Coluna do Torcedor: “O legado do passado e o presente”

Bem, como eu acompanho o Flamengo mais de perto desde 1976 tenho uma boa base de observação em razão de 40 anos vendo a nossa performance.

Divido em blocos minha linha de raciocínio:

1 – O legado de 81:

Nossa fase áurea gerou, a meu ver, alguns efeitos colaterais ruins como por exemplo uma permanente soberba. A impressão que dá é que o Flamengo continua sendo o time de 81, que fazia tremer todos os adversários. Não é assim, na verdade, muitas vezes vivemos da força da camisa. Não quero dizer, de forma nenhuma, que foi ruim ter ganho tudo. Apenas é que o pós-fase áurea é que não foi lidado da melhor forma.

2 – Bandeira histórica perdida ou difusa:

O Flamengo sempre foi um time do povo e da raça; nunca jogava de palhaçada, era sempre sério, respeitava os adversários e, por isso mesmo, passava o rodo. Não vejo isso há anos. O Flamengo passou a ser um clube e um time de certa forma elitizados.

3 – O presente:

Eu entendo que estes pontos anteriores servem de pano de fundo para o que eu relato agora. O Flamengo, através de seus dirigentes, passou a ser um time morno, quase frio. Reage basicamente de uma forma blasé aos fracassos. Não vemos a indignação, o lamentar pela derrota ou pelo insucesso. Muitas vezes se nega a realidade para jogar a responsabilidade sobre outros fatores.

Temos hoje um treinador que se mostra péssimo em quase todos os quesitos. Não utiliza a meritocracia, ou ao menos, não compartilha para seus comandados os critérios. Com isso se mostra péssimo líder, pois não consegue manter o grupo motivado, que não sabe direito o que precisa fazer para conseguir uma titularidade.

Como não abre mão de determinadas convicções absurdas, parece colocar o seu interesse pessoal e orgulho acima do clube. Isto para mim já é motivo mais do que justificado para ser demitido.

Estrategicamente também parece muito falho, pois não modifica o time de acordo com as situações de jogo. Diz que estuda, mas isto parece somente para inglês ver. O time é quase sempre mal escalado, as substituições são inacreditáveis, o que emite sinais terríveis para o time, pois ninguém sabe direito o que fazer e o porquê.

Me parece estar claramente perdido, pois não utiliza as peças direito, não desenvolve estratégias e planos de jogo considerando os jogadores e os cenários de jogo.

Vem discriminando de forma injustificável jogadores como Conca, Ederson e Vizeu, além do Ronaldo e Rômulo. Vejo um time fadado ao fracasso, fruto de uma absurda falta de visão aliada à vaidade e orgulho. Tudo temperado com soberba de cima, da diretoria. Aliás, parece que há algo de muito errado no coração da comissão técnica. Ouvimos aqui e ali ruídos na preparação de goleiros, no departamento médico e, claro, no próprio técnico. Pode ser, e parece, uma ótima pessoa, mas completamente perdido em um mar de ótimos jogadores, mas também com egos que podem ser exacerbados. Um time como esse precisa de um treinador com pulso, que realmente soca a mesa quando necessário, mas que é respeitado por todo o grupo, sem perder nunca a noção de mérito e de reconhecimento para seus comandados. É mais ou menos assim na vida empresarial e no esporte também se desenha desta forma, claro guardadas as devidas proporções e peculiaridades.

Vejo com tristeza um time que tem o melhor plantel possivelmente dos últimos 30 anos, naufragar por conta da falta de liderança, capacidade e pulso do treinador. Todo um esforço gigantesco sendo jogado no lixo. Não vamos esquecer de jogadores que já saíram do clube por conta desta péssima gestão dos recursos humanos do grupo. Perdemos o Donatti e existem claros focos de resistência em outros jogadores.

Rodrigo Rubim