Maracanã, 13 de abril de 2014. Num dos portões, duas crianças, a mais velha com seus oito anos, choravam abraçadas à mãe. O carro em que estavam fora atacado de forma selvagem minutos antes de Flamengo e Vasco jogarem uma final de Estadual que levou ao estádio 700 policiais e mais de mil agentes públicos. Nos rostos delas, o pânico. Difícil crer que tenham voltado a um jogo.
Sempre que me perguntam o que acho da torcida única em clássicos, costumo responder com outra pergunta: quais as alternativas?
Uma delas, praticadas no Brasil, garante a presença de 10% da torcida visitante. São escoltados numa operação de guerra, um ritual que termina numa chegada tensa e assustadora ao estádio, onde ficam comprimidos num canto. Quem os presencia, duvida que está num evento de lazer. Quantas famílias e crianças há ali? É tudo tão opressivo, que se promove um filtro: dispõem-se a ir, majoritariamente, os elementos mais violentos e íntimos do confronto. Não vale a pena lançar mão de tantos recursos do estado para pôr este grupo num jogo.
A outra é o mundo ideal: a divisão igualitária do estádio. O propósito é nobre, mas vinha sendo sustentado a que preço? A cada conflito, aumenta-se o policiamento. A complexidade do tema, ignorada por todos os níveis de governo, pelo Judiciário e até pelos clubes — únicos promotores de eventos deste país que julgam não ter responsabilidade por atos criminosos praticados em suas apresentações —, conduziu a uma situação insustentável: há de chegar o dia em que, para realizar um jogo, vai se inviabilizar uma cidade, pedir aos cidadãos que se refugiem em suas casas.
No dia em que as crianças do início do texto choraram no Maracanã, comunidades, praias e praças ficaram expostas, e a cidade, mais insegura do que já é, apenas para que se jogasse futebol. Mas nunca contestamos, porque temos a visão distorcida de deve haver futebol a qualquer preço. Determinamos que “é problema da polícia dar um jeito de garantir a segurança”. Pois bem, o preço que a sociedade paga deixou de ser razoável. É especialmente inaceitável numa cidade que vive sob o fantasma da violência tão presente quanto o Rio. Naquele 13 de abril de 2014, os arredores do Maracanã viram arrastões, agressões. Todo aquele aparato bélico pareceu pouco. E sempre parecerá, enquanto um real plano nacional de segurança não for posto em prática. Colocam-se mais e mais homens nas ruas para combater bandidos — que se sentem imunes.
Os 700 policiais e suas armas pesadas e visíveis, além de não garantirem segurança, criavam um cenário tenso, violento. Raras foram as famílias que caminharam do metrô ao Maracanã celebrando, com leveza, a tarde de futebol. A chegada era nervosa, amedrontada. Ao empregar 700 homens e armas pesadas para um jogo, importa pouco quantos incidentes o Rio viu nos últimos anos em estádios. A derrota para a violência já aconteceu.
Convencionou-se chamar a opção pela torcida única de falência do futebol, derrota da sociedade. Se de fato ocorrer, serão cenas tristes no Maracanã. Mas será que já não faliu um futebol que produz mortos e feridos e que só pode ser jogado sob a guarda de um exército? Que derrota queremos evitar, se ela já é tão categórica?
Aí reside o ponto crucial. É um erro ver a torcida única como a solução para a violência das torcidas. Brigas e mortes existirão em outros pontos da cidade ou até nos estádios, entre organizadas de um mesmo time. O passo mais importante na luta contra a selvageria também precisa ser dado longe dos estádios. Começa em Brasília, envolve todos os níveis de governo, o Judiciário voltado para o real cumprimento das punições já previstas em lei, o Legislativo pensando eventuais reformas, o engajamento real dos clubes. Envolve o enfraquecimento das gangues infiltradas nas torcidas organizadas, cujos líderes já nem parecem ter mais total controle. Envolve a asfixia financeira destes grupos, um monitoramento de inteligência, a prevenção.
O problema é complexo, e nem sequer demos o primeiro passo. O processo é lento e é preciso estancar a sangria. Há uma situação limite e fora de controle. A torcida única, com todo dano ao espetáculo que representa, pode reduzir a sensação de insegurança das pessoas de bem, ao menos, ao redor dos estádios. E pode, principalmente, permitir a realização de jogos sob condições mais razoáveis, sem que toda uma cidade. Há capitais do país em que se evita sair de casa em dias de clássico.
Se adotada isoladamente, a torcida única será apenas o dano à festa, sem a recompensa no fim do processo. Será um eterno paliativo. Mas se for adotada como etapa de um processo de reconstrução da nossa forma de organizar jogos de futebol, pode ser um preço que valha a pena pagar. Perderemos cores na arquibancada, o que é um dano menor do que perder vidas ou cultivar o medo na porta de estádios cercados por aparatos de guerra.
Fonte: Carlos Eduardo Mansur | O Globo
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enquanto colunistas fazem materias lindas matérias em relação a viole
ncia no futebol, enquanto isso o povo estar la fora morrendo de fome,desemprego,miséria e opressão,futebol é lindo quando o povo tem no minimo tres refeições diárias na mesa, a violencia começa na falta do pão de cada dia,é não somente em brigas que torcedores são vitimados,queria ve esses colunistas falando da miseria em modo geral, da violencia no geral,ai sim seria perfeito a discussão ,e o embate seria interessante,deveriam usar o futebol como uma vitrine de resposta ao governo de tudo o que estar errado,antes tinha um socrates que pregava ha democracia ,hoje só temos mercenários que só visam lucros,tanto dirigentes como jogadores ,e isso é que contamina a sociedade,não dar para falar só em futebol em uma sociedade diversificada, o futebol sim deveria ser uma fonte de transformação universal do cidadão,tanta na consciencia ,quanto na opressão e miseria que assola esse país ,ninguém se manisfesta contra governos e contra erros nítidos na sociedade,craques do futebol,usem suas imagens para mostrar a realidade de nosso país...
Concordo totalmente com que o Antero Greco da ESPN, falou, somos um povo doente. Tudo nesse país se "resolve" na base da violência ou da corrupção. Isso é fato, infelizmente.
"O passo mais importante na luta contra a selvageria também precisa ser dado longe dos estádios. Começa em Brasília, envolve todos os níveis de governo, o Judiciário voltado para o real cumprimento das punições já previstas em lei, o Legislativo pensando eventuais reformas, o engajamento real dos clubes. Envolve o enfraquecimento das gangues infiltradas nas torcidas organizadas, cujos líderes já nem parecem ter mais total controle. Envolve a asfixia financeira destes grupos, um monitoramento de inteligência, a prevenção."
Num país onde o presidente é golpista, o legislativo é uma corporação criminosa, em sua maioria, e o stf tem Gilmar Mendes e Alexandre morais, duvido muito que essas medidas comecem em Brasília.
O Brasil só tem bandidos, pessoas passando fome, coisa do tipo todos acham graça, Brasil só tem bandidos Ae sociedade ajudar ninguém é contra tá precisando é de mais policiais mas a poio para exterminar a bandidagem acaba com essa doença mata esses bandidos na porrada. Mas empenho mas fatos feitos, menos amadorismo, mas respeitos seja grandes e não deixe ninguém vota por você muda essa bosta de vida e faça o que é de bom na vida em ambas as partes.
Essas coisas acontecem simplesmente devido à impunidade. Torcida única é empurrar o problema com a barriga. É filmar, identificar, banir dos estadios, mandar pra cadeia. Problema resolvido.
A solução real passa por emprego, educação e fim da impunidade. Brasil vem de muitos anos de governos populistas de esquerda que só se preocupam em dar pão e circo. Bolsa familia e copa do mundo. Roubalheira sem fim. Enquanto isso nada de escola, nada de infraestrutura, economia em colapso. O resultado é esse. Falta cadeia e policia pra tanto bandido, falta hospital pra tanta vitima. Não é falta de dinheiro porque o que pagamos de impostos!!!!
Povo precisa ir as ruas. Menos politicos, tem que ter gestão transparente, menos roubo, mais dinheiro pra saude, educação e meter bandido em cana ou pro cemiterio. Ai resolve.
O futebol imita a vida.É só o reflexo do país, não existe segurança, impunidade,bandidos mandam, alguns até presos,Cabral e cia.Enfim querer ou sonhar que o povo fique "educado", pro futebol, é sonho irreal.Punir os clubes,pra " educar",organizadas é o mesmo que punir, boates que as pessoas brigam todas as noites(nem a bebida é culpada).a cupa é do sujeito que briga ou agride,e só. Apenas prende-los e punir apenas fazer isso.