Quatro anos depois, a despedida. Julio Cesar entra em campo neste sábado pela última vez como jogador profissional. A partida contra o América-MG, às 19h (de Brasília), pela segunda rodada do Brasileirão, será a derradeira da carreira de um dos maiores goleiros do Brasil, do Flamengo e da Inter de Milão. Trajetória que o goleiro passou a limpo com o Globo Esporte e revelou por pouco não ter abreviado há quatro anos.
O 7 a 1 diante da Alemanha fez com que Julio anunciasse a aposentadoria para familiares e companheiros do grupo comandado por Felipão. Ideia demovida com a proposta do Benfica, conforme disse em bate-papo de cerca de 40 minutos onde relembrou os momentos mais marcantes da carreira:
– Um país (Portugal) e um clube (Benfica) que me abraçaram após uma situação muito dramática na minha carreira, que foi o 7 a 1. Eu, com o emocional elevado, até me despedi do futebol lá na Granja Comary. Levei minha família e disse para o grupo que ia parar de jogar.
Os quase 40 mil ingressos vendidos antecipadamente mesmo com o time sendo muito questionado mostram a grandeza de Julio Cesar para torcida do Flamengo. A previsão é de um turbilhão de sentimentos para o sempre emotivo ídolo, que se divide entre a ansiedade por voltar ao Maracanã e a concentração com os últimos 90 minutos de bola rolando na carreira.
– Não imagino (como vai ser). Sei que vai ser um dia especial, emocionante, mas só o momento para descrever tudo que me aguarda. Nesses dias que estão antecedendo, estou tentando me controlar bastante emocionalmente. É um momento especial para mim, mas é um jogo importante de Brasileiro e não tem que ter oba-oba. Venho trabalhando a cabeça para isso.
Com seis clubes e quase 30 títulos na carreira, Julio Cesar se despede do futebol com a sensação de dever cumprido. E não somente pelas conquistas no gramado:
– Foram 21 anos brilhantes. De muitos altos e baixos, mas coleciono mais momentos felizes do que tristes. Fiz um resumo rápido e achei que era o momento. Temos que valorizar cada momento. A vida não é só de momentos legais, especiais. Há os dois lados da moeda. Procuro analisar friamente o quanto errei e aprender para errar menos daqui para frente. Sou um cara privilegiado por ter tantas pessoas que me acompanharam, estiveram ao meu lado, vibraram, torceram, choraram…
Pelo Flamengo, foram 286 jogos – o terceiro goleiro que mais atuou pelo clube – e seis troféus. Confira abaixo os trechos da entrevista completa de Julio Cesar:
Tri Carioca
Para um garoto que começou no clube, conquistar um tricampeonato é um momento mágico. Foi ali que tudo começou, me consolidei no Flamengo e foi um dos momentos mais felizes da minha carreira.
Fla x Flu de 2003 / Críticas a Evaristo
Foi um momento de imaturidade, com o emocional a flor da pele. Quando tomamos decisões baseado no emocional, é complicado. Foi o que aconteceu. Estava de cabeça quente. Depois, conversando com o Evaristo, ele me explicou bem o contexto. Fui infeliz nas minhas declarações. Pedi desculpas a ele, mas o mais complicado foi ter jogado a torcida contra minha própria equipe. Um momento de reflexão e arrependimento.
Melhor goleiro da Europa em 2010
Representou mais do que eu sonhava. Foi um momento mágico. Parei e pensei se merecia tanto. Você adquire prestígio internacional. É indescritível. Foi motivo de muito orgulho.
Identificação com o Benfica
Sem hipocrisia, os títulos são legais para caramba, uma carreira vitoriosa, mas o mais importante é se sentir querido. Obviamente, não agradei todos, mas por onde passei entrei e saí pela porta da frente. Acredito ter sido um cara muito querido pelos companheiros e isso não tem valor, é imensurável.
Hoje, no Flamengo, você ver meninos de 17, 18, 19 anos pedindo para ficar até o fim do ano. Isso é o que tenho de mais valioso e carrego. Se sentir querido, é muito bacana.
Família
(Julio Cesar chora muito) Fui muito cedo para Europa, 24 anos, jovem atrás de um sonho. A família foi o alicerce para que eu conquistasse tudo que conquistei. Quando falo com a Susana, não falo no singular, falo conquistamos. Se eu consegui vencer, ela teve um papel fundamental. Ela é o equilíbrio. Indo para Europa jovem e solteiro, talvez não fosse uma vida tão vitoriosa.
A Susana largou a vida dela para ir embora viver a vida de um cara por quem se apaixonou. Não é fácil. Ela sempre foi muito mais forte do que eu, muito decidida do que queria. Veio o Cauetzinho, a Giulinha para enriquecer ainda mais a parceria. Esses são os maiores títulos que tenho na vida. Minha família foi responsável por me dar o suporte suficiente para desempenhar meu trabalho. São as três pessoas que se uma bala de canhão vier na direção, eu me jogo na frente sem dúvidas.
7 x 1
Foi um impacto muito grande. Foi uma coisa que ninguém imaginava. Todos que tiveram a oportunidade de participar daquele jogo fizeram uma reflexão para o melhor, o que tem que tirar de aprendizado. E ser forte para olhar para frente e seguir. O mundo não para ali. A vida continua e temos que estufar o peito para seguir cada um com sua caminhada e projetos. Foi isso que tentei impor no meu dia a dia. Temos que olhar para frente. Foi quando o Benfica me abraçou.
A (dor) pior do mundo. Sabendo que estávamos jogando uma Copa em casa e queríamos proporcionar aos brasileiros a alegria, mas não aconteceu. É complicado até raciocinar. Quatro anos depois, conseguimos falar mais tranquilo a respeito, mas dói. Dói ainda.
Matéria produzida por Eric Faria e Cahê mota, com colaboração de Janir Júnior, retirada do Globo Esporte [CONFIRA ORIGINAL]
MITO!
Merece todas as glórias
Melhor goleiro que eu já vi jogar no Flamengo.
Em segundo lugar foi o Raul.
Com aquela seleção toda fora de esquadro, o Júlio foi um dos poucos que se salvou, tanto que a seleção passou suado nos pênaltis contra o Chile. Justiça feita, não teve a menor culpa de ter a sua frente uma porcaria de zaga e ter levado 7 gols. Saia de cabeça erguida, como você entrou e obrigado por tudo que fez ao Mengão.
Flamengo sempre bem servido de ótimos goleiros.
SRN!