversas das vítimas da tragédia tiveram convivência próxima com o dirigente durante anos, seja durante a carreira de jogador ou do outro lado da vida futebolística.
Durante a conversa com os membros da imprensa presentes na entrevista, o diretor falou sobre as prováveis homenagens rubro-negras à Chapecoense na última rodada do Campeonato Brasileiro. A mudança do calendário também foi tema da entrevista, com comentários sobre o possível impacto nas férias do clube e no início da pré-temporada do Mais Querido.
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Veja os principais trechos:
Ausência de atletas nas coletivas
“Os jogadores não estão até em condição emocional para podermos seguir aquela rotina de coletivas. Peço a compreensão de vocês, porque vamos tentar, na semana que vem, retomar essa rotina, apesar de ser algo realmente muito difícil. Estou aqui também em nome de todo o departamento de futebol do clube, não só para lamentar, mas principalmente para registrar toda nossa solidariedade com todos os profissionais que, infelizmente, nos deixaram. Colegas de vocês, dos quais também me considero um colega, porque, na verdade, nossa profissão propicia isso. Um bom relacionamento entre nós. Profissionais que sempre exerceram com muita maestria sua profissão, ainda jovens, que considero amigos. Lamento demais, demais mesmo, porque isso é irrecuperável, principalmente para suas famílias. Sobre o pessoal da Chapecoense, particularmente tive a oportunidade de atuar, ainda como atleta, com o gerente de futebol de lá, o Cadu. Éramos muito amigos, nos falávamos constantemente. O próprio Caio, também tive a oportunidade de jogar com ele. Mais oito ou nove atletas que trabalharam comigo. Então, a cada dia que chegamos aqui, antes de começarmos nossa atividade, desejamos muito que tudo isso não fosse realidade. Estou aqui falando em nome dos atletas, manifestando esse pesar e, principalmente, nossa solidariedade, porque lá na Chapecoense não existiam apenas grandes profissonais, mas também grandes pessoas. Figuras humanas que construíram essa imagem da Chapecoense não somente por uma grande gestão, mas por trás de tudo isso estavam grandes personagens. Aqui também vai meu abraço carinhoso a todos os profissionais de imprensa que nos deixaram.”
Participação na Florida Cup
“Essa decisão nós não temos ainda. Temos um contrato lá, que prevê algum tipo de modificação em caso de força maior. E não há força maior do que essa. O que o Flamengo fez nesses dois dias foi readequar seu calendário em relação a 2016. De cumprir essa última partida, infelizmente com todo esse ambiente. Para 2017, a reapresentação será na data que for possível, respeitando os trinta dias de férias, e se por ventura não formos para a Florida Cup, faremos nossa preparação aqui em nosso novo Centro de Treinamento. Foi dessa forma que, pelo menos momentaneamente, ficou definido e vamos esperar para vermos se existe alguma possibilidade de conciliação. Aguardamos o calendário geral da CBF e da Conmebol também.”
Homenagens aos que se foram
“São singelas as homenagens, principalmente na sala de imprensa, mas justas. Pequenas em relação a toda essa tragédia. O que nós gostaríamos é que não precisássemos estar aqui hoje, porque ninguém tem condição de trabalhar. Ontem mesmo, quando reunimos nossos atletas para a retomada das atividades, foi um dia muito doloroso. Por isso mesmo, pedimos para que o presidente viesse aqui porque, como figura máxima do clube, talvez pudesse passar algum tipo de mensagem. Não só pelos dois rubro-negros, mas lamentamos também por todos os demais. Eu tinha uma relação bastante próxima com o Mário também. Em 2005, quando voltei para o Grêmio na condição de coordenador das categorias de base, ele era o diretor executivo do clube naquele ano. Ele iniciou o processo da retomada do Grêmio, que culminou naquela famosa Batalha dos Aflitos. Quando ele saiu, na metade do ano, ele mesmo posicionou ao presidente que não precisaria contratar nenhum outro profissional para a função e que deveria dar a mim a oportunidade. E eu ainda era um jovem, com 34 para 35 anos, com apenas dois anos desde que havia me retirado, e sempre que tive a oportunidade fiz um agradecimento em público a ele. Se eu for aqui relatar as inúmeras conversas com o Victorino que tive sobre futebol, um papo bom, vai se estender. Cada um desses profissionais de imprensa, e também da Chapecoense, têm histórias para contar. Se ficarmos falando aqui, eu que não vou conseguir seguir. Mas o Flamengo seguirá fazendo toda e qualquer homenagem para todos aqueles que lá representam não só o futebol de Santa Catarina ou do Rio de Janeiro, mas que passaram a representar o futebol do mundo. Nós vivemos essa rotina, vocês da imprensa e nós, então não dá para imaginar como todos nós não estamos. Nossas famílias também. São dias pelos quais não gostaria de estar tendo que passar e pesadelos que não gostaria de ter. Imagino o quanto não está multiplicado o sofrimento dessas famílias. No que depender do Flamengo nas homenagens, em ajudar a Chapecoense, a próxima gestão que o clube vai construir, e falo até na pessoa física, como hoje sou presidente da Associação dos Executivos no Brasil, estou à disposição para ajudar no que for possível.”
Homenagens em campo
“Certamente isso é algo que nosso departamento de marketing está estudando, e certamente assim o fará. Eu prefiriria aguardar por isso, pois eles ainda estão estudando. Ainda tem um pouco de tempo até a data do jogo e tem pessoas especializadas para isso. Confesso que eu não tenho condição de estar vendo isso.”
Partida entre Chapecoense e Atlético-MG
“Cada clube vai fazer sua avaliação. Claro que esse jogo tem um contexto totalmente diferenciado. O Flamengo segue sua rotina de tentar recuperar os cacos para tentarmos cumprir essa última rodada. Não tenho uma opinião formada sobre isso. Sabemos das dificuldades, pois ainda é tudo muito recente. Eu gostaria mesmo que aqui no Flamengo, talvez no ano que vem, passados esses dias que sucederam essa tragédia, com a Chapecoense já vislumbrando um futuro, que o Flamengo pudesse fazer um jogo ano que vem. Quem sabe até uma abertura de temporada. É algo a ser estudado. Mas, com relação ao jogo do Campeonato Brasileiro, é difícil ficar opinando sobre um jogo do qual não fazemos parte.”
Planejamento para 2017
“Ficou suspenso, sim. Até porque o mundo do futebol parou. Quem não se sente atingido em uma hora dessas é porque é realmente, extremamente insensível. Nos próximos dias a gente deve retomar isso. Ao falar sobre o planejamento para o futuro, precisamos olhar para o ano do Flamengo em 2016. Eu precisava fazer um agradecimento, independentemente dessa última rodada, que pode valer uma segunda colocação para o Flamengo, mas que perdeu muito de importância em tudo. Em relação a 2016, me resta aqui agradecer à comissão técnica, atletas e funcionários do Flamengo, pois foi um ano totalmente atípico. O que nós vivemos esse ano, com a equipe viajando desde janeiro até o início de novembro, convivendo fora do Rio de Janeiro, perdendo praticampente 47 sessões de treinamento, compromete demais. Foram 116 dias fora do Rio de Janeiro. Imaginem o quanto isso impacta no emocional dos atletas. No entanto, não tive um problema sequer de indisciplina ou de falta de comprometimento. E digo isso por todos nós, pois vou e retorno com os atletas, e permaneço com eles. Fui assim em todos os clubes e aqui não seria diferente. O quanto isso impacta em nossa vida pessoal e emocional durante todo esse período. Temos que valorizar e exaltar a campanha do Flamengo no Campeonato Brasileiro. Não iniciamos bem o ano, mas, conforme o planejamento, iríamos fazer investimentos na equipe no decorrer do período, pois era o que nosso orçamento previa, e, aqui no Flamengo, nós temos um rigor muito grande com relação a isso. Não fazemos nada que esteja fora do nosso orçamento. E conseguimos, no decorrer da campanha no Brasileiro, voltar a ser protagonistas. Lembrar que o Flamengo foi um dos clubes que não demitiu treinador, pois, lamentavelmente, o Muricy teve que nos deixar, e aqui nesse final de ano temos também um resultado do trabalho iniciado por ele. Faço questão de registrar isso. Uma figura ímpar, além de um grande técnico, e que o Zé Ricardo e o Jayme deram continuidade. Os números do Flamengo foram excelentes no Campeonato Brasileiro. Batemos um recorde de pontos em nossa história nos pontos corridos e, por detalhes e alguns outros motivos que fugiram do nosso controle, o título não veio esse ano. Mas tenho certeza que esses títulos estão muito mais próximos do que distantes. Houve aqui uma doação muito grande por parte de todos esses profissionais. Tivemos o dobro de quilometragem com relação a um Atlético-MG, que jogou na Libertadores, que um Fluminense, que atuou na Florida Cup, isso sem contar nossos adversários que estavam na parte de cima da tabela. Por tudo isso, gostaria de ressaltar o quanto esse grupo foi comprometido. Tivemos outros inúmeros avanços também. O número de lesões, que era algo que nos preocupava, com a aplicação do Centro de Excelência em Performance, tivemos apenas seis lesões musculares no ano, o que é um número baixíssimo para quem enfrentou essa maratona. Gostaria de estar falando de tudo isso com um outro semblante que não fosse o de lamentação. Mas faço isso só para que o torcedor reconheça o tanto que esses jogadores e que a comissão técnica fizeram. Aqui no país, lamentavelmente, só se exalta o campeão, e muitas das vezes também acoberta-se erros quando se é campeão, e se esquece muitas do segundo e terceiro lugar quando se analisa uma campanha. Mesma coisa de vocês serem julgados muitas vezes por não serem os primeiros ou segundos na audiência. Não quer dizer que não exista um bom trabalho. No nosso caso, acho que esses atletas são merecedores do reconhecimento do torcedor que, depois de tudo isso, teve sua autoestima resgatada. Isso a gente pode dizer, porque também viajei o Brasil inteiro e muito do que foi feito nos aeroportos e nos estádios foi resultado dessa sintonia entre os atletas e os torcedores. Eles se representados nesse grupo. Independentemente do jogo contra o Atlético-PR, que infelizmente teremos que cumprir, vale ressaltar a grande campanha no Campeonato Brasileiro, que vai ficar marcada apesar de não termos sido campeões.”
Manutenção da última rodada do Brasileiro
“É uma discussão muito ampla. Eu não tenho alçada para decidir isso, pois é uma decisão institucional. É algo que nós não conversamos. Eu sou profissional aqui do clube, tenho que seguir essa rotina de preparação para o último jogo baseado nas novas datas. Planejar o 2017 também, baseado no que o Flamengo conquistou, que foi a vaga na Libertadores, algo que não conseguíamos há algum tempo através do Campeonato Brasileiro. E não digo planejar a nível de mercado, pois isso está suspenso, mas sim com relação à programação e logística. Vale registrar que nós aqui, principalmente no meu cargo como executivo, somos definidos somente como alguém que atua no mercado, e isso vai muito além. Essa é só uma parte do meu trabalho. O motivo de estarmos nessa sensação extremamente ruim hoje, é porque minha função exige que eu lidere praticamente até 500 profissionais aqui no departamento de futebol entre atletas, comissão técnica e funcionários, então é duro quando acontece uma tragédia dessas. Se, por ventura, nosso vice-presidente não nos comunicar que haverá mudança, nós teremos que seguir aqui nos preparando para o jogo no dia 11 de dezembro.”
Atletas em fim de contrato
“Por mais que alguns já tivessem sua situação preparada para a partir do dia 5, o fato que gerou a mudança é inconteste. Nenhum dos nossos atletas e profissionais manifestou qualquer contrariedade a isso, porque o episódio tem uma magnitude tal que impede qualquer outro tipo de comentário. Em relação aos atletas que estão emprestados ou cujo vínculo está se encerrando, nosso planejamento sempre foi silencioso e interno. No momento em que nós tivermos uma decisão tomada em relação a cada um deles, vocês certamente ficarão sabendo, assim como foi com a situação do Juan, que estendeu seu vínculo. Nós já temos uma boa base montada, poucos atletas encerram seus contratos. Muito poucos dos que mais jogaram. Nossa intenção já foi tornada pública, que é a de contratar poucas peças e valorizar muito aqueles meninos formados na base, que têm grande talento, potencial, e que ficaram conosco praticamente um ano nessa ‘estufa’. Chegou a hora deles ocuparem um espaço de maior responsabilidade no próximo ano.”
Renovação do Juan e suspensão de Diego
“A renovação do Juan já era algo que estava construído, que seria uma prorrogação por mais um ano. O caso do Juan é especial. É um atleta que tem uma identificação muito grande com o clube, que só está no Flamengo porque quis voltar ao flamengo. Ele em momento algum privilegiou a questão financeira, nem nesse momento de renovação. Então ele segue, com a certeza de que ele pode nos dar o retorno técnico dentro de campo e muito fora de campo também, na questão de sua liderança positiva, por ser um exemplo. No Flamengo, pensamos muito nisso. Com o passar dos anos, nosso elenco cada vez mais integra jogadores com esse perfil. É um cuidado que temos na hora de trazer e fazer permanecer. Talvez, no final de 2017, haja um outro plano para o Juan seguir no Flamengo e, principalmente, respeitando o desejo dele e sua futura qualificação. O que vai definir a saída antecipada ou não será a outra sexta-feira (09), pois treinaremos até lá com todos os atletas. Aqueles que estiverem relacionados para o jogo contra o Atlético-PR irão conosco para Curitiba e os demais automaticamente estarão liberados. Não houve pedido nosso para que todos continuassem e nem por parte deles para que fossem liberados. Isso mostra o profissionalismo de cada um e o quanto eles estiveram a todo tempo comprometidos com o clube e como estarão assim até o final.”
Fonte: Flamengo Oficial