Muhlenberg: “Não me chute, papai!”

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O bizarro resultado do amistoso contra o Vila Nova deu uma bela agitada na superfície do, até então sereníssimo, lago do ufanismo onde o rubro-negrismo havia submergido nos últimos 50 dias. Submersão mais do que natural, pois a torcida mais bem vestida do Brasil vinha sendo alimentada há mais de 50 dias seguindo uma dieta estrita de boas notícias. O sistema digestivo mulambo tirou de letra a inesperada derrota dos nossos wunderkinds na Copinha, mas não conseguiu engolir a derrota pro 4º colocado no Campeonato Goiano.

A nossa equipe principal perder pra qualquer outro time do planeta um amistoso em janeiro tem o mesmo significado prático para o desempenho no resto do ano do que uma derrota dos moleques na Copinha, isto é, zero. Mas é uma questão simbólica, porque a derrota meio que cortou o barato de quem achava que depois do CT, das placas do Carioca, do Alçapão da Ilha, do Conca, do Rômulo e do Vinícius Jr. O Flamengo jamais ia perder um jogo na vida. Comportamento mais do que previsível tratando-se de rubro-negros. Mas como dizia Machado no Braz Cubas: antes cair das nuvens que de um terceiro andar.

Some-se à esta reação natural das massas flamengas injuriadas com o resultado esdruxulo as declarações do BAP, que abordou a derrota por um ângulo interessante e questionou a conveniência de se televisionar uma pelada de tal porte. Pelo fato de ser ex-dirigente as declarações de BAP causaram tumulto. Mas o BAP é um torcedor do Flamengo igual a qualquer um de nós. OK, talvez ele seja um pouco mais igual que nós, mas segue sendo torcedor. Ao qual se estende o direito de cornetar livremente e manifestar opinião sobre qualquer tema relacionado ao Flamengo.

Quanto à conveniência do televisionamento da partida em si, posto que não dá pra saber o resultado de antemão, é evidente que os aspectos econômicos se impuseram. E mesmo cornetando, no fundo o BAP deve estar satisfeito que a cultura corporativa que ajudou a implantar no Flamengo siga prevalecendo. Hoje, é justo dizer que o negócio do Flamengo são os negócios. E que foi fazendo bons negócios que o Flamengo pode hoje gozar da boa saúde financeira que, nos ensinaram isso, é essencial para o sucesso nos gramados.

Contudo, BAP não restringiu seus comentários ao resultado e estendeu-se em considerações sobre uma suposta acomodação do Flamengo em relação às derrotas. Tema polêmico e cabeludíssimo, porque coloca em cheque o próprio exercício do rubro-negrismo, abrindo as portas para uma profunda discussão ontológica sobre o ser Flamengo. Há uma polêmica em curso que divide os autointitulados “torcedores de futebol” daqueles pejorativamente chamados de “torcedores de diretoria”. O problema básico dessa suposta cisão é que os os dois tipos de torcedores compartilham tantas características que a divisão dos mesmos soa artificial.

Lembrem-se que a primeira coisa que os Azuis fizeram quando chegaram ao poder na Gávea foi vacinar toda a torcida avisando de antemão para que nos preparássemos para alguns anos de vacas magras e poucos títulos. A torcida comprou o pacote austeridade (fazer o quê, né?) e uma significativa parte dela conseguiu até encontrar motivo de orgulho e júbilo com orçamentos, balancetes e certidões negativas de débito. Ora, ficar feliz porque seu time, após anos de incúria e calotes, finalmente limpou o nome do SPC, não faz de ninguém torcedor de diretoria.

Da mesma maneira, atear fogos às vestes, pendurar um bumbo no pescoço e sair pelas ruas anunciando a eminência do fim do mundo só porque o Flamengo perdeu um amistoso que não valia duas mariolas não faz de ninguém um torcedor de futebol mais puro ou bem-intencionado que qualquer outro. É verdade que o suposto ano da vaca gorda foi sendo adiado de 14 para 15, de 15 para 16, de 16 para 17. Não há quem não fique emputecido com a dilatação de prazos. Todo mundo concorda que tá na hora do Flamengo parar com essa punheta e começar a ganhar títulos. Afinal, nós viemos aqui pra isso.

A ciência ainda não tem o conhecimento, nem a tecnologia, pra definir o que é ser Flamengo. O que já está comprovado é que existem inúmeras maneiras de ser Flamengo. E que entre elas figuram tanto o corneteiro iracundo que reclama até de lateral pro adversário quanto o cara que realmente não perde um minuto de sono com uma derrota do Flamengo em uma final de Copa do Mundo. Entre esses dois extremos se abrigam 40 milhões de ideias e visões de mundo diferentes, mas cada um é tão Flamengo quanto o outro.

É saudável essa agitação causada pelo mau resultado. E mais saudável ainda é botar pressão nos nossos cartolas, que por sua vez colocarão pressão na Comissão Técnica, que vai pressionar os nossos jogadores, aos quais só restará duas alternativas: chutar o cachorro quando chegar em casa ou ganhar tudo que o Flamengo disputar esse ano.

A nós, mulambos racionais, cabe torcer para que nossos craques se apiedem dos Duques, Rexes e Totós.

Mengão Sempre
Arthur Muhlenberg

Fonte: República Paz & Amor

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  • Amigos Rubronegros e Arthur Muhlenberg em particular, o que se tem a considerar não é uma derrota pura e simples em começo de temporada, é como ela se deu.

    Perdemos um jogo com os nossos jogadores de seleções e de qualidades comprovadas que jogam junto e com o mesmo treinador há quase 1 ano, para um time inexpressivo que devido a uma campanha negativa teve praticamente todos os seus jogadores dispensados, inclusive o seu treinador e teve novo treinador e jogadores que foram contratados a menos de 1 mes e, que tiveram 2 semanas de pré-temporada para que fosse tentado montar o time para jogar contra o TODO PODEROSO FLAMENGO!

    Missão mais impossível que aquelas enfrentadas pelo ator consagrado TOM CRUISE nos filmes de mesmo nome: – MISSÃO IMPOSSÍVEL I,II e III.
    Mas, a despeito de tudo isso o Mazola Jr, treinador que deixou o CRB de Alagoas no final do ano depois de ter feito um bom trabalho com esse time, apesar de ser uma equipe modesta, foi contratado pelo Vilanova e teve 2 semanas só de trabalho e, conseguiu formar um time equilibrado que VENCEU com Méritos o FLAMENGO cheio de jogadores de seleções e de qualidades comprovadas que jogam junto e com o mesmo treinador há quase 1 ano.

    Até agora não consigo outra explicação pra isso, a não ser a incapacidade do nosso treinador para comandar o Nosso Grande FLAMENGO!!!!!!!

    • Se tivesse reparado na pequena porém razoável pança do Vaz, que não é culpa do treinador, entenderia. O pessoal do time inexpressivo estava voando, deu no que deu.

      Se parar por aí, sem problemas. Vamos ver agora no carioqueta.

      SRN

      • HJ LEVOU DO SERRA MACAENSE,NEM SABIA QUE EXISTIA ESTE TIME…,PODE ATE SER QUE NÃO SIGNIFIQUE NADA,MAS INCOMODA SIM..

    • Põe o Serra Macaense (Empresa de Onibus) na nossa conta

    • Incapacidade do tecnico? Ta bom, daqui a 3 meses a encheção de saco da torcida vai tirar o zé, ai entra o Dorival e 3 meses depois a encheçao de saco da torcida vai tirar, ai entra o luxemburgo, e 3 meses depois a encheçao de saco da torcida vai tirar, ai entra o Abel q vai sair do Flu daqui a 9 meses kkkkkkkkkkkkkkkk, e isso com 40 milhões de torcedores pedindo Joel Santana, Tite, Cuca, Mancine, Jorginho, Fernando Diniz, e assim por diante, muitos torcedores sendo o dono da razão e sumindo depois do q pediram não der certo.

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