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André Kfouri: “Gracias”

O atraso do futebol brasileiro é tão dramático que os técnicos ainda são classificados aqui com etiquetas nas quais cabe apenas uma palavra: o “boleiro”, o “disciplinador”, o “estrategista”, o “motivador” e o “estrangeiro”. Em muitos casos, as etiquetas substituem os nomes e as distintas características das maneiras de ser e trabalhar, pois a falta de interesse em conhecer a rotina de quem dirige equipes de futebol facilita a redução desses profissionais a um rótulo. O caso do “estrangeiro” é ainda mais sério, pois a redução coloca histórias, formações e ideias radicalmente diferentes na mesma prateleira. O estrangeiro pode ser boleiro ou estrategista, mas não importa; o que interessa é estabelecer que ele veio de outro lugar, informação suficiente para quem não precisa saber de mais nada.

Nesta ótica, é cômico como são analisadas as passagens recentes de treinadores que nasceram em outros países pelo futebol brasileiro, de forma a responsabilizá-los por insucessos em que os defeitos do ambiente são evidentes. Os males decorrentes do imediatismo – principal causa da morte de trabalhos feitos por técnicos locais, independentemente do perfil – são agravados pela necessidade de adaptação e o final da história é o mesmo de sempre. Conclui-se, brilhantemente, que o “estrangeiro” não era “nada demais”, pois teve o mesmo desempenho dos que o antecederam, tornando-se um investimento desnecessário. “Mais do mesmo”, diz o sábio, incapaz de notar onde estão os verdadeiros problemas.

Em sua apresentação no Flamengo, Reinaldo Rueda foi questionado sobre o “estigma” do técnico estrangeiro no Brasil. Exatamente. Criou-se um estigma, algo como uma maldição, uma profecia. E se decidiu apresentá-lo como um drama cuja resolução é uma tarefa para esses treinadores condenados ao fracasso longe de casa, até o surgimento de um oráculo que supere todas as dificuldades impostas e revolucione um time em três meses. Há até quem veja nessa fábula uma prova da força do futebol brasileiro, o que infelizmente carrega a discussão para o território do complexo do pombo enxadrista. Embora a humanidade atravesse um momento recompensador para ser idiota, é preciso identificar que esse não é o caminho a seguir.

É preciso abolir o uso de “técnico estrangeiro”, preferencialmente junto com as etiquetas mencionadas no início. Além de exalar desconhecimento, a expressão destina um olhar negativo a quem foi chamado para trabalhar no Brasil e, assim como ocorre com os jogadores de outros países contratados por clubes brasileiros, não está ocupando injustamente o lugar de ninguém. E se o Flamengo presentear Rueda com a quantidade de tempo e paciência que ele necessita para instalar sua forma de trabalhar, que a exceção se transforme em norma e seja um agente de avanço nas relações entre clubes e técnicos. A questão é o futebol que se pratica no país e para onde ele vai, não a origem de cada treinador.

Outra discussão relevante é a certificação de técnicos no Brasil, também, naturalmente, atrasada. A categoria parece disposta a se movimentar e solicitar à CBF uma reforma nas condições de trabalho, além de uma solução que permita dirigir na Europa. Mas não há motivo para que não se beneficie da troca de conhecimentos com técnicos que para cá vierem, que, por sua vez, certamente se tornarão profissionais melhores a partir dessa experiência. Aliás, é curioso que o debate tenha sido aceso pela contratação de Rueda, mal digerida em vestiários espalhados pela Série A. Nesse aspecto, já há um motivo para agradecer ao colombiano.

Reprodução: Lance!

Coluna do Flamengo

Ver comentários

  • Acho engraçado.. Quantos estrangeiros treinaram times brasileiros. Só agora começam com essa palhaçada... Só demonstra o medo que eles estão sentindo do Flamengo

  • Em nenhum outro Clube do Brasil Rueda causaria tanto como está causando agora. O Mais Querido diferente em tudo de todos os outros.

  • Dada a comoção, começo a pensar que Rueda nem desse universo é. Estão tratando o nosso técnico como se fosse um alienígena. Cabe ao comando do clube "blindá-lo" de possíveis armadilhas dos seus próprios pares, pseudo-colegas de profissão, muitos ainda incomodados com a sua ascensão ao cargo de técnico no país onde o sucesso de uns ainda é encarado como ofensa.
    SRN

  • A imprensa paulista sabe que o Flamengo fez uma ótima contratação. "O Flamengo organizado é imbatível". Essa frase martela e muito na cabeça dos antis.

  • Num país que a maioria não sabe fazer regra de 3, dá pra entender que muitos pseudo jornalistas falem que "estrangeiro não deu certo", mas não sabe fazer a conta básica que se 3 estrangeiros não deram certo nos últimos 5 anos, outros 13 brasileiros caíram só em 2017 na metade do campeonato, passando de 100 demissões de brasileiros nos últimos 5 anos. O problema não é nacionalidade, é falta de planejamento e covardia quando o dirigente demite na primeira crise.

  • Rueda não tem como cargo "estrangeiro", mas um técnico de futebol.

  • E se todo estigma é limitador e um tanto raso, o termo estrangeiro consegue se superar como idiotice, pois não bastasse não dizer nada sobre qualquer característica, como se essas fossem estanques, não diz nada sequer quanto à origem, já que um colombiano e um chinês seriam colocados em um só caldo;
    No Flamengo tivemos recentemente o técnico empresário, depois o oportunista, depois o trabalhador ultrapassado, depois o estudioso estagiário... como se os equívocos que cada um cometeu já não fossem ruins por si mesmos.

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