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Jorge Murtinho: “Achar que nosso time é melhor do que é não nos ajuda”

Temos um bom time. Temos um dos quatro melhores times do Brasil. Mas ainda falta uma considerável distância para podermos afirmar que temos um grande time.

Só que não está sendo fácil discutir as coisas do Flamengo. Se você faz uma crítica a respeito da produção em campo, lá vem a milícia: é, está se vendo, você gostava do tempo em que não pagávamos ninguém, quando éramos chacota na boca de jogadorzinho vagabundo e metido a frasista. Se você elogia a diretoria em qualquer aspecto, lá vem a facção do outro lado: já vi tudo, seu negócio é conta em dia e taça na mão do adversário, é preciso jogar uma bomba, rapaz, e começar do zero.

Proponho equilíbrio e um debate sadio, sem preocupação a respeito de quem tem ou não razão. Mesmo porque, ter razão no futebol é algo que não costuma durar mais do que duas ou três rodadas, e é preciso aceitar que o jogo também envolve gostos particulares e pitadas de subjetividade.

Sobre isso, um parágrafo de passeio ao passado. Não tenho dúvida de que Gérson foi mais jogador de futebol do que Rivellino, mas eu preferia ver Rivellino jogar. Não gosto de volantes que só desarmam, de centroavantes que apenas empurram a bola pro gol, de laterais que não apoiam. No entanto, já vi grandes times com volantes exclusivamente defensivos, grandes times com centroavantes fixos feito postes e grandes times com laterais que mal ultrapassavam a metade do campo. Entre tantas outras coisas, futebol é tão bacana por isso.

Voltando do passeio: será que a gente não pode elogiar a grandeza do trabalho administrativo iniciado em 2013 e continuar acreditando em um futuro virtuoso, mas questionar algumas escolhas técnicas e, sobretudo, certas insistências? Ninguém é infalível – vejam vocês o Papa, que torce para o San Lorenzo –, só que volta e meia percebo tentativas de tornar incriticáveis os que comandam o Flamengo. E tome de protestos aos céus, de reclamações contra injustiças – oi? No futebol? –, de revoltas contra juízes e até contra comentaristas. Reforço o título do post: isto não nos ajuda a melhorar.

Ninguém quer outro estilo de governança e não há quem pregue a irresponsabilidade ou o perdularismo. Todavia, desde as opções na montagem do elenco até algumas decisões táticas, é sempre útil ter contato com opiniões diversas e, sobretudo, estar pronto para rever posições.

Dou exemplo.

Às custas de um patrocínio nada sustentável – não deixem de ler a entrevista que Mauro Cezar Pereira fez com o dono da Crefisa, José Roberto Lammachia –, o Palmeiras sai sentando o dedo e mandando bala para todo lado. Mesmo com o título brasileiro no ano passado, em 2017 contratou Borja, Felipe Melo, Guerra, Michel Bastos, Keno, Willian, Hyoran, Raphael Veiga, Antônio Carlos. Por outro lado, a atuação do clube se assemelha à de um pragmático especulador do mercado financeiro: errar faz parte do jogo, nem todas as contratações dão certo e não adianta regar eternamente matos de onde nunca sairão coelhos. O Palmeiras deve ter gasto uma baba com Barrios, o cara ficou lá um ano e meio, não vingou, obrigado e boa sorte. Há cerca de dois anos o clube repatriou um jogador querido pela torcida, o meia Cleiton Xavier. Não foi o que esperavam, um abraço, e Cleiton Xavier está hoje no Vitória.

Pergunto: aonde acreditamos que Gabriel pode chegar? Já não tivemos tempo suficiente para entendê-lo como um bom menino, esforçado, corredor, mas que não é jogador para quem ambiciona ter um dos maiores times do planeta? Tal conclusão também não se aplica a Éverton? Independentemente da inesquecível bola atrasada em nossa derrota para o Fluminense no Brasileiro do ano passado e da imperdoável repetição do erro na partida no Chile, na boa: alguém se sente seguro com a sonolência de Rafael Vaz na zaga?

Não se trata de querer brigar com os fatos – sim, estávamos invictos em jogos oficiais desde outubro do ano passado –, mas não é correto ignorar que deixamos de lado a luta pelo título do Brasileiro de 2016 em nossos três empates no Maracanã, contra Botafogo, Corinthians e Coritiba. Claro está que não fizemos vantagem alguma em sair invictos desses três jogos, do mesmo modo que não há mérito em não perder para o Fluminense e ver a taça – por mais desimportante que fosse – ser carregada para as Laranjeiras.

Proponho, ainda, uma discussão a respeito dessa modernidade da qual ainda não me convenci: a obrigação de atacante ajudar a defesa nas cobranças de escanteios e faltas. Inúmeros times fazem isso, eu sei, o que não significa que seja necessariamente bom. O segundo gol que levamos do Fluminense aconteceu num pênalti em que Guerrero deixou evidente sua falta de manha na marcação, e subiu como se batesse asas. Santiago Silva foi esperto no gol de ontem, porém quem o marcava era Berrío, que ficou perdido com a movimentação do longevo atacante. Outro dia vi um dos mais eficientes centroavantes do mundo, o polonês Lewandowski, cometer um pênalti ridículo no jogo entre Bayern e Arsenal, pelas oitavas de final da Champions League. Apertar a saída de bola é uma coisa, atuar como zagueiro é outra.

Da partida com o Fluminense para as que fizemos contra San Lorenzo e Universidad Católica, corrigimos as falhas infantis de marcação e eliminamos os enormes espaços entre as linhas. Melhoramos. E, mesmo, perder ontem não foi o fim do mundo: não corremos riscos, dominamos a maior parte do tempo e esses jogos são e serão sempre enjoados. Entretanto, não podemos parar de perseguir uma formação próxima daquilo que sonhamos e nos foi prometido.

A Libertadores 2017 vai até o final de novembro, há uma janela de transferências no meio do caminho e, certamente, boas oportunidades de contratações – sobretudo para um clube agora responsável e bom pagador. (Lembrete: ano passado, o Atlético Nacional de Medellín contratou Borja um pouco antes das semifinais. Ele jogou as quatro últimas partidas da competição, fez cinco gols e foi campeão.) O que não dá para acontecer é, em nome de seja lá o que for, varrer nossas deficiências para debaixo do tapete e acreditar que a casa foi limpa.

Merece reconhecimento e apoio tudo o que está sendo feito fora e dentro de campo. Mas só vamos continuar a evoluir se admitirmos que, infelizmente, nosso time ainda está em um nível muito inferior ao tamanho da nossa paixão.

Fonte: https://republicapazeamor.com.br/site/achar-que-nosso-time-e-melhor-do-que-e-nao-nos-ajuda/

Coluna do Flamengo

Ver comentários

  • Só não concordo de Falar do Everton, que ajuda na marcação, e foi o maior assistente de um time que terminou em terceiro num campeonato muito dificil, vira e mexe vejo um post o criticando, de resto concordo, tem jogador que não rende, e está no Flamengo há anos, e o clube ainda renova o contrato. Gabriel citado aí é ótimo exemplo, só foi bem contra o San Lorenzo porque ele não tinham perna e deram espaço pra ele, Leandro Damião, me desculpem, mas é só esforçado, ninguém quer ele, fraco e caro. Não deu certo troca, até ter um elenco que possa confiar, e que chegue o mais longe o possível, pois um time dessa grandeza não pode toda vez não passar nem da primeira fase.

  • Discordo de algumas coisas.
    Concordo com outras
    normal
    O que tem me incomodado bastante é o vício de por o Gabriel todo jogo. O flamengo só tem 2 substituiçoes, pq a outra sera o Gabriel. E tenho uma tese sobre isso.
    Mas num ponto centralá eu discordo do texto.
    Não adianta fazer essa reflexão toda só quando perde. Enquanto estava ganhando tudo são flores. Fazer uma crítica a um time que não perdia era ser apedrejado na certa.

  • o Gabriel não tem o poder de mudar uma partida.
    Everton tem.
    Mancuello tem.
    Vizeu tem.
    Márcio Araújo tem.
    Rodiney tem.
    Cirino, apesar de já ter feito alguma coisa vindo da reserva não tem.
    Berrío tem muita.
    Adryan não tem.
    Paquetá e Savio não sabemos ainda.

    A ideia de compor elenco num campeonato brasileiro, quando você precisa de ser aplicado e comedido tá perfeita.

    Mas faltam jogadores com o poder de chamar a responsabilidade banco.

    Odeio quando o flamengo precisa ACHAR um gol do nada.

    Pra libertadores preciamos de casca grossa.

  • Bom texto.
    Só não entendi a parte de não querer que o atacante ajude na bola aérea defensiva. Se o time adversário colocar 5 jogadores altos em nossa área, não tem como os atacantes não ajudarem na defesa. O Guerrero deu azar no jogo contra o Flu no penalti cometido por ele, mas inúmeras vezes ajudou tirando bola da área.

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