O sorriso escancarado e a rabiscada diante da arquibancada após cada gol indicam algo diferente. Leveza. Coisa de moleque. Não molecagem. Mal completaram 20 anos – um ainda está longe disso – e já entendem tão bem como se comunicar com a massa. Sai ao natural, sem força. Depois de tantos milhões investidos e tanta frustração, o Flamengo olhou para si e se reconheceu. Quase que por acaso, é verdade. O meia que nem no banco estava virou centroavante, ponta e volante até ser, sim, meio-campista onipresente. O guri de 45 milhões de euros, às pressas, pulou degraus. Em dias já estava lá entre os profissionais com a camisa ainda folgada gingando frente aos adversários. Lucas Paquetá e Vinicius Junior. Responsáveis por formar a ponte com arquibancada. Criar uma atmosfera. Algo que não se compra. Forma-se naturalmente de tempos em tempos. É necessário ter atenção para entender. Compreender um momento especial.
Líder absoluto do Campeonato Brasileiro, o Flamengo tem enormes méritos. Jogo bem planejado, organização, medalhões funcionando, estratégia de Barbieri. Mas no futebol é necessário criar uma atmosfera vencedora, positiva. Construir uma ponte imaginária entre arquibancada e campo capaz de tornar o pacote diferente. Espalhar uma alegria quase palpável. Dois que são, na verdade, um só. Time e torcida. Clube e sua gente. Paquetá e Vinicius são a ponte deste Flamengo. Representam, em tão pouco tempo, tanto. Com a efetivação dos garotos no time titular, o astral mudou. O Maracanã pulsa com os garotos citados nas escalações. Não é, mesmo, um apoio trivial de torcedor. Paquetá e Vinicius são a cara do que o rubro-negro deseja.
Elétricos, alegres, provocadores, ousados. Competitivos e técnicos. Risada escancarada, passinhos. Uma alegria juvenil contagiante. Neles, o torcedor se reconhece. “Isso ali é Flamengo!”, apontam na arquibancada, de braços abertos. Uma felicidade que preenche. Uma risada frouxa. Milhão algum compra isso. É espontâneo, natural. Uma identificação que Adriano, o Imperador, tinha com a arquibancada. Cria da casa, sangue fervendo nas veias, desejo de vencer, colocar a camisa no topo. Faz falta a todo clube. É tarefa essencial mantê-los. É missão da diretoria do Flamengo manter a dupla, ao menos, até o fim do ano.
Pois, claro, todo futebol europeu se deixa contagiar pela alegria dos moleques. Jogam futebol com alegria. Enchem os olhos. Querem, com milhões, trazer um pouco de tudo isso para si. Vinicius está negociado. Cabe ao Flamengo entrar em um avião, ir a Madrid e convencer urgentemente o Real de que mais seis meses de alegria podem fazer toda a diferença. Para Vinicius, para o clube. Paquetá, 20 anos, já é vítima de assédio. Ingenuidade pensar que vai durar mais do que um ou dois anos no Ninho. Há forças impossíveis de combater. Mas, sim, é possível adiar a despedida. Tornar os garotos o ponto de retomada. O Flamengo que tanto se reconstruiu nos últimos anos precisava do sopro de renovação no futebol. Em campo. Reencontrar identidade, o tal sangue rubro-negro. Moleques nascidos no Ninho e que queiram vencer não por si, mas pela ideia de ter um clube do coração. Este não é o Flamengo de Diego, Flamengo de Everton Ribeiro. É o Flamengo de Lucas Paquetá e Vinicius Junior. É simbólico. A luta do clube para manter a sua ponte com a arquibancada e estender a alegria é primordial.
Reprodução: Pedro Henrique Torre/ Chute Cruzado
Foto: Gilvan de Souza
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Ver os jogos do Fla com Vinícius e Paquetá é uma alegria muito grande, algo que o Fla não tinha ha quase 20 anos, e vai ser triste, muito triste pra mim se na volta do cam.brasileiro não ver nenhum dos dois em campo, só um já vai ser ruim, os dois, então...Claro que sempre continuarei acompanhando independente das circunstancias, mas vai parecer que uma "alegria" ou um algo a mais estará faltando ao ver os jogos do Fla sem os 2 mlks de ouro.
Fantástico o texto, tiro o chapéu. Lógico e emocional ao mesmo tempo como o mutualismo Vinicios/Paqueta que vc destacou. Imagina então se o Léo Duarte cresce ainda mais e toma conta da zaga... E se o Lincoln faz o que o Dourado não consegue??? ouso ainda imaginar q o Mateus Sávio poderia voltar a jogar bem...
Um homem pode sonhar, certo???
Só dependemos do Real. É um rítmo contagiante parecido ao 2009, com Pet, Adriano e cia.
Ainda tem o Felipe Viseu. Que também entra nesse sentido de progressiva.
Parabéns pelo texto. Mas infelizmente temos que aceitar a realidade que o Vini malvadeza vai embora.
Excelente texto, escrito com emoção mas tbm com razão, quando diz que o Flamengo de Diego não é o mesmo Flamengo de Paquetá. Porém, custou pra acharem um lugar no time pra ele.
Sempre lembro que, no início do ano, sugeri (apenas sugeri) que Carpeggiani escalasse Paquetá como segundo volante, como fez Tite no Corinthians com Renato Augusto, em 2015. Não estava dando certo jogar com 2 volantes de ofício, não tínhamos saída de bola e não tinhamos marcação, apesar dos dois volantes. Alguns que leram isso classificaram a minha sugestão como "burrice", "idiotice", chegaram a sugerir ironicamente que eu virasse treinador, e outras coisas menos suaves. Aí vem Barbieri e coloca o moleque de 2o. Volante. E lá vieram: "estagiário", "burro", "imbecil", "Volta Rueda!", "tira o Éverton Ribeiro!", etc... A saída de bola melhorou, e a marcação se multiplicou com a disposição do garoto. Ele ainda é encontrado em campo na área adversária, dando passes açucarados, dribles desmoralizantes que escancaram qualquer defesa, belos gols e deu outra dinâmica ao meio campo, fazendo Diego e Éverton Ribeiro melhorarem e produzirem. E agora, merecidamente, a minha humilde sugestão deixou de ser uma soberba imbecilidade pra se transformar numa "jogada de mestre" de Barbieri... Coisas da vida, que só mostram uma coisa: nada é impossível, no mundo da bola. Júnior era lateral direito de origem, se consagrou na lateral esquerda e, aos 38 anos, foi campeão brasileiro em 1992 jogando como meia. Juan era atacante quando começou, alguém notou algo e mudou, e virou um craque na 4a. Zaga. Quando existe o talento, fica mais fácil resolver o problema.
Paquetá, hj, faria muita falta se saísse. Não tem ninguém no elenco que jogue como ele. E Vini Jr. tbm, pela mesma razão.