Começou o Campeonato Carioca. Como diria o herói nacional Macunaíma, – Ai, que preguiça. Todo mundo sabe, Carioca já foi fodão, era importante à beça, o campeão tirava muita onda. Mas a idade chega pra todos e já faz um tempão que o Carioca anda morre-não-morre, todo entubado, mal tem força pra apagar as 112 velinhas do bolo de aniversário. Mas o bicho é resistente. Principalmente porque tem alguns torcedores muito roots que resistem por ele. Tratam o moribundo campeonato com o desvelo, a fidelidade e a consciência histórica daqueles foliões cariocas que saem no Carnaval fantasiados de clóvis. O assustador bate-bola mantém viva na Zona Oeste a tradição dos clowns que o português trouxe pra Folia de Reis lá no tempo de Dom João Charuto. Os 4.340 pagantes que arrastaram seus corpos ontem até o Raulino também me assustaram, porque são simplesmente heróis, mereciam receber um incentivo pela Lei Rouanet.
Mas talvez o Carioca resista porque seja o campeonato mais difícil do mundo e um dos mais difíceis do Brasil. Pelo menos pro Flamengo. Em que outro planeta da galáxia um time se fode todo pra jogar um campeonato cujo peso de sua conquista é infinitamente menor que o peso da não conquista? Vocês conhecem bem o roteiro dessa pegadinha lógica. Se ganhar não vale nada e se perder (já aconteceu algumas vezes) é o fim do mundo e vagabundo passa mal. Quando o Dia do Julgamento chega em dezembro e a turba togada dispara veredictos a torto e a direito a frase “Só ganhou um Carioquinha” pode ser substituída tranquilamente por “Não ganhou nem um carioquinha” sem que se altere o sentido das sentenças. Se for pra ser pragmático, não vale muito à pena se esforçar demais pra ganhar um troço que além de não valer porra nenhuma ainda vai acabar dando dor de cabeça.
É verdade que há alguns anos a torcida ainda se deixava narcotizar pelos espíritos voláteis do carioqueta, e as nada surpreendentes conquistas do Flamengo subiam rapidamente à cabeça, criando a ilusão recorrente de que o Flamengo faria um Brasileiro muito bom. Era doideira pura, porque a verdade dos fatos demonstrava claramente que Carioca e Brasileiro eram dois eventos esportivos entre os quais não existia qualquer nexo causal. Eles mal se falavam. Desde 1971, marco zero da competição nacional, o Flamengo só foi capaz de conquistar o Brasileiro e o Carioca no mesmo ano em 2009, ano em que os deuses do esporte estavam de sacanagem e combinaram fazer tudo ao contrário. Vocês lembram, entre outras bizarrices o Rio foi escolhido para sediar os Jogos Olímpicos, Kleberson fez gol de título e Jason Button (quem?) foi campeão da Fórmula 1. Há um consenso, até entre os gato-mestres, que 2009, o annus mirabilis rubro-negro, foi quase totalmente desprovido de realizações paramétricas.
Há anos que o Flamengo ameaçava dispensar ao Carioca a atenção e o esforço condizentes com a sua relevância. E todo ano botava seus melhores jogadores pra disputar arranca-tocos homéricos durante 3, 4 meses do ano, aniquilando qualquer possibilidade de fazer da Libertadores uma prioridade no clube. Foi uma gratíssima surpresa ver o time do Flamengo que foi escalado para a nossa 106ª estreia no Carioca contra o simpático Voltaço. Foi bom ver molecada praticamente ignota escalada no 4-3-3, camisa raiz só com o numero nas costas, sem o nomezinho do artista, muito no sapato. Jogaram fácil, passaram o rodinho na humilde e já saíram de campo líderes invictos. Pra ninguém ficar se achando muito evitarei as citações nominais, o time está de parabéns. Tem que continuar isso, viu?
Ainda mais importante que continuar a vencer é que o Flamengo, agora institucionalmente, continue a demonstrar publicamente o meia-boquismo do Carioqueta. Não com papinho, mas com ações. Enfim é um posicionamento claro e sabemos que não é questão de valentia. Deve ter custado muito tempo e dinheiro na negociação com quem banca tudo pra chegar onde chegou. Mas traz muito mais resultado prático do que ir pro arbitral da FERJ bater boca com Rubinho e os ectoplasmas de Caixa D’Agua e Otávio Pinto Guimarães. Depois que a Liberta começar baixem logo a norma interna para que nunca mais se escalem titulares em nosso pitoresco folguedo praiano.
Aos torcedores mais empolgados vale sempre o conselho clássico para que leiam a bula para não serem mais uma vítima do maior charme do Carioca, o seu dom de iludir. Campeonato Carioca é uma droga recreativa leve, sem contraindicações. Mesmo não causando adição deve ser consumida com moderação para evitar alucinações e sonhos de grandeza sem correspondência com a realidade.
Reprodução: Arthur Muhlenberg / República Paz & Amor
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Mandou bem, ano passado mesmo ganhado falei isso aqui direto mas muita gente se iludiu e uma semana depois ganhamos mais uma eliminação vergonhosa na Liberta. Carioqueta é isso hj em dia, um torneio de pre temporada. Ganhar ou perder não importa temos que preparar a garotada e dar ritmo de jogo pra geral antes de começar os torneios a vera mesmo.
E o voltaço não quis receber 200 mil, pra levar o jogo para Cuiabá, por questões técnicas, achando que iria ganhar da garotada!!!! Ahahahah sifuh!!!
Jenson button. Nao Jason.
O erro do Flamengo/Bandeira foi dizer publicamente,entrar pra vencer todas.Isso até dia bem,mas se perde competição fraca como carioca,que colocou time titular,fica com sentimento de fracasso e carrega pressão desnecessária. Não acho pecado, aliás acho correto,utilizar a base,e reservas pra descobrir talentos e recuperar o futebol dos reservas.Enfim,se nunca derem chances a base, é desnecessário ter categoria de base e arcar seu custo. Além disso o clube,usufrui do jogador e ganha dinheiro pra reinvestir na base.Ao invés de contratar 6 meia-bocas,3 caras de mais de 30,ganhando quase 1 milhão cada.Ganhando ou perdendo o importante é dar chance a base,entrosar o time principal é ver quem pode agregar, descobrir talentos.Carioquinha não vale nada(fora a grana)
Pra mim estadual vale sim , tem que acabar essa história de desvalorizar o campeonato , não interessa se hoje o apelo é menor que antigamente , tem que valorizar a rivalidade local sim , se o campeão nao for bem nos campeonatos nacionais, ai é outra história , eu comemoro com gosto ate se o flamengo ganhar um campeonato de bola de gude , porque o flamengo é vencer , vencer , não interessa o que seja.
Engraçado é, se perder o carioca, o campeonato valoriza. Vira libertadores! Mas se ganhar, é menos que amistoso.
Flamengo tem que ganhar até jogo de baralho. Isso aqui é Flamengo!
impecável, como sempre. Mas, obviamente, para mim, o Carioca é importante para manter nossa supremacia sobre os nanicos locais. Mas esse esforço deve ser comedido. A Fórmula bizarra do campeonato, para forçar 380 clássicos na mesma competição, acaba desvalorizando os mesmos.
O Flamengo tem que ganhar mesmo, como vc disse amigo pra manter a supremacia sobre os nanicos.
E acho que já começamos muito bem pondo a garotada em massa pra jogar... só espero que coloquem muito mais vezes, na verdade seria muito bom que fosse o campeonato todo e os "titulares" fossem coadjuvantes.. jogasse alguns poucos so só pra pegar um pouco de ritmo.
Vejo esse como o cenário ideal. Os titulares precisam jogar para ganharem ritmo, mas os reservas devem fazer a maioria dos jogos, inclusive as finais, por merecimento e justiça.
Exatamente isso amigo.
SRN
O São Paulo tem supremacia contra os paulistas fora do estado, e o quarto maior campeão estadual, qual a supremacia melhor?
Mas isso é irrelevante. Nós só precisamos sustentar o posto de maior, aplicando o mínimo esforço possível.
Tem razão Arthur, belo texto!
Vamos aproveitar para testar a base, tenho impressão que ainda acharemos joias muito mais valiosas que os medalhões que a torcida anda pedindo. Senão vem um pivô tirar onda de missão cumprida ao ganhar um carioqueta, e se acha no direito de passar todo segundo semestre dando migué.
É complicado mesmo...
O carioca não vale nada,mas é uma excelente pre temporada,simula com clássicos e tal,e outra,tem que se preocupar com o jogo contra o River,se o time principal não jogar,veremos um Fla x san Lorenzo ao contrário, o time precisa jogar pra não entrar sem ritmo na libertadores...
"Deve ter custado muito tempo e dinheiro na negociação com quem banca tudo pra chegar onde chegou. Mas traz muito mais resultado prático do que ir pro arbitral da FERJ bater boca com Rubinho e os ectoplasmas de Caixa D’Agua e Otávio Pinto Guimarães"
Boa! Valeu!