Arthur Muhlenberg: “Lidera, Flamengo!”

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Que o país inteiro está envolto por uma nuvem de ignorância não é novidade pra ninguém. Tampouco é desculpa para que a Nação Rubro-Negra macaqueie os maus hábitos cultivados a estibordo e passe a se orgulhar da própria incapacidade de compreensão dos fatos. E o fato mais relevante da 15ª rodada do Campeonato Brasileiro é que o Flamengo foi à Vila Belmiro e não perdeu. Qualquer um que não padeça de alergia às estatísticas sabe que nos últimos 50 anos o Flamengo só conseguiu ganhar deles lá duas vezes. Donde podemos concluir, sem correr o menor risco de exercício ilegal do viralatismo, que do ponto de vista do planejamento o empate foi um bom resultado. Ninguém é obrigado a comemorar, mas se quiser pode, porque ninguém tem nada com isso e você comemora o que você quiser, fodam-se as patrulhas.

Para os que acompanham o campeonato a indignação rubro-negra com o empate soa artificial, parece ser motivada por motivos subalternos e alheios ao que rola dentro das 4 linhas. Tanto que as teses que sustentam a revolta juvenil vão desde o mau momento do adversário que chafurda nas imediações da lama mefítica da zona de rebaixamento, aspecto meramente conjuntural e de reduzida capacidade de influência no âmbito de um clássico nacional, à inominável babaquice de atribuir ao terceiro uniforme superpoderes deletérios sobre a tradição rubro-negra. Cá pra nós, uma asneira comparável à expressão xucra “nossa bandeira jamais será vermelha” contumaz frequentadora das mais despreparadas bocas de barraco ideológico.

O Flamengo empatou um jogo em que poderia ter sido derrotado sem qualquer sombra de injustiça. Jogamos menos do que deveríamos, mas talvez tenhamos jogado o máximo que a formação que foi ao gramado tinha a oferecer. O gol no início nitidamente arrefeceu o ímpeto flamengo de mandar o Santos definitivamente pra casa do caralho, as estrelas mais uma vez não brilharam, o time recuou e deu espaço pros caras. O castigo chegou após uma jogada muito maneira de Rodrigo, aliás, é de extremo mau gosto ficar elogiando o adversário durante a peleja, mas agora tá tranquilo dizer que o moleque é muito liso e que provavelmente o Santos vai sofrer quando perceber que fez um dos piores negócios do mundo ao vende-lo precocemente pro Real Madrid.

Um sofrimento que o Flamengo já está curtindo agora. Porque o Vinicius Junior não levou apenas seu futebol alegre, agudo e pra frente pro Real Madrid. Também foi pra Espanha junto com ele o Flamengo voador de antes da Copa. Ficamos com 45 milhões de euros, mas perdemos a saída rápida pro ataque e a capacidade de surpreender as defesas adversárias. Desde o jogo com a São Paulo o Flamengo tem sido de uma previsibilidade irritante. Previsibilidade que muito se deve à manutenção de Guerrero no comando de ataque. O peruano não acerta uma, hoje é um cristal partido, um clássico caso de ex-amor. A torcida não consegue mais ver em Guerrero uma qualidade sequer. Melhor sair do que renovar, é evidente. Que é exatamente o que a diretoria, com seu talento inato para abraçar posições impopulares, sinaliza querer fazer.

Afora as soberbas atuações de Cuellar e Léo Duarte o Flamengo não mostrou na Vila Belmiro nenhum argumento que o credencie a manter a liderança do campeonato por muito tempo. Lento, pouco incisivo e com extrema dificuldade em ser objetivo, o time escancarou fragilidades que estavam bem disfarçadas antes da parada para a Copa. Como nas laterais, especialmente na esquerda, onde sem o auxílio de Vinicius Junior Renê voltou a mostrar aquele futebolzinho de quem mora longe e não possui o numero de amigos suficientes para ser o titular do Flamengo. Não que na lateral direita estejam jogando bola, mas nesse caso deve ser exatamente o contrário, é que Rodinei parece ter muitos amigos.

Mas a maior das fragilidades reveladas na noite de ontem é que o Flamengo gastava 35 toques na bola para chegar até a zona do agrião santista enquanto o Santos só precisava de 4 ou 5 toques pra bagunçar a nossa defesa. O que mostra a inutilidade e a irrelevância do quesito Posse de Bola nesses scouts da vida. Já sabemos que Diego é um penteador de bola, dá sempre um totó a mais, mas estávamos aprendendo a conviver com isso, compensando com a juventude e incisividade de Paquetá. Que é outro que voltou mal da Copa do Mundo, se perdendo em jogadinhas complicadas e muito longe do ritmo e explosão que vinha exibindo desde que Rueda o efetivou em 2017.

O Brasileiro é longo, há tempo pro Flamengo consertar os defeitos e retomar o bom momento. Mas pra isso o estudioso Barbieri vai precisar falar grosso, barrar quem não está bem e dar moral pra quem pode levar o time pra frente. Claro que se chegarem os reforços prometidos esse processo pode se acelerar, mas é melhor não contar com o ovo no rabo do atlético, é ano eleitoral e a tendência, sempre, é que tudo piore. Os fatos estão mostrando a cada dia que ser líder não basta, qualquer imbecil pode ser líder. O legal é fazer por onde e merecer a liderança.

Mengão Sempre

Reprodução: Arthur Muhlenberg/República Paz e Amor

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  • Como sempre colocando pitaco político no Flamengo. Com sempre só critica um lado da imbecilidade ideológica porque gosta e defende o outro lado tão imbecil quanto da bipolaridade hedionda ideológica brasileira. Menos política e mais Flamengo.

  • Arthuzão sempre mandando muito bem nos textos.

  • Ótimo texto!

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