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Gabriela Moreira: “A Reinaldo Rueda, as reverências do povo colombiano”

Cuida-lo.

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Assim um periodista colombiano se despediu de mim ao deixarmos a cancha do Metropolitano, em Barranquilla, na Colômbia, na última quinta-feira. Esqueçam César e Muralha, a curiosidade dos colombianos era porque a permanência de Reinaldo Rueda estava já sendo colocada em discussão no comando do Flamengo. Técnico pelo qual jornalistas e torcedores do país nutrem verdadeira admiração.

A derrota imposta ao Júnior Barranquilla foi a terceira consecutiva no histórico do treinador. Assim havia acontecido em 2015 e 2016, na Copa Colômbia e naquela noite, com o Flamengo, pela Sul-americana. Mas muito mais do que algoz do Júnior, o “profe” ou “mister”, como o chamam, é colecionador de tentos em terras colombianas.

Os números, todos, estavam na ponta da língua de todos os jornalistas locais que me buscavam com a intrigante pergunta:

“É verdade que Rueda poderia ser demitido se perdesse esse jogo?”

Difícil responder, eu dizia. Não acho que seria demitido após a partida, mas se não chegar à classificação para a Libertadores no ano que vem, sua permanência será discutida, sim.

“Não façam isso”, diziam.

Trabalhos terminados, me preparo para gravar o que faltava, e os jornalistas continuavam a recitar todas as conquistas do treinador conterrâneo.

Em 30 meses, chegou a nove finais:

Liga Águila 2015 II; Superliga 2016; Libertadores 2016;
Copa Águila 2016;
Sul-Americana 2016; Recopa Sul-Americana 2017;
Liga Águila I 2017;
Copa de Brasil 2017; e Sul-Americana 2017.

Falando de Sul-Americana, chegou a duas finais sem perder um jogo:

Com o Atlético Nacional, 2016:
– 10 jogos
– 5 vitórias
– 5 empates

Com o Flamengo, 2017:
– 6 jogos
– 4 vitórias
– 2 empates

E ainda: o treinador colombiano que mais disputou mundiais, somando seleções de base da Colômbia; seleções principais de Honduras e Equador; e clubes, com o Atlético Nacional.

O currículo recitado me impunha uma vergonhosa constatação: conhecemos pouco o valor que é dado ao técnico fora de nossos territórios. Desde que chegou ao Flamengo, há pouco menos de quatro meses, Rueda tem buscado fazer exatamente o contrário. Pediu aos assessores uma cópia da letra do hino brasileiro. E passou a estudá-lo. Quer poder cantar e conhecer a letra do que ouve em todas as partidas do Brasileiro.

Assim também o fez o presidente do seu ex-clube, o Atlético Nacional. Estive presente na simples e sincera homenagem que o clube fez às vítimas da Chapecoense no último dia 28, no pequeno município de La Union. Andrés Rueda, sem pompas e assessores a tira colo, cantou do começo ao fim o hino brasileiro quando além dele, somente eu e o assistente que me acompanhava na missão, Fernando Cunha, o fazíamos. Além do comandante da Força Aérea colombiana, Jairo Orjuela. Fica o registro, ele também cantou, por completo o hino do país que aprenderam a respeitar.

Conversa com Muralha

Olho no olho, é coisa que os colombianos fazem bem. Rueda, inclusive. Foi assim, que fez ao chamar César e Muralha para conversar, em separado do grupo, após a fatídica partida contra o Santos, em que o titular da ocasião falhou mais uma vez na meta rubro-negra.

Na coletiva um dia antes do jogo, não revelou sua decisão sobre quem escalaria. Talvez porque não o tivesse feito diretamente aos envolvidos. Aos jornalistas que o pressionavam para comunicar a decisão, preferiu contar um caso antigo.

“Uma vez, o presidente de um clube me pressionava para tirar o goleiro titular do time, que não vinha muito bem. Eu disse a ele que não tiraria e garanti a permanência do atleta. Pois no jogo em questão, ele jogou e foi a figura do jogo”, narrou o episódio na presença dos dirigentes rubro-negros sentados nas primeiras fileiras da sala de imprensa.

Houve que interpretasse que ele pudesse estar falando do Flamengo. Discordei. Por dois motivos: porque não me parece ser esta a postura do treinador, de expor seus empregadores em público, e também porque Muralha não foi “a figura” de nenhum jogo do time desde sua chegada, em agosto. Se coubesse alguma interpretação, defendi,o caso narrado soava muito mais como uma forma elegante de dar o recado aos dirigentes rubro-negros para que não tentassem fazer o mesmo.

Narcotráfico

Saber lidar com pressão é, aliás, algo que Rueda, contam, tem no currículo. Assim seu time o fez durante todo o primeiro tempo de jogo em Barranquilla. E assim, tempos antes, soube fazer ao não sucumbir à pressão do narcotráfico enquanto treinador das seleções de base colombianas.

Jogo encerrado, triunfo conquistado, os mais de 45 mil Tiburones, como são chamados os hinchas de Júnior, saíram em silêncio. Nenhuma palavra contra a imprensa que ali estava, nenhum ato contra os rubro-negros que deixaram o Metropolitano cantando.

Por parte dos dirigentes e jornalistas colombianos, o choro também não veio em forma de reclamação contra a arbitragem, embora os óbvios xingamentos viessem das arquibancadas. Ainda pelo lado dos jornalistas, o respeito a Reinaldo Rueda, bom frisar, não se demonstra em forma da contumaz “brodagem” à la brasileira. Com simples acenos de cabeça, assim os periodistas locais _ os mesmos que mais tarde o reverenciavam _ o cumprimentaram pelas grades da zona mista.

Da minha parte, ainda antes de dormir, já finalizado os trabalhos, fui em busca de uma cerveja, que não encontrei. Os bares, das estridentes salsas de horas antes, melancólicos, não me convidavam.

Chego ao hotel e compartilho a decepção com o recepcionista. Ele responde: “Es porque se perdió. La Sudamericana es importante para nosotros”. Vou dormir com mais essa… uma Sul-Americana que Reinaldo Rueda (único título sulamericano que não tem) abriu mão ao entregá-la à Chapecoense. E a constatação de que eles sabem amar, até nos tempos de cólera.

Abaixo, em vídeos, um pouco do que os colombianos torcedores do Atlético Nacional, fizeram ao “profe” quando da despedida dele em junho:

Trecho de algumas das músicas cantadas:

“Profe Rueda, la Hinchada te agradece la Gloria que nos diste, Siempre Serás del Verde!”

“El Profe Rueda no se va, el Profe Rueda no se va, un contrato de por vida para qu se quede siempre en Nacional”.

Reprodução: Blog Gabriela Moreira

Coluna do Flamengo

Ver comentários

  • Esse HOMEM não deve sair! Moleques q tivemos muitos

  • O Brasil é realmente inexplicável!. As reações, vindas de todas as partes, quando de sua contratação, diz muito do quão os atores envolvidos diretamente no futebol, como técnicos, imprensa e quetais, cá, no país, são um misto de incompetência, corporativismo e inveja. Avante Rueda, e roguemos que sua passagem pelo CRF deixe bons frutos.
    SRN

    • Não é um deleite observar esses incompetentes locais dando fanicos com a presença de Rueda?

  • Belo texto. Vida longa a Rueda no Flamengo e que faça uma linda história recheada de grandes títulos!!

    • Belo mesmo. Raro jornalismo decente. Não se vê muito disso por aí nesses dias de socialismo doente mental.

        • Porra, Almir! Você e esse seu socialismo chato pra porra :)

          Se você quiser se "dessocializar" é só me dar um toque que eu te indico umas leituras para tirar esse encosto da sua vida.

          Pode começar com "Marx e Satã", de Richard Wurmbrand.

  • Putz, nem acredito que li um sensível texto jornalístico e de qualidade. Isto certamente é motivo para comemorar.

    Além do mais, o texto deu um belo soco na boca do estômago dos patetas que ficam abrindo suas matracas para instilarem veneno contra a honra do homem.

    E obrigado, irmãos colombianos. Mostram a cada episódio da vida que são grandes em coração e alma. Talvez um dia o nosso povinho borrado aprenda algo sobre honra com vocês. Meu respeito e admiração já possuem.

    • Obrigado por dizer as palavras que eu estava querendo dizer. O povo colombiano é exemplo para nós.

  • O povo e a imprensa Colombiana, continuam nos ensinando o que é ser patriota, povo amigo, solidário, generoso, Viva à Colômbia, Viva o povo Colombiano!!!!! Avante Rueda!!!!! Este ano você será agraciado com o título da Sul-americana, que ano passado vocês Colombianos entregaram a Chapecoense em solidariedade ao trágico acidente aéreo!!!!!

    • Concordo plenamente. A Colômbia e os colombianos merecem muito o nosso respeito e admiração. A mobilização do povo colombiano com o acidente da Chapecoense foi impressionante e surpreendente. Nos deram lição. São exemplo para nós brasileiros. Vamos apoiar o Rueda para colocar sua experiência vitoriosa em pratica aqui no Mengão.

  • "O currículo recitado me impunha uma vergonhosa constatação: conhecemos pouco o valor que é dado ao técnico fora de nossos territórios. Desde que chegou ao Flamengo, há pouco menos de quatro meses, Rueda tem buscado fazer exatamente o contrário. Pediu aos assessores uma cópia da letra do hino brasileiro. E passou a estudá-lo. Quer poder cantar e conhecer a letra do que ouve em todas as partidas do Brasileiro." SE O POVO BRASILEIRO RESPEITASSE O BRASIL E AS PESSOAS O TANTO QUANTO ESTE COLOMBIANO RESPEITA O NOSSO PAÍS, SERÍAMOS UMA GRANDE NAÇÃO.

  • Matéria maravilhosa.

    Dá uma certa vergonha ver torcedores precipitados colocando na conta do técnico recém-chegado do exterior os problemas que o Flamengo teve no ano.

    Pensem bem, o Reinaldo Rueda é o Tite da Colômbia, aliás, é muito mais vencedor do que o Tite, e merece toda nossa paciência para mostrar o que sabe fazer.

    Felizmente a maioria dos torcedores está fechada com o técnico colombiano. Ano que vem ele vai ter o time na palma da mão e aí nossa história na Libertadores vai ser bem diferente.

    • Vou repetir o que coloquei para outro rubro negro:

      "O Zé esteve mais de um ano a frente do Flamengo, teve tempo de SOBRA para participar do planejamento do ano, das contratações, da pré temporada e de tudo mais. Estrutura, contas em dia, contratações aprovadas pelo técnico. Teve elenco que pediu, ganhou reforços durante o ano e mesmo assim o time INVOLUIU.

      Vejamos o Rueda quando completar pelo menos 1 ano de Flamengo e aí poderemos comparar."

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