“O que os olhos não veem, o coração não sente”. O famoso jargão não entra em campo quando o amor entre rubro-negros e o Flamengo é o tema. Neste domingo, os corações de Rafael Eleutério, de 36 anos, e outros deficientes visuais, desde os mais pequeninos, sentiram intensamente a goleada por 4 a 0 sobre o Madureira.
Rafael, aliás, envolveu-se tanto que fez um pleito a respeito do gol de Paquetá.
O Flamengo e a agência de publicidade NBS levaram ao Raulino de Oliveira neste domingo o Paixão Cega, campanha em que o clube ofereceu a deficientes visuais e voluntários que não se conheciam um cadastramento para que acompanhassem os jogos do Flamengo juntos.
Além de buscar acompanhantes para os adultos, o Rubro-Negro ainda convidou crianças para o duelo com o Tricolor Suburbano.
Antes de a bola rolar, os pequenos Nicolas (6 anos), Thaís Vitória (9), Lucas (10), Arthur (10) e Adryan Phelipe (16) aguardavam ansiosos pelo encontro com os ídolos. Lucas estava tão emocionado que acabou não conseguindo entrar, mas ficou no banco com o goleiro Thiago, o meia Lucas Paquetá e o atacante Felipe Vizeu, que o convidou para sentar lá com eles.
Diego e Guerrero eram os preferidos da turminha, que estava muito animada.
O rubro-negro Rafael Eleutério Ferreira, de 36 anos, emocionou a muitos que estavam ao seu lado. Com um celular à mão esquerda como um autêntico radinho de pilha, sorria a cada reação positiva da torcida antes de a bola rolar. No gol de Diego – o primeiro do jogo – uma explosão de alegria contagiante.
– É fantástico. Eu acho essa campanha do Flamengo muito bacana para a gente poder mostrar a necessidade da acompanhante. A gente tenta ter o máximo de independência, mas têm situações que realmente não tem como. No meu caso, que não tenho visão alguma, vir ao estádio sozinho realmente é muito difícil. Infelizmente a maioria dos deficientes não vêm por falta de companhia. Viver essa emoção é muito bom, com certeza.
Luciana Lasmar, selecionada para acompanhar Rafael no site do Paixão Cega, revelou-se arrepiada com o que vivera e decretou o nascimento instantâneo da amizade entre os dois.
– É um prazer estar aqui. E, como flamenguista, trazer uma pessoa que ama o Flamengo da mesma forma que eu amo, é muito especial. Estou aqui narrando, falando o que está acontecendo no jogo. Fazer o percurso com ele é especial, é um prazer acompanhá-lo – disse.
Encontro com o ídolo e indicação de Paquetá ao Prêmio Puskás
No vídeo acima, Rafael revela que apostara num 3 a 0, com gol de Everton, jogador que mais admira dentro do elenco rubro-negro. Perdeu a aposta, mas não perdeu o bom humor. “Votou” em Lucas Paquetá, autor do quarto gol, como candidatíssimo ao Prêmio Puskás – troféu que a Fifa entrega ao autor do gol mais bonito do ano em eleição feita pela internet.
E ainda ganhou o dia ao abraçar Everton, em encontro promovido pelo repórter Diego Moraes, da TV Globo, após a partida.
Não apenas o Flamengo enxergou a possibilidade de olhar para torcedores que têm menos oportunidades de acompanhar o time de perto. Não só Rafael e os pequenos sentiram o gosto da vitória. O triunfo foi geral, dos que participaram diretamente, dos acompanhantes e de quem apenas parou para vê-los torcer. O pioneirismo rubro-negro provavelmente estimulará ações semelhantes, pois já há o interesse de se levar o Paixão Cega para outras cidades e outras camisas. Goleada no campo e de sorrisos na arquibancada.
Presidente se emociona com campanha
Eduardo Bandeira de Mello vibrou com o resultado da ação promovida no Raulino de Oliveira e valorizou a espirituosidade de Rafael, que pediu o Puskás para Paquetá.
– Muito emocionante a gente saber que têm torcedores do Flamengo que não enxergam, mas ainda assim se emocionam e torcem como nós. Só o Flamengo para nos proporcionar uma alegria dessa. Você vê que, apesar do infortúnio, o rapaz tem senso de humor. Realmente o gol do Paquetá foi tão bonito que mesmo quem não enxerga conseguiu captar a energia e a beleza do gol do rapaz – disse Bandeira.
Fonte: Globo Esporte