RMP: “Um Fla-Flu com o Bagá”

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Ele chegou de surpresa em Ponderosa, minha casa de Itaipava, onde passo, atualmente, a maior parte do tempo. Por pouco não foi estraçalhado pelo Rin Tin Tin, meu fiel pastor alemão, que ao ver um vulto pular o portão, disparou rampa abaixo, latindo enfurecido, dentuça à mostra e pelos eriçados, pronto para destroçar o invasor. A sorte foi que ouvi a algazarra e tive tempo de parar a fera, gritando da minha varanda, o comando salvador. Refeito do susto, o intruso abriu a bocarra, exibiu o sorriso de muitas gengivas e poucos dentes e disparou, na maior cara de pau.

– Chefia, vim ver o jogo com o amigo!

Claro, era o Bagá. Que, sabe-se lá como e por que, subiu a serra e resolveu me fazer “uma visitinha”, bem na noite do Fla-Flu.

– Já viu a surpresa? – perguntou, enquanto se aboletava, sem cerimônia, no pufe próximo da TV. O juvenil escalou o colombiano (Marlos Moreno) na direita! Se der certo, vira gênio. Se der errado…

A observação do ciclope procedia. Esperava-se que o substituto de Diego, suspenso pelo terceiro cartão amarelo, fosse Jean Lucas ou Jonas. A escolha de qualquer um dos dois reforçaria o meio-campo, que contava também com a volta de Cuellar. A opção de Barbieri foi ousada. Meteu Moreno no time, puxou Everton Ribeiro para a posição de Diego e manteve o esquema usado quando o camisa 10 está em campo.

– Tá me lembrando o Felipão contra a Alemanha, chefia. Em vez de reforçar a “meiúca”, veio com Bernard no lugar do Neymar e…

– Vira a boca pra lá, Bagá!

Pra distrair a fera, ofereci cerveja e biscoitinhos, na esperança de que me deixasse em paz, quando a bola rolasse. Qual o quê!

– E o moleque? Vai embora agora, ou não? Se sair, vai fazer uma falta danada! Quem entra ali na frente, pela esquerda?

Comecei a dizer que o Flamengo provavelmente contrataria alguém, mas o ciclope não estava interessado nas minhas informações.

– O juvenil pode puxar o Paquetá pra esquerda e escalar o Jean Lucas ou o Jonas no meio – seguiu seu diálogo que mais parecia um monólogo.

Menos mal que a bola rolou e o colosso de ébano calou-se para prestar atenção na telinha. Dez minutos de jogo, só dava Flamengo.  Vinícius Jr aprontou pela esquerda, foi no fundo e cruzou rasteiro. Cuellar chegou um segundo atrasado e a bola cruzou toda a área. O urro do Bagá sacudiu a serra, espantou os morcegos, os sapos e as corujas e agitou a cachorrada. Pelo sim, pelo não, Rintin, protetor, veio se deitar ao lado da minha poltrona, olhos fixos no negão.

Mais um lance do moleque obrigou Júlio César a espalmar e o gigante de ébano disparou, animado:

– Vai ser goleada, chefia. Goleada! – repetia, o olho rútilo, como um personagem de Nelson Rodrigues.

Mas o Fluminense foi avançando aos poucos e equilibrou o jogo. E Bagá viu um aspecto positivo no equilíbrio:

– Vai ter mais espaço pra gente, na frente.

Coincidência ou não, contra-ataque e pênalti em Moreno. Bagá exultou:

– Enfim, o Dourado vai fazer um gol!

– O Júlio César conhece muito bem o Dourado – argumentei.

– GOOOOOOOOOOOOL! Sai pra lá, secador! – urrou o colosso de ébano. Pra alguma coisa, o cone tinha que servir, né?

E Bagá gargalhava, balouçando a pança, feliz da vida. No finalzinho do primeiro tempo, em novo contra-ataque, Vinícius Jr. obrigou o goleiro do Flu a grande defesa. Coisas do futebol, na sequência, quase o Fluminense empatou. E Bagá já pedia o final do primeiro tempo:

– Acabou, seu juiz! Acabou!

Acabou mesmo. Com 1 a 0 para o Fla.

– Justíssimo, chefia. Justíssimo. Podia ter sido até mais.

Após o intervalo, Abel mexeu no time e o Fluminense se mandou para frente, tentando o empate. Com três minutos, Diego Alves já era obrigado a fazer boa defesa. E Bagá se inquietava:

– Se ficar recuado, vai acabar entregando o ouro. Acorda, treinador juvenil! Tem que fazer o segundo e matar o jogo! Matar, logo!

A partida, porém, continuava viva e Barbieri colocou Jean Lucas, no lugar de Moreno, montando a escalação que se esperava no início do Fla-Flu. Em seguida, ainda trocou Dourado por Vizeu. Bagá gostou:

– É ele quem vai meter o segundo gol.

Só que a pressão tricolor era cada vez maior. Mas num contra-ataque bem armado com Paquetá (o melhor em campo) e Everton Ribeiro, a bola chegou limpa em Vizeu e:

– EU NÃO DISSE? EU NÃO DISSE, CHEFIA! SOU UM PROFETA!

Visionário ou não, quando o juiz apitou o final da partida, tratei de ir apagando a TV e me despedindo do ciclope, que ainda queria ficar vendo os intermináveis programas esportivos com os comentários e as entrevistas pós-jogo. A saída, foi acionar discretamente o Rin Tin Tin, que logo se aproximou, rosnando e fazendo o Bagá achar melhor se levantar e se despedir. Desceu a minha ladeira e, depois, a serra, assobiando, feliz da vida. E a paz voltou a reinar em Ponderosa.

Reprodução: erreemepe.com

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  • Tava esperando qualquer coisa para cornetar. Não conseguiu, veio com textinho de cronista desocupado.

  • ???

  • Vou esperar sair no Netflix…

  • Não sei o que é pior: as colunas sérias ou essas crônicas “engraçadinhas” do RMP.

    • pois eh, nem li…

    • Achei bem racista, o sinhozinho deixando o escravo assistir o jogo com ele, mas com o dog ali do lado de olho no negão acabou o jogo, vaza negão, volta pra senzala…

      • Forçou heim kkkkkkk

  • “Mas num contra-ataque bem armado com Paquetá (o melhor em campo) e Everton Ribeiro, a bola chegou limpa em Vizeu”.

    Não foi um contra-ataque. Foi uma jogada trabalhada desde a defesa, onde só Diego Alves e Cuéllar não tocaram na bola.

  • gostei, bom conto de fadas rubro negro!
    e todos viveram felizes para sempre até a próxima rodada….
    no próximo jogo eu aposto que entra o jean lucas, pois o diego de “segundo volante” não estava dando muito #serto… ae melhor por o JL no lugar do Paquetá, deixar o ER na direita e Diego na dele mesmo, meia clássico….
    SRN

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