Trivela: “Na roleta russa de emoções, o Fla buscou um empate memorável e superou o Flu na Sul-Americana”

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O Maracanã recebia um jogo tenso. Afinal, era dia de Fla-Flu. Dia de Flamengo e Fluminense decidirem seus rumos numa temporada pouco animadora às suas torcidas. De jogarem as suas fichas na Copa Sul-Americana, uma competição relevante o suficiente para atenuar os desgostos ocorridos nos últimos meses. E, em uma partida intensa, a tensão realmente transbordou ao longo dos 90 minutos. Não foi necessariamente um confronto de qualidade técnica. Dá para dizer que ocorreu um xadrez de erros na noite, em que as equipes se colocaram em xeque constantemente. Houve também uma roleta russa de ânimos, diante das muitas entradas duras e dos desentendimentos. Mas, ao final, preponderou a superioridade do elenco rubro-negro. Com a participação decisiva de alguns de seus jogadores mais talentosos, o Fla tirou a diferença de dois gols no placar e buscou o empate por 3 a 3 no segundo tempo. É quem sai eufórico pela classificação às semifinais, em um clássico que será lembrado por muito tempo. Firme em seus objetivos, focado em se redimir na competição continental.

O Maracanã não estava tão cheio quanto a ocasião poderia sugerir, com 41 mil presentes nas arquibancadas. A massa rubro-negra permanecia mais confiante, especialmente depois da vitória por 1 a 0 no jogo de ida. Porém, bastaram somente dois minutos para os tricolores acordarem. Após rebatida na intermediária, Trauco se descuidou do posicionamento e deixou uma avenida livre pelo lado esquerdo. Lucas recebeu livre, com tempo de dominar e pensar no que faria. Soltou um balaço no alto, sem que Diego Alves conseguisse defender. Naquele momento, o placar agregado já estava igualado.

Saindo mais o ataque e controlando a posse de bola, o Flamengo logo respondeu. Aos nove minutos, Diego sofreu uma falta na entrada da área. E o próprio camisa 10 da Gávea se preparou a bater. Ajeitou a bola com carinho e a mandou no ângulo de Diego Cavalieri, sem qualquer chance de defesa. O empate era favorável aos rubro-negros. Contudo, “pelos gols fora”, qualquer vitória pela diferença mínima beneficiaria o Fluminense, por ser o visitante da vez no Maracanã.

O que se viu nos minutos seguintes foi um jogo extremamente nervoso. Desnecessariamente pegado. As duas equipes se esqueceram da bola e passaram a exagerar na força. Entradas duras e bate-bocas aconteciam a cada instante no gramado do Maracanã, dificultando a condução da partida pela arbitragem. Parecia uma competição de virilidade, não de futebol, como se apenas isso pudesse fazer a diferença na competição continental. Demorou um tempo para que o confronto voltasse a ter novas chances claras de gol. E o Fluminense cresceu nos 15 minutos finais da primeira etapa, graças à bola parada. Primeiro, Diego Alves salvou uma bola no susto. Já aos 41, ficou vendido. Junior Sornoza cobrou escanteio e Renato Chaves subiu livre para cabecear. O Fla se perdeu em meio ao destempero e estava momentaneamente eliminado.

Na volta ao segundo tempo, o Flamengo tinha a iniciativa. Mas os rubro-negros sofreriam novamente com suas deficiências nas bolas paradas. Em mais um cruzamento na área, Renato Chaves saltou com soberania, enquanto Willian Arão permaneceu pregado no chão. O defensor cabeceou com firmeza, mandando a bola para dentro da meta de Diego Alves. Aos nove minutos, o Flu abria dois gols de vantagem. A partir de então, precisava administrar o que construíra. Mas acabou recuando demais, chamando os rivais para o seu campo.

O Flamengo se impôs no ataque, com os volantes e os laterais subindo bastante. Buscava uma maneira de abrir a defesa do Fluminense, embora se limitasse aos cruzamentos, sem criar grandes oportunidades. A torcida vinha junto e cantava mais forte. E o jogo começou a mudar aos 19, quando Reinaldo Rueda realizou sua primeira alteração, substituindo Trauco por Vinícius Júnior, com Everton recuado à lateral. O garoto dava muito mais verticalidade ao time, a partir de suas jogadas rápidas e trocas de passes. Faria a diferença.

O segundo gol do Fla saiu aos 22 minutos. E é interessante notar a construção inteira da jogada. Primeiro, o novato Romarinho desperdiçou um ótimo contra-ataque para o Fluminense, desarmado por Everton. No mesmo lance, Juan preocupou os flamenguistas ao sentir lesão e pedir a substituição (sairia pouco depois, para a entrada de Rafael Vaz), enquanto a bola não parava de rolar. Vinícius Júnior recebeu na esquerda, avançou e deu bom passe para Éverton Ribeiro. O camisa 7 foi genial, ao ajeitar a bola de calcanhar diante da passagem de Felipe Vizeu. De frente para o gol, o substituto de Guerrero não desperdiçou. Um tanto quanto apagado, sem que a bola chegasse e sem se apresentar, o centroavante resolveu. Mais importante, de qualquer forma, era a mobilidade de Éverton Ribeiro, centralizando. A maneira como o camisa 7, contratado para ser protagonista na Gávea, chamava a responsabilidade.

Este era o momento do desespero. O jogo seguiria em um bombardeio do Flamengo, pressionando bastante em busca do necessário terceiro gol. Os rubro-negros nas arquibancadas se inflamavam. Já o Fluminense buscava um contra-ataque ou uma boa parada que pudesse ser fatal. Os rubro-negros não conseguiam penetrar na área, e os tricolores encontravam claros para os contragolpes, mas sem construir as jogadas com paciência. O tempo, ainda assim, continuava a sufocar o Fla. E levou Rueda, aos 37, a substituir Cuéllar por Lucas Paquetá, deixando Willian Arão como único volante de ofício. A ocasião pedia ofensividade.

O gol da classificação não demorou a sair. Aos 38, Vinícius Júnior arrancou pela direita e sofreu falta na lateral da área, em lance bastante reclamado pelos tricolores. Pará cobrou e Willian Arão se antecipou à marcação de Lucas no primeiro pau, desviando de cabeça para dentro. O gol que premiava a insistência dos rubro-negros, enquanto punia a retração excessiva dos tricolores. O relógio guardava mais alguns minutos e o Fla permanecia com uma escalação bastante ofensiva, já com as três substituições realizadas. Abel Braga gastou sua última troca mandando a campo o centroavante Pedro, talismã na classificação contra a LDU Quito.

A bola pouco rolou depois dos 40. O Flamengo se empenhava em assegurar a vantagem e gastar o tempo, com uma boa dose de cera – exemplificada por Diego Alves, caindo por câimbras e, depois, demorando um minuto para cobrar um tiro de meta. As faltas se encadeavam. E o Fluminense, que precisava de apenas mais um gol, não teve calma para isso. Apostou nos chuveirinhos e viu a defesa rubro-negra se manter a salvo. Pior, o Fla teve a chance de matar o jogo nos contra-ataques, especialmente com Vinícius Júnior. Na melhor oportunidade, após ótimo avanço do garoto, Diego carimbou Cavalieri. Ao final, a impressão é de que a bola não rolou nem em dois dos cinco minutos adicionais. O apito final, independentemente disso, era a deixa para os flamenguistas comemorarem. Já os tricolores se amontoaram na arbitragem para reclamar das decisões.

Considerando o time extremamente jovem e as lacunas que existem, o Fluminense sai de cabeça erguida. Fez o possível ao longo da competição, embora uma eliminação para o maior rival nunca seja tragável. Vendo o copo meio cheio, ao menos a equipe pode se concentrar em sua tarefa no Brasileirão, tentando se distanciar da zona de rebaixamento. Esta é a missão de Abelão.

Já o Flamengo sai de alma lavada, mas não satisfeito por completo, diante da exibição errática. Há muito o que se fazer. Desta vez, ao menos, o talento de alguns dos seus principais jogadores valeu bastante. A cobrança de falta de Diego, a inteligência de Éverton Ribeiro e a energia de Vinícius Júnior foram fundamentais na construção dos gols. É por isso que o clube investiu tanto para formar o atual elenco. Na próxima fase, de qualquer maneira, o desafio promete ser pesado. Após ganhar o primeiro jogo na Ilha do Retiro, o Junior de Barranquilla está um passo à frente do Sport rumo às semifinais. Um adversário bem organizado e com algumas estrelas, que fará o Fla realmente sentir o peso da Copa Sul-Americana.

Fonte: Trivela/Uol

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