O Flamengo conquistou nesta terça-feira seu 42º título estadual, sendo o 12º consecutivo. A final seria contra seu maior rival, o Vasco. Seria. Mas, por uma decisão do presidente Eurico Miranda, que alegou questões de segurança, o time da Colina não compareceu ao ginásio do Tijuca Tênis Clube, e o Rubro-Negro foi declarado vencedor por W.O., garantindo seu caneco. Apesar da festa da torcida e dos jogadores, o gostinho de levantar uma taça sem jogar foi bem diferente. Diante da situação inusitada e de outros problemas referentes a locais de jogo que aconteceram durante o torneio, o vice-presidente de Esportes Olímpicos da equipe da Gávea, Alexandre Póvoa, se mostrou um tanto quanto chateado e afirmou que, em 2017, se continuar no cargo, deverá recomendar o uso de uma equipe das categorias de base nessa competição.
Para o dirigente, o Flamengo chegou a um nível alto no basquete – levou seis vezes o título brasileiro, venceu a Liga das Américas e ainda foi campeão mundial – e, por isso, não pode se “rebaixar” para jogar o Estadual. Alexandre Póvoa lembrou ainda que, por pouco, o Rubro-Negro não abandonou a disputa do campeonato nessa temporada.
– O Flamengo só continuou jogando porque respeita acordos. E existe um acordo com o NBB de que se houver um Estadual, é preciso jogar. É um acordo entre nós. Ameaçamos não jogar o segundo jogo (da final contra o Vasco) em São Januário, mas jogamos porque respeitamos acordos. Ano que vem não sei se vou estar aqui, mas a minha recomendação vai ser para o Flamengo jogar com um time sub-20 ou sub-19. Com todo respeito ao Estadual, mas para participar do jeito que foi, esquece. Não agrega muito. Se fosse no Maracanãzinho, com duas torcidas, tudo bem, vamos jogar, é legal. Mas assim não dá, com torcida única, tensão, discussão… O Flamengo chegou em um nível em que não dá para recuar, não dá para voltar atrás e não vai se rebaixar – comentou.
O dirigente diz até mesmo que concorda com o Vasco da Gama quanto a ter ginásios no Rio de Janeiro com preços acessíveis para que as equipes possam jogar onde as torcidas dos dois times envolvidos tenham condições de assistir com segurança. Ele lamenta, por exemplo, que a cidade tenha atualmente diversas arenas olímpicas que não puderam ser utilizadas para a série melhor de três da decisão do Estadual e para outras partidas da competição.
– Você tem hoje cinco arenas olímpicas, sendo quatro fechadas. O Maracanãzinho nós tentamos para a final do Estadual e não conseguimos, porque tem que levar tabela, placar, tudo… É uma coisa de maluco. Investem dinheiro público e, na hora em que os clubes da cidade poderiam usar, ninguém sabe quem é o dono, não se pode usar. Na Arena da Barra, a única arena aberta, é um custo inacessível para um jogo de basquete. Tentamos uma arena nossa durante quatro anos, e ela só foi liberada na segunda-feira. Não usa dinheiro público, talvez por isso tenhamos conseguido liberar. Até aí eu concordo com o Vasco. Eu concordo até a página 5 – falou, lembrando que o Flamengo conseguiu a licença final da Prefeitura para iniciar a construção de uma Arena Multiuso na Gávea, que será a casa fixa do basquete.
Alexandre Póvoa adotou um tom mais duro ao falar sobre a decisão de Eurico Miranda de não mandar sua equipe para o terceiro jogo da final contra o Flamengo, no Tijuca Tênis Clube, acarretando em vitória rubro-negra por W.O. Mas não foi só isso. Ele falou também em desrespeito do time da Colina em relação aos jogos anteriores. Segundo o vice-presidente de Esportes Olímpicos da equipe da Gávea, o rival teria sido incoerente com sua posição.
– Tivemos dois jogos no Tijuca com torcida única. Discordo, mas já que não se tem um ginásio onde dá para as duas torcidas jogarem, tem que ser assim. Conseguimos uma liminar para jogar com torcida na Gávea no primeiro jogo da série. Mas, por respeito e pela segurança do Vasco, foi com portões fechados. Qual não foi nossa surpresa quando, no dia seguinte, o Vasco marcou o segundo jogo para São Januário? Ou seja, o Vasco fala em falta de segurança no Tijuca, mas marca um jogo para lá? Eles chegaram a vender ingresso, mas os bombeiros proibiram jogo com torcida. É uma falta de coerência muito grande. Por que não teve o último jogo no Tijuca? Talvez depois de a gente ter recuperado nossos jogadores (de lesões), eles tivessem algum receio de jogar conosco em uma final transmitida para o Brasil inteiro. Mas, paciência, não é problema nosso, é do Vasco. Ganhamos pela 12ª vez seguida. O Vasco tem razão até a página 5. A partir da página 6, eu questiono. Acho que tem outros motivos – opinou Alexandre Póvoa.
Presidente da Federação de Basquete do Rio de Janeiro (Fberj), Álvaro Lionides disse que, ainda que o Vasco da Gama tenha comunicado em uma nota oficial na tarde desta terça-feira sobre sua ausência, arcando com as consequências desse fato, caberá ao Tribunal da modalidade decidir se haverá punição à equipe de São Januário.
– Agora tem a súmula, o relatório do árbitro e o relatório do delegado, que vamos encaminhar ao Tribunal (do basquete) – finalizou.
ENTENDA MELHOR A SITUAÇÃO
O presidente Eurico Miranda enviou um ofício à Federação de Basquete do Estado do Rio de Janeiro na última sexta-feira avisando que o Vasco da Gama não disputaria o terceiro jogo da final do Estadual de basquete do Rio de Janeiro caso ele ocorresse mesmo no ginásio do Tijuca Tênis Clube, local indicado pelo rival Flamengo, mandante do confronto. Nesta terça-feira, o dirigente mandou uma nova nota ao presidente da Fberj, Álvaro Lionides, batendo o pé sobre a posição vascaína. E ele cumpriu sua palavra.
O presidente do Vasco da Gama demonstrou estar preocupado com a segurança no ginásio do Tijuca, visto que, no primeiro duelo entre as duas equipes ainda pelo primeiro turno do Estadual, também com torcida única, houve briga entre torcedores rubro-negros nas arquibancadas, necessidade de intervenção da Polícia Militar e até mesmo uma paralisação da partida, que durou cerca de 15 minutos. Na ocasião, o time da Colina venceu pelo placar de 82 a 77.
Na última quinta-feira, flamenguistas de duas torcidas organizadas entraram em confronto nas ruas do bairro da Zona Norte após a vitória da equipe sobre a Liga Sorocabana, em jogo válido pelo NBB. A briga, desta vez, foi fora das instalações, mas só acabou depois da chegada da Polícia Militar e da detenção de 70 torcedores que, em um ônibus, foram levados à delegacia do bairro da Zona Norte.
Mesmo diante das confusões recentes, o Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe) e o Corpo de Bombeiros deram a autorização para que o confronto acontecesse no Tijuca, e a Fberj se defende dizendo que apenas segue o regulamento. Eurico, por sua vez, apontou irregularidades para a realização do terceiro jogo da final. No documento enviado por ele nesta terça-feira, foram enumerados três motivos para que o duelo não acontecesse. O primeiro é que a venda de ingressos foi indevida, uma vez que, desde o último dia 3 de dezembro, o Vasco afirmou que não entraria na quadra do Tijuca Tênis Clube por questões de segurança. O presidente vascaíno colocou a responsabilidade pela venda dos bilhetes nas mãos do presidente da Federação, Álvaro Lionides.
O segundo argumento fazia referência à nota da própria Fberj, datada no dia 28 de outubro, afirmando que o Rubro-Negro não teria atendido o Departamento Técnico da Federação indicando data e hora para o confronto. E que o dia indicado não foi escolhido em comum acordo com o Cruz-maltino. A indicação do local da partida, contudo, foi do Flamengo, que ganhou a vantagem de ser o mandante por ter terminado a fase classificatória da competição com a melhor campanha do Estadual.
OS JOGOS DA SÉRIE FINAL
O primeiro jogo da série final melhor de três terminou com vitória rubro-negra por 89 a 87. A partida foi realizada na Gávea, com portões fechados para as torcidas. No segundo, que aconteceu em São Januário, mais uma vez sem a presença de torcedores por questões de segurança, o Vasco saiu vencedor por 104 a 98. Com isso, a série está empatada em 1 a 1.
A princípio, a partida desta terça seria disputada novamente com portões fechados, como punição pela briga entre os torcedores do Flamengo no primeiro turno. No entanto, o Rubro-Negro recorreu e conseguiu evitar que a pena valesse para o terceiro jogo da final. O julgamento no Pleno do Tribunal de Justiça Desportiva do basquete aconteceu na terça-feira da semana passada, depois de o Flamengo ser punido com multa de R$10 mil e duas partidas com portões fechados.
Fonte: GE