Lembrança de tragédia aérea, polêmica com mãe e ator-jogador; o filme de Guerrero

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Nesta quinta-feira, nos cinemas peruanos, a infância de um dos maiores jogadores de futebol da história do país estará nas telas de cinema. O atacante do Flamengo está em Lima exclusivamente para participar do lançamento de sua cinebiografia.

“Quando eu sonhava em ser jogador de futebol, não existia este tipo de coisas, como um jogador ter um filme. Na verdade nunca pensei em ser tema de filme, nunca foi planejado. Para mim é um sonho realizado, me sinto orgulhoso e com muita ansiedade para a estreia”, falou o jogador de 32 anos.

“Foi algo inesperado. Miguel Valladares (gerente geral da produtora Tondero) me propôs, creio que de uma forma graciosa. Rapidamente lhe respondi que de maneira alguma, mas quando falamos já mais sério, e ele me disse que seria como uma mensagem, que as crianças veriam meu crescimento, e como um conselho para os pais. Gostei da ideia por isso, fui consciente que meus seguidores, mais do que nunca, são as crianças”, explicou.

A data da estreia, 8 de dezembro, foi escolhida por Paolo.

Há 29 anos, José González “Caíco” Ganoza – goleiro e tio do jogador- morreu no desastre aéreo que vitimou 43 pessoas. O avião que levava o Alianza Lima de volta à capital após um jogo do campeonato local caiu no Oceano Pacífico, quando já estava nas imediações do aeroporto Jorge Chávez.

O lançamento é, assim, uma forma de Guerrero homenagear um de seus heróis.

Assista abaixo ao teaser oficial do filme

Por causa dessa tragédia, Guerrero sustenta até hoje o medo de voar.

No filme, o pequeno Paolo é interpretado por Rony Shapiama, um menino de dez anos fã do atacante e que bateu outros três mil candidatos em um reality show. “Quero ser como ele”, admitiu.

O jovem ator contou em entrevista junto ao atacante ao canal Panamericana Televisión como foi o primeiro encontro. “Ele estava se escondendo, e eu não acreditava que era ele. Depois ele apareceu de novo e disse: ‘Rony?'”, relembrou.

Ao site Trome, o menino diz não saber por que foi o selecionado para interpretar o ídolo. “Não sei bem. No casting me pediram para dominar a bola, e fiz”, revelou. Agora, Rony Shapiama quer seguir nas duas frentes: “Eu sempre quis ser jogador, mas gostei disso de atuação, ainda que às vezes me dê um pouco de nervosismo. Mas já decidi que seguirei as duas carreiras”.

Guerrero também vê muitas semelhanças entre o jovem – a quem trouxe ao Brasil em setembro para conhecer o Rio de Janeiro – e ele: “Praticamente em tudo. Tem esse brilho nos olhos, é muito alegre, travesso, acredito que até mais travesso que eu. Às vezes tem seus momentos sérios, eu também sou assim, me vejo muito refletido nele”.

“Quando terminamos de gravar, houve um jantar em minha casa e nos colocamos a jogar futebol, e ele gosta, seu sonho é ser um jogador profissional”, disse o atacante.

No reality show que escolheu o jovem Paolo, uma das juradas era a mãe do flamenguista, Doña Peta. Ela tem um papel preponderante na infância do filho e é interpretada no filme por Magdyel Ugaz.

No entanto, a escolha rendeu polêmica no Peru: a atriz teve o rosto pintado de negro para desempenhar o papel. As críticas recaíram sobre a produtora, como expressou, por exemplo, a jornalista Melissa Eyzaguirre na revista Caretas: “Uma visão que minimiza e desvaloriza a qualidade dos atores afroperuanos. Uma visão danosa, em suma”.

“O blackface faz referencia à maquiagem teatral que utilizavam os brancos do sul estadounidense para encarnar personagens negros. Em 1960, a onda do movimento dos direitos civis conseguiu proibir a maquiagem racista nos teatros norte-americanos”, lembrou a jornalista.

“Se você é um ator de cor escura, por mais capacidade que tenha, não vai poder chegar a ter os papéis de protagonistas. Sempre haverá uma pessoa de cor mais clara que consegue”, concluiu.

Magdyel Ugaz afirmou ao jornal El Comercio que é “válido levantar a voz”, mas pediu uma chance para mostrar seu trabalho. “No caso do filme ‘Guerrero’, creio que (a crítica) é apressada. É injusto que digam que o filme discrimina quando ainda não viram o trabalho que fizemos”, declarou a atriz.

“Me parece um tema importante do qual se tem que falar. Mas Peta também é uma mulher forte, que é de bairro e tem humor, e esses são temas importantes que tinham que reflexionar no filme. São características que tiveram prioridade na hora de escolher a atriz. Mas tampouco se pode fazer-se de surdo”, admitiu a atriz.

O diretor de ‘Guerrero’ é Fernando Villarán, um dos mais principais cineastas peruanos que ganhou destaque com o filme ‘Viejos amigos’, também tendo o futebol como tema.