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Federações estaduais têm que acabar, diz Zico

Em entrevista ao Terra, o ídolo da Nação Rubro-Negra abriu o jogo sobre vários assuntos, como CBF, Federações, Primeira Liga e muito mais. Veja os trechos abaixo:

Você levou o presidente da Liga Japonesa (J. League), Mitsuru Mirai, para um encontro com dirigentes da Chapecoense há poucos dias. Qual foi o objetivo da visita?

Zico – Torcedores japoneses tomaram a iniciativa de passar uma sacolinha durante os jogos da J. League para arrecadar dinheiro a fim de ajudar a Chapecoense. Em duas partidas, conseguiram 10 mil dólares. Vão continuar fazendo isso até o dia 15 deste mês. O presidente da liga queria entregar a quantia à diretoria da Chapecoense, conhecer o pessoal do clube, e falar um pouco sobre essa ação espontânea dos torcedores, um gesto bonito de solidariedade.

Uma atitude que lembra o Jogo das Estrelas (que Zico organiza todo final de ano, no Maracanã).

Esse evento vai fazer 10 anos. Começamos em 2007 e sempre com finalidade beneficente. No jogo do final de 2016 homenageamos as vítimas do acidente com o voo da Chape (em 29 de novembro, na Colômbia, quando 71 pessoas morreram). Doamos ali cerca de R$ 200 mil. Esse total poderia ter sido outro se não tivéssemos de arcar com despesas para limpeza e segurança do Maracanã, entre outros gastos que não entrariam na conta final se o estádio estivesse em pleno funcionamento.

Por falar em Maracanã, como analisa o fechamento temporário do estádio?

Uma vergonha para o País. É inadmissível que se faça uma Copa do Mundo, uma Olimpíada, e depois o estádio seja entregue sem condições de uso. O Maracanã é a porta de entrada do futebol e foi uma vergonha ceder à organização da Olimpíada tudo que se pedia. Até arrancaram a calçada da fama, onde Pelé deixou ali seu registro. O pessoal que faz olimpíada quer usufruir das instalações do futebol, que são grandes, mas odeia o futebol. Por mim, eu reunia os envolvidos, levava todo mundo para Bangu 1 e dizia: ‘só saem daqui quando estiver tudo resolvido’. A CBF e a Federação de Futebol do Rio deveriam ter encampado isso.

A CBF não olhou para o Maracanã, mas convocou uma assembleia silenciosamente e mudou seu estatuto, aumentando o poder de voto das federações estaduais. Como viu isso?

Mais uma vez a CBF deu mostras do que é capaz. Por sorte, a ida do Tite (técnico da Seleção) deu uma ajeitada no futebol. Senão, a crise por lá seria geral. É vergonhoso você ter um presidente (Marco Polo Del Nero) que não pode sair do País. Não sei se ele fez algo ou se não fez. Mas tem que resolver logo isso. É a maior entidade do nosso futebol. Já temos dois ex-presidentes passando por problemas semelhantes (José Maria Marin está em prisão domiciliar nos EUA e Ricardo Teixeira, que mora no Rio, também evita deixar o Brasil por receio de ser preso) e isso prejudica toda a CBF e, por tabela, os clubes brasileiros. Poxa, será que só tem mau elemento trabalhando lá? Claro que não. Deve ter muita gente boa e séria na CBF. Mas o que vem de cima contamina tudo. Quem dirige a CBF pode até ser bom administrador, ter competência na área, mas é preciso tirar essa mancha que existe lá dentro.

Na assembleia (em 23 de março), a CBF ignorou a presença dos clubes e manteve a cláusula de barreira para quem quiser se candidatar à presidência da entidade. Ou seja, para inscrição de uma chapa, tem de haver o apoio mínimo de oito federações e cinco clubes.

O mais triste é que se os clubes fossem convocados, no fim ia dar no mesmo. No momento que veio a público aquela assembleia, tinha que ter uma rebelião de todos os clubes do Brasil. Nós somos o único país do mundo em que a administração do futebol se divide em confederação e federações. No Japão, Turquia, Índia e demais países por onde trabalhei, na Europa toda, na própria América do Sul, existe uma federação nacional que cuida das seleções, e os campeonatos, em geral, são organizados por ligas. Não há necessidade de ter intermediários.

Então você defende o fim das federações estaduais?

Claro que sim. Pode ver que a origem das federações foi motivada para que elas organizassem suas seleções estaduais. Porque antigamente havia campeonatos entre seleções dos Estados. Mas hoje não existe mais isso. E o que essas entidades viraram? Intermediárias dos contratos e das receitas das competições. Isso deveria ficar em poder apenas dos clubes.

Foi a favor da criação da Primeira Liga?

Uma ótima iniciativa. Mas a gente fica pensando o seguinte. Se os próprios clubes que a criaram não valorizam a competição deles, como é possível viabilizá-la? Botam as equipes reservas. Curioso que mesmo assim o público prestigia os jogos. O Flamengo é um exemplo. Brigou pra caramba pela Primeira Liga. Aí, na hora ‘h’, resolve dar prioridade para o Campeonato Carioca. O que permitiu a criação de ligas foi o anteprojeto que assinei quando era Secretário Nacional de Esportes (em 1991). Quem organizou primeiro uma liga no esporte foi o Nelson Piquet, no automobilismo. Depois, tivemos aquele movimento de 1987, com a Copa União e o Clube dos Treze. Infelizmente, não houve sequência.

É possível uma união em torno de uma candidatura à CBF, mesmo que simbólica, reunindo Zico, Romário, Ronaldo, entre outros?

É muito difícil, ainda mais se for só para marcar posição. E cada um tem os seus compromissos, acho que não haveria nem tempo disponível para isso. É importante destacar que qualquer ação nesse sentido, incluindo jogadores, tem de contar com os que estão em atividade. Não adianta eu dizer que quero isso ou aquilo se os que estão em campo não se manifestam. O Bom Senso estava fazendo um trabalho bem legal, mas esbarrou na falta de visão de muita gente, e aí o peso foi grande dos que comandam o futebol. O Dida, o Gilberto Silva, o Paulo André, vários deles sofreram muito e foram encostados. Se houvesse um grupo mais jovem, com força, talvez conseguisse avançar.

O que representaria, por exemplo, uma declaração de apoio de Neymar a uma mudança no comando da CBF?

Sem dúvida, daria muita força. Teria um peso que nem ele faz ideia. Mas tem que saber se interessa ao Neymar fazer isso. O procurador do jogador pode dizer: ‘olha, não se envolve nisso ai não’. O clube tem uma série de normas, a gente não sabe o que está no contrato dele.

Recentemente você teve uma recepção de gala em Udine, durante os festejos pelo aniversário de 120 anos da Udinese. Como recebeu as homenagens?

Sei que gostam muito de mim lá, sempre soube disso. Mas, da forma como foi, com aquela mobilização toda, tocou lá dentro. Dei uma volta no gramado (antes de uma partida pelo Campeonato Italiano, contra o Sassuolo) e todos estavam emocionados. Muitas faixas e cartazes em agradecimento. O povo de lá tem muita gratidão por mim e existe a recíproca. Muitos ficaram contrariados quando tive um problema com o Fisco italiano lá na cidade de Udine. Fui absolvido depois de um processo longo. Toda vez que volto lá, é uma festa o reencontro com amigos e torcedores da Udinese, onde joguei de 1983 a 1985.

Como tem sido a vida de comentarista?

Gosto muito. No Esporte Interativo, a gente tem muita visibilidade. Transmite a Champions League, todo mundo fala da competição. O legal ali é que tenho os fins de semanas livres. Não quero voltar à vida de estádios aos sábados e domingos, a não ser que seja como técnico. Nos fins de semana, quero curtir minha família, minha esposa, meus netos, todos. Tenho seis netos (entre 2 meses e 9 anos) e todo sábado visito dois deles. Faço isso também aos domingos. Ficar com a família não tem preço. É o que mais me emociona e me realiza na vida.

Por que a decisão de criar um canal na Internet (CanalZico 10)?

Ao mesmo tempo que diverte, traz também muita informação, com histórias de grandes jogos do Flamengo, da Seleção, de partidas que disputei, dos meus gols. Faço ainda entrevistas (são duas gravações por semana, às segundas e quintas). Foi a vontade de poder me aproximar dos torcedores, a quem devo a minha gratidão, usando outra linguagem, uma nova mídia. O retorno tem sido excelente.

Você teve uma rápida experiência como dirigente de futebol (por 4 meses, em 2010). Voltaria a ter um cargo assim?

Depende. Aquela foi uma experiência interessante (respondeu pela diretoria executiva de Futebol do Flamengo). Mas a parte de gerência é uma coisa da qual não gosto muito; tratar da papelada de contratação de jogador, mexer com a parte financeira. Eu posso indicar jogador para o clube, fiz isso no Flamengo. Agora, os trâmites burocráticos, quanto o cara vai ganhar, como vai ser o contrato, isso não é comigo. Lá no Flamengo, eu deixava essas questões com o presidente, com o vice de finanças.

Coluna do Flamengo

Ver comentários

  • Zicão falou tá falado, mas a realidade é exatamente o oposto como tudo nesse país.

  • Já passou da hora de acabar com essas federações corruptas, acabar com o monopólio da CBF... Os dirigentes dos clubes, devem deixar de serem medrosos e partirem pra cima desses cambadas sanguessugas... Eles precisam saber que sem clube não há campeonato e se não há campeonato, não há federação ou confederação que possa exercer seu poder de corrupção.
    Já passou da hora de dar um basta nesses corjas do Esporte, como disse o Zico... Manda eles pra Bangu!

  • Boa Zico, está na hora daqueles que tem as costas largas falaram o que todos gostariam, o problema da CBF é o mesmo pelo que passou o Flamengo, e,quanto essa corja não sair da CBF o futebol não vai evoluir como um todo, é preciso que alguém capacitado e ético assuma o poder na CBf e também assim como no flamengo mude o estatuto da entidade para que a corja não volte ao poder

  • Esse que é o galo verdadeiro, aquela lá de Vespasiano é Franga.
    Nosso rei só falou verdades, coisa de homem honesto e trabalhador.
    Se houvesse maneira do galinho ser presidente da CBF, seria o primeiro a apoiar e
    com o zico no comando os empresários iriam morrer de fome.
    Valeu, mestre.

  • No Rio só o Flamengo bate de frente com a ferj, o resto é pró ferj!
    Acho uma vergonha não existir nenhum tipo de investigação contra este bando, tá na hora do MP partir pra cima destes caras!
    Acorda MP!!!

  • Aí eu já discordo do Zico. Acho que o movimento de jogadores tinha que começar pelos ídolos recém-aposentados; Kaká, Alex e cia. Depois, jogadores que ainda atuam mas que não tem mais nada para provar ou temer, como Robinho, Diego, Rafael Sóbis e cia. E o mesmo vale para os técnicos.

    Quem ainda é jovem e tem trajetória pela frente não vai correr esse risco. Tem muita coisa podre por trás do futebol.

    E claro, depois os próprios clubes e dirigentes com apoio oficial, institucional. No caso o Flamengo apoiando o Diego; o Galo apoiando o Robinho, Cruzeiro com o Rafael e por aí vai.

    Isso daria segurança para os outros jogadores para se rebelarem também.

    Só uma verdadeira revolução pode mudar o nosso futebol, uma grande coalizão.

  • Federação tem que acabar, deve apenas existir como instrumento de chancela, de validação, assim como em outras partes do mundo mas em nenhuma hipótese pode organizar competições e ter o poder de embusteiro e capitanias hereditárias que temos por estas bandas.

    CBF também, deve ser apenas instrumento de chancela, validação mas em nenhuma hipótese pode organizar campeonatos e deter autonomia dos clubes. A CBF deve se restringir como as grandes confederações fazem. detém a seleção nacional e deixa os clubes com suas ligas administradas.

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