O governo do Rio decidiu prorrogar até o dia 6 de janeiro o funcionamento da comissão que vai analisar o novo consórcio. Inicialmente, o órgão, que é formado por cinco indicados pela Casa Civil, deveria concluir o trabalho até a próxima sexta-feira (23).
Dois grupos negociam a compra da participação da Odebrecht (95%) no consórcio que opera o estádio. A comissão avaliará o vencedor apontado pela empreiteira.
Um dos grupos é liderado pela brasileira Golden Goal e tem parceiros como a CSM, a Amsterdam Arena e a GL Events e teria o Flamengo como âncora. O outro tem como sócio principal a Lagardère, que administra dezenas de estádios pelo mundo. A empresa se associou no negócio à BWA, que cuida da gestão do Castelão, em Fortaleza. Os valores das duas propostas são mantidos em sigilo.
Nesta quarta-feira (21), os dois grupos entregaram as documentações na Casa Civil e foram homologadas.
De acordo com o decreto que criou a comissão, o órgão terá que comprovar a capacidade técnica, idoneidade financeira e a regularidade jurídica e fiscal do novo grupo.
A venda da participação da Odebrecht ao Maracanã foi uma solução encontrada pelo governo para acelerar a entrada de um novo administrador. Caso contrário, uma nova licitação teria que ser feita, o que adiaria em quase um ano a escolha de uma nova empresa para gerir o estádio.
Em outubro, o consórcio formado pela Odebrecht (95%) e pela AEG (5%) entrou com um pedido de arbitragem na FGV (Fundação Getúlio Vargas) para devolver o Maracanã ao governo do Rio.
Investigada pela Lava Jato, a empresa alega um prejuízo acumulado de R$ 173 milhões no Maracanã.
O governo não quer receber o estádio. O Rio atravessa uma das maiores crises econômicas da sua história. Em junho, decretou estado de calamidade pública em função da situação de suas finanças. Salários dos funcionários públicos estão atrasados.
A venda da participação da Odebrecht no Maracanã diretamente para outra empresa é criticada por políticos.
“A Odebrecht envolvida em escândalos de corrupção, o ex-governador Sérgio Cabral preso e [o governador Luiz Fernando] Pezão dá ‘ok’ para a empreiteira decidir o futuro do Maracanã? Não pode”, diz o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL).
Após a Odebrecht indicar a sua substituta e a comissão do governo aprovar o negócio no início de janeiro, a empreiteira baiana vai ter quase um mês para repassar juridicamente o Maracanã.
Depois de gastar mais de R$ 1,2 bilhão para reformar o Maracanã, o governo do Rio não recebeu nenhum dinheiro pela privatização do estádio. Pelo acordo firmado em 2013 e válido por 35 anos, o consórcio vencedor teria que pagar a outorga de R$ 5,5 milhões em janeiro deste ano, mas nunca o fez.
DUAS FRENTES
Na última terça-feira (20), a FGV ganhou mais 45 dias para preparar o novo edital para o Maracanã.
A prorrogação foi feita pelo governo, que quer dar mais tempo para a instituição preparar um novo modelo.
A Odebrecht alega que a operação do Maracanã foi inviabilizada economicamente pela proibição da derrubada do Parque Aquático Júlio Delamare e do Estádio Célio de Barros definida pelo governo do Rio após a conclusão da licitação. O grupo pretendia erguer um centro comercial e estacionamentos para tornar o empreendimento mais rentável financeiramente.
Fonte: Folha de São Paulo