Era verão, aquela viagem pra praia, você criança no banco de trás do carro dos seus pais. Uma época pré-GPS, pré-Waze, pré-Google Maps, em que viagens longas dependiam de conhecer o caminho, saber ler placas, consultar com atenção aquele já amassado Guia 4 Rodas. No banco da frente sua mãe tenta, de maneiras cada vez menos sutis, dizer ao seu pai que talvez ele esteja perdido, já que não apenas a viagem até Piúma dura só 6 horas e vocês estão na estrada já tem umas 8, como Píúma é uma cidade do Espírito Santo e a placa mais recente dizia “bem-vindo à Araraquara”. Seu pai insiste que está tudo sob controle, sua mãe respira muito fundo, seu irmão mais novo está tentando colocar o que parece ser uma chave de cadeado dentro da própria orelha.
E ainda que essa talvez possa parecer uma analogia muito pessoal – provavelmente seus pais te levaram pra praias com menos algas -, acredito que poucas imagens descrevem melhor a trajetória do Flamengo em 2017, um ano em que começamos a temporada com um destino prometido e, ainda que tenhamos tido todos os avisos, todos os alertas, todas as orientações, continuamos seguindo na direção errada, insistindo nos mesmos vacilos, pisando cada vez mais firme no acelerador não em direção a uma paradisíaca praia, mas sim claramente rumo a uma íngreme ribanceira.
Existe ainda chance de vencer algo esse ano, chance essa para a qual iremos torcer por mais improvável que pareça ganhar um título internacional com um time incapaz de segurar o atacante Deyverson, do Palmeiras? Claro. Mas nenhum título, nem mesmo o da Sul-Americana, seria capaz de redimir totalmente uma temporada patética e trágica como foi a atual. E é exatamente de uma real compreensão do quão patético e trágico foi o Flamengo em 2017 que depende qualquer esperança de um Flamengo melhor em 2018.
É preciso aceitar que o time foi mal montado. No que seria um “grande elenco” só fomos ter um goleiro no fim do ano, temos uma defesa dependente de um veterano de 38 anos, nenhum lateral titular, um ataque que se ressente da ausência de um camisa 9 que não faz gols. Temos no grupo jogadores que não poderiam vestir a camisa do Flamengo nem mesmo em suas casas, escondidos, num quarto escuro, quanto mais na equipe profissional. Temos um desempenho absurdamente irregular, com destaque para uma incapacidade tão grande de vencer fora de casa que qualquer distância maior do que o play do prédio dos jogadores na Barra da Tijuca já afeta o psicológico da equipe.
São sinais simples, são sintomas óbvios para qualquer torcedor, mas que precisam ser reconhecidos, e o quanto antes, pela diretoria e pelo departamento de futebol. O Flamengo não precisa apenas de ajustes, ele precisa de mudanças. O Flamengo não precisa só de apoio, ele precisa de uma nova postura. O Flamengo não precisa de uma barca de dispensas, ele precisa de um verdadeiro velório viking, com jogadores colocados num navio em chamas e lançados para o meio da Lagoa Rodrigo de Freitas.
Não que nada de 2017 se aproveite, claro. Diego Alves é claramente a solução que faltava para o gol, Éverton Ribeiro tem muito a oferecer ainda, assim como Paquetá tem um grande futuro, Cuellar soma ao meio de campo e Vinícius Jr tende a colaborar pelo pouco tempo que lhe resta na equipe. Mas diante de tudo que deu errado e de todos os erros em que o Flamengo insistiu, indo desde o esquema que não funciona mais até a presença de Rafael Vaz na equipe, fica claro que 2018 precisa ser muito mais uma ruptura com a proposta desse ano do que apenas qualquer tipo de continuidade do que aconteceu nessa temporada.
E esperamos que treinador, diretoria e presidência se mostrem realmente capazes de compreender isso, já que o primeiro passo para finalmente chegar ao destino que queríamos é aceitar que até agora estávamos, sim, indo na direção errada. E ou essa compreensão vai vir, ou nem mesmo até Piúma esse time do Flamengo vai conseguir chegar, quanto mais a um título brasileiro ou da Libertadores.
Reprodução: João Luis Junior | Isso aqui é Flamengo (ESPN FC)
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Jogou no lixo mesmo ,ainda mais com tanta expectativa criada com tamanho investimento .Claro que se compararmos com outros anos não precisaremos ir muito longe que logo lembraremos algum ano pior em termos de títulos ou posição na tabela ,mas nós rubro negros queremos nosso flamengo campeão sempre ,e se antes usavam essa dificuldade financeira e falta de estrutura como desculpas pelos grandes fracassos agora queremos títulos .