Promotor do Grupo de Atuação Especializada do Desporto e Defesa do Torcedor, o Gaesdest, do Ministério Público do Rio, Marcos Kac analisa os casos de violência envolvendo torcidas cariocas, mais recentemente a do Flamengo, e os danos da cessão de ingressos às organizadas.
Como está o andamento da denúncia que o MP apresentou em decorrência da investigação de cessão de ingressos a torcidas organizadas?
A denúncia foi apresentada, algumas pessoas foram mantidas presas. Agora, o processo vai seguir para colheita de provas e sentença. Oferecemos a primeira denúncia, a investigação prossegue em relação a todos os envolvidos. Novas denúncias e novas prisões podem surgir a qualquer momento. Nenhum dos envolvidos está isento de responder ação penal. Não posso falar mais do que isso porque a investigação está em curso.
Pelo que aconteceu no Maracanã na mesma semana, há um sentimento de dar murro em ponta de faca?
O que aconteceu no Maracanã foi um caso pontual e até já esperado. Você tem uma arena que comporta X pessoas, e quatro vezes mais queriam entrar. Infelizmente, sabemos que grande parte da torcida é composta por elementos à margem da lei. O Gepe não se preparou da forma como deveria, houve uma falha de dimensionamento policial. E aí aconteceu a tragédia.
Mas esse erro do GEPE, na sua visão, é corriqueiro ou pontual?
Foi uma questão pontual. Tinham 650 homens, o que equivale a dois batalhões. Mas teria que ter barreiras de contenção, policiamentos avançados ao largo do estádio, nos arredores. Na Europa, a um quilômetro do estádio, você não acessa se não tiver ingresso. Então, precisamos evoluir. Não dá para jogar tudo na conta do GEPE. Por outro lado, temos que começar a pensar sério em uma lei que está em trâmite, se não me engano, na Alerj, que prevê que os empresários arquem com parte da segurança. Não é possível colocar dois batalhões à disposição do Flamengo, o clube ganha o que ganha, e o Estado paga tudo. Existe um custo. Acho que o empresário tem que começar a contribuir. Coloca-se três, quatro batalhões para tomar conta do Rock In Rio, e o Roberto Medina bota dinheiro no bolso. Ele colhe os lucros e o Estado só entra com o valor. Policiamento, lógico, é serviço público. Mas um policiamento excessivo, que onere o Estado, acho que talvez o empresário possa contribuir de alguma forma. É uma coisa que temos que avançar seriamente.
O quanto a conivência de clubes ou de seus funcionários mina o combate à violência?
Temos duas questões: a briga entre as torcidas, que é fomentada pelos ingressos que os clubes cedem, e a situação do Flamengo. Bandidos orquestrados atuaram para invadirem simultaneamente o Maracanã. Eles invadem quatro portões e conseguem romper dois. É por isso que temos que pensar em cinturões de proteção. Muitas coisas precisam ser pensadas. O Brasil ainda não aprendeu a fazer fila. A fila começa indiana e vira um bolo. Se é morador, mostra a conta de luz. Se tem ingresso, mostra. Sobre ingressos, a cessão de entradas gratuitas é fomentadora da violência à medida em que a torcida virou uma briga de espaço e poder.
O quanto a crise financeira/institucional do Estado piora a situação?
A crise do estado faz com que as policias estejam completamente sucateadas. O aparato estatal está muito abaixo do nível que deveria estar. Isso é fato. Mas há questões adjacentes. A violência envolve a ótica penal, do processo, do crime, a ótica social, tem um estádio que não oferece o mínimo, tem escolas capengas, as doutrinas que são implementadas por aí. Isso é assunto para dias. O futebol é parte integrante da sociedade e a paixão nacional. Isso acaba respingando.
O Ministério Público gosta de adotar Termos de Ajustamento de Condutas. É o caso para a situação atual?
O TAC é um dos instrumentos que o Ministério Público pode utilizar. Tem também a investigação e tem a denúncia penal. Todos os instrumentos que tiveram ao alcance do MP serão usados de forma enérgica para coibir a violência dos estádios. Tudo está sendo avaliado, inclusive para o início do Carioca. O cenário é de eventualmente ter uma ação penal contra os envolvidos e um TAC para clubes e dirigentes.
Torcida única é solução?
A partir do momento em que se defende torcida única, você decreta a falência do Estado. O bonito do futebol e ter o duelo, no bom sentido, entre torcidas, em prol da competição. No primeiro momento, pode ser até um movimento paliativo, mas não defendo isso como forma perene de se trabalhar. A solução é um controle efetivo dos membros causadores de tumulto. Que consigamos identificar e impedir a presença nos locais das competições.
Fonte: De Prima/Lance
O quê incentiva a violência é a impunidade. Nego sabe que se bater, roubar, se matar não vai preso, e se for preso, fica 1 ano e o resto é regime aberto.
A culpa é de todos, GEPE, poder público, mas o principal culpado é o povo que parece gado e não faz nada para tomar o País para si.
O que incentiva a violência é a IMPUNIDADE dos marginais que há DÉCADAS vêm brigando/depredando/assaltando com a INCOMPETÊNCIA e OMISSÃO das autoridades policiais e do MINISTÉRIO PÚBLICO, que adora aparecer depois que o problema aconteceu, mas não faz NADA para resolver o problema ANTES que aconteça (prevenção).
Os caras que lideram as invasões são os mesmos vagabundos que marcam brigas, como a que vitimou o botafoguense no início do ano.
O que o MP fez de lá até aqui para prevenir que isso acontecesse?
Um trabalho minimamente sério e competente de investigação identificaria esses bandidos, resultando em sua prisão. Com o tempo, esse problema seria controlado.
É incrível como essas “autoridades”, que têm sua parcela de CULPA por sua incompetência e omissão, fiquem querendo dar lição de moral no Flamengo.
ja assistiu tropa de elite ? Eu te digo uma coisa, é o tráfico, as badernas, etc… que alimentam o poder do estado…Quando eles acabarem com a violencia não vão ter o que fazer… se matarem os traficantes não terão porque invadir o morro (cada operação policial tem um alto custo) e esses custos é que fomenta o estado
Pelo menos a justiça enxerga que a maior deficiencia veio da policia. Quanto ao custo, não concordo. O Flamengo e sua torcida já paga milhoes em impostos, temos direito à segurança publica, pagamos por isso! O Fla teve que pagar milhoes para jogar no Maracana, inclusive para concertar gramado, cadeiras e telões, dentre outras despesas. No passado o governo assumia as despesas de manutenção, então uma grande parte do custo já foi repassado ao Fla nesse modelo de concessionária. Sem falar nos mais de 1000 trabalhadores pagos pelo Fla, para dar segurança.
O Governo e a policia tem que parar com as desculpas, e assumir a responsabilidade da segurança publica desses eventos. Já está muito bem pago, agora se virem!