É sempre agressivo dizer que um time tem a obrigação de vencer. O futebol é um esporte singular, diferente de todos os outros, pois trava um duelo permanente com a possibilidade de o favorito absoluto tropeçar no mais fraco, conhecido na intimidade como zebra.
Há quem garanta até que a fantástica popularidade do jogo em qualquer lugar do planeta ocorre justamente por causa do elemento surpresa, como se a beleza dos movimentos, e outros nobres aspectos, não contassem. No entanto, apesar de tudo, o Flamengo tem a obrigação de vencer o Emelec nesta quarta-feira, no Maracanã, caso contrário o prejuízo para o clube será geral.
O time morrerá pela quarta vez consecutiva na primeira fase da Libertadores, e poderá ocorrer mais uma reação de conseqüências trágicas em torno do estádio. A galera não terá mais paciência com o treinador, que ainda não teve uma prova definitiva, e que deverá cair. A torcida vai perder a motivação e a média de público no Brasileiro vai despencar. E os cartolas que brigam pela reeleição provavelmente serão derrotados no pleito previsto para o fim do ano.
Vale recordar que o Emelec é um adversário sem muita qualidade, que ainda não ganhou na competição, e cujo técnico, o uruguaio Alfredo Arias, está de saída do clube, por admitir publicamente que os últimos resultados da equipe são ruins.
Será mesmo que é tão difícil assim superar o time equatoriano? Na entrevista desta terça-feira, o zagueiro Juan foi enfático. “Temos que controlar a ansiedade, mas não podemos ser passivos. Temos que ter a postura de quem quer vencer. As últimas partidas no Maracanã nos deram ensinamentos. Cabeça no lugar, pensar o jogo, e buscar a vitória”, disse.
Parece que a receita é esta. Evitar aquela euforia sem muita responsabilidade, o sentimento de que vai golear quando quiser, que atrapalhou o suficiente no empate de 0 a 0 com a Ponte Preta, mas ao mesmo tempo mostrar ao adversário desde o começo que o Flamengo é grande, manda no Maracanã, e está na Libertadores com pretensão ao título, e não como mero participante, como tem sido em edições restantes.
É importante afirmar aqui que há sempre gente sem muita intimidade com o futebol em tais jogos, e que começa a vaiar depois de 15 ou 20 minutos, porque nunca ouviu falar no adversário, e daí o considera apenas um sparring, que está ali para ser devidamente espancado.
Logo, é preciso evitar a insatisfação gratuita e agressiva, e os mais veteranos, que conhecem efetivamente o velho esporte bretão, devem impedir que essas criaturas, torcedores eventuais, se manifestem.
Pois é. O jogo é de vida ou morte para o restante da temporada. Assim, vale repetir, o Flamengo tem a obrigação de vencer.
Reprodução: Roberto Assaf