É bastante provável que uma grande parcela da torcida tenha franzido a testa diante da informação de que Maurício Barbieri iria treinar o Flamengo. Alçado ao comando da equipe no caos da saída de praticamente todo o departamento de futebol, o treinador interino chegou ao comando do time de maior torcida do Brasil tendo na bagagem experiências apenas em equipes como Audax, Red Bull e Desportiva Brasil, além de uma breve passagem pelo Guarani, onde disputou a série A2 do Campeonato Paulista.
Somando a isso a pouca idade de Barbieri, que tem 36, mas aparenta menos ainda, e seu jeitão de professor de educação física de escola particular que fala “nunca esqueçam que no fim do dia somos todos vencedores” quando o time está perdendo de 5×0 na primeira rodada do campeonato interclasses, e você tinha o que parecia ser a pior aposta possível no pior momento possível. Um treinador jovem e inexperiente, em um clube de massa, comandando um elenco que parecia acomodado, sem tempo para realizar grandes mudanças de filosofia, no meio das competições mais importantes do país.
Mas provando que dentro da Gávea a mística do técnico interino é tão forte que o comandante da equipe fraldinha de futsal, se promovido ao time principal, tem mais chances de sucesso do que uma comissão técnica formada por Guardiola, Mourinho, um holograma de Telê Santana e o próprio Espírito Santo, é exatamente Barbieri que parece ter dado jeito em um Flamengo que parecia fadado a ser uma bagunça tanto tática quanto emocionalmente.
E tranquilo como parece ser, Barbieri fez isso sem barulho, sem espalhafato, contando no máximo com o fator motivacional do peculiar duelo “pipoca x café” que aconteceu antes do jogo contra o Ceará. Sem bater de frente com o elenco, sem cobrar reforços, sem nem mesmo mudar o esquema tático de Carpegiani, o novo treinador conseguiu mostrar que esse Flamengo podia muito mais do que vinha demonstrando.
A maneira como transformou Cuellar, que já era um dos destaques da equipe, no coração e no pulmão da equipe rubro-negra; a forma como recuou Paquetá no meio de campo e colocou o garoto como parte essencial da armação de jogadas; a maneira como conseguiu matar Rodinei e Renê e substituí-los por dois outros jogadores sem que nenhuma autoridade percebesse; tudo isso mostra como Barbieri foi capaz de entender as carências do Flamengo, muitas delas já presentes antes da própria chegada de Carpegiani, e buscar soluções, dentro do próprio elenco, sem realizar qualquer mudança drástica na organização da equipe.
Temos hoje um Flamengo perfeito? Claro que não. A equipe ainda não aprendeu a jogar com Henrique Dourado, o time muitas vezes tem dificuldades para se articular no contra-ataque, partidas que poderiam ser vencidas com certa tranquilidade ainda acabam se transformando em dramas sem a menor necessidade. Mas os dias do Flamengo sem proposta de jogo, que vivia de chuveirinhos, jogadas individuais e vacilos dos adversários, parecem ter chegado ao fim, feito esse que não é pouca coisa se levarmos em conta todas as partidas nesse ano e no ano passado em que o Flamengo parecia ter como único plano para a partida cruzar a bola na área até todos os torcedores desistirem de viver.
É muito cedo para dizer que Barbieri veio para ficar ou mesmo que esse é o começo de uma trajetória vitoriosa à frente da equipe rubro-negra. Mas baseado no que vimos até agora é possível sim acreditar que a mística do substituto vive e que, assim como Carlinhos, Andrade e tantos outros, o nosso atual substituto – que deve ser efetivado nos próximos dias – pode ter vindo do banco de reserva dos treinadores para escrever outro capítulo vencedor na história do Flamengo. E se tudo der errado, claro, sempre teremos o treinador do sub-20. Soube que vem vindo forte por aí.
Reprodução: João Luis Jr. | Blog Isso Aqui é Flamengo
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