Era o melhor dos primeiros tempos, era o pior dos segundos tempos, era a época do Diego fazendo golaço, era a época do time acuado na zaga, era a idade de Donatti virando titular definitivo, era a estação de terminar com o Márcio Araújo atuando de lateral direito, mas o time com dois laterais esquerdos em campo e é até complicado explicar pra você como a gente foi parar nisso.
Mas o Flamengo venceu. Venceu com o questionado Zé Ricardo acertando ao colocar Trauco na ponta esquerda, com Gabriel no ataque, com Márcio Araújo se destacando na marcação, com Cirino entrando no final e surpreendentemente não prejudicando o resultado, não reduzindo nossas expectativas de vida, não derrubando o PIB do Brasil nem agravando o conflito na Síria. Venceu uma partida que era essencial vencer, com um show da torcida antes do jogo e ao menos 30 minutos de um futebol que encheu os olhos de todo torcedor rubro-negro.
Isso porque no primeiro tempo o Flamengo funcionou. A opção por Trauco no ataque, apesar de inesperada, se mostrou acertada, já que foi dele o lançamento para o primeiro gol de Guerrero, assim como o meio campo com Arão e Márcio Araújo começou funcionando muito bem, além da defesa com Réver e Donatti seguir exibindo o nível de seriedade que se espera de zagueiros numa Libertadores – numa comparação simples, Rafael Vaz atuava com um nível de seriedade que, se você usasse para brincar com seu filho pequeno, ele se sentiria ofendido.
Diego teve mais uma atuação de gala, armando, finalizando, recompondo o meio de campo, roubando bolas, numa noite em que nosso camisa 10 esteve tão presente que, se você acordar agora e sua casa estiver limpa ou seu relatório da empresa estiver concluído, possivelmente foi ele que fez. Destaque também para Guerrero, atuando com a mistura perfeita de raça e categoria, não ficando de cabeça quente para tomar cartões, mas sim deixando seu gol em uma jogada de oportunismo e dedicação. E isso foi o primeiro tempo: um Flamengo que pressionou, dominou e se mostrou completamente superior ao Atlético-PR.
Mas aí veio o segundo tempo e com ele o recuo natural de um time que já possuía a vantagem e queria apenas administrar o resultado. E ainda que graças ao vacilo de Renê na hora de se livrar da bola a equipe tenha sofrido um gol, vale ressaltar que Zé Ricardo, tantas vezes criticado por modificações não tão inteligentes na equipe, soube fazer as mudanças certas. Após a lesão de Diego, mesmo com a vantagem no placar, não abdicou do ataque, colocando em campo outro meia, Matheus Sávio; diante da fraca atuação de Gabriel, colocou o descansado Cirino; e quando Pará se lesionou, nos poupou de um ataque cardíaco ao promover a entrada de Cuellar e lançar Márcio Araújo na lateral, deixando Rafael Vaz bem tranquilo lá no banco, possivelmente tentando passar uma garrafa d’água pro colega de equipe e entregando pro adversário.
A vitória poderia ter sido mais tranquila? Claro. O Flamengo mostrou capacidade de dominar o Atlético-PR e talvez, com mais calma e frieza, pudesse ter ampliado o placar e poupado a torcida de vários momentos de nervosismo, já que eu tenho certeza que naquele gol anulado do time adversário vários móveis foram chutados, familiares ofendidos, animais de estimação atirados pela janela. Mas era uma partida em que o essencial era vencer e a equipe garantiu isso: a vitória, os três pontos, a liderança de um dos grupos mais complicados da Libertadores 2017.
João Luis Jr.
Fonte: Nosso Flamengo
Belo texto, cômico, irônico, quase trágico!
Excelente! Sem mais! SRN