GE: “De carona na montanha-russa: a história “improvável” de Matheus Savio”

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Proposital ou sem querer? A resposta sobre a intenção no gol que abriu o caminho para a vitória do Flamengo sobre o Botafogo passa longe de ser a primeira que Matheus Savio tem que dar sobre os rumos que o acaso deu à sua carreira. Em apenas três anos como profissional, o meia-atacante acostumou-se a lidar com o improvável, para o bem ou para o mal.

Seja por gols originados por cruzamentos, por escalações surpresas ou por um rebaixamento que abriu as portas de volta para o Rubro-Negro, o jovem de 21 anos surfa a parte alta de uma trajetória marcada pelo inesperado.


Vilão em Buenos Aires


Assim como a escolha para substituir Marlos Moreno horas antes da partida mais importante da vida pegou muitos de surpresa, e o transformou em decisivo na vitória sobre o Botafogo, ninguém imaginava que fosse ele a opção de Zé Ricardo para segurar a classificação às oitavas de final da Libertadores do ano passado.

A atuação ruim diante do San Lorenzo deixou marcas, o futuro em vermelho e preto era até improvável, até que o rebaixamento do Estoril antecipou o retorno aos braços de um Maurício Barbieri disposto a recuperar o garoto.


Quase herói em Portugal


O contrato de empréstimo ao clube português inicialmente duraria mais um ano, até meados de 2019. E o brasileiro passou raspando pelo posto de herói do Estoril. Literalmente! Se as seis exibições apontam para um pouco aproveitamento, o gol contra o Vitória de Setúbal, na penúltima rodada do Campeonato Português, deu sobrevida ao Estoril, que precisava apenas vencer o Feirense, em casa, para se manter na elite.

Matheus Savio atuou pouco no Estoril (Foto: Divulgação/Estoril Praia)

Foi a única partida em que Matheus Savio atuou os 90 minutos como titular na carreira profissional. Foram dele as três finalizações mais perigosas, uma delas tirando tinta da trave (veja no vídeo abaixo), mas o empate sem gols decretou o rebaixamento e ativou uma cláusula no contrato. Caso o Estoril não permanecesse na elite portuguesa, a “Vitrine” não faria mais sentido e o retorno ao Brasil seria o caminho natural.


O artilheiro do improvável


Com a parada da Copa do Mundo, Matheus Savio teve tempo para se readaptar ao clube de origem e surgiu como surpresa de Barbeiri em treinamentos, durante a partida contra o São Paulo e, principalmente, como titular no clássico com o Botafogo. E a bola que raspou a trave e não salvou o Estoril voltou a fazer um percurso comum com a camisa rubro-negra: até o fundo das redes.

Matheus Savio garantiu em entrevista que a intenção era mesmo finalizar direto para o gol de Jefferson. Tudo bem. Mas se fosse um cruzamento que resultou em gol, não seria novidade.

Dos outros cinco gols pelo Flamengo, três aconteceram desta maneira. Inclusive o mais recente antes do clássico, e talvez o mais marcante até então. Uma semana após ser vilão diante do San Lorenzo, o garoto viu o cruzamento morrer nas redes do Atlético-GO em lance decisivo pelas oitavas de final da Copa do Brasil. Pressionado, desabou no chão do Serra Dourada e chorou.

Da mesma maneira, tinha balançado as redes do Bonsucesso, em 2015, e do Atlético-MG, na rodada de abertura do Brasileirão de 2017. Neste meio tempo, a montanha russa tinha surpreendido negativamente a promessa do Ninho.

A consagração ao lado do camisa 11 no clássico do último sábado, por sinal, tem um sabor especial. Por anos nas categorias de base, Paquetá e Savio se viram disputando o mesmo espaço. Cresceram juntos com o dilema: se jogasse um, o outro estaria no banco. Foi assim no Flamengo, foi assim na seleção sub-20. Quando tiveram a oportunidade de começar o duelo com o Botafogo juntos, fizeram a diferença:

Sempre fomos muito amigos, disputamos posição no Flamengo, na seleção, mas isso nunca afetou nossa relação. No sub-17, ele jogava mais, depois no Sul-Americano com a seleção eu joguei… É importante cada um ter buscado seu espaço. Quando ele fez o gol, todos o abraçaram. É a felicidade do grupo por ver um garoto que acabou vivendo um lance acidental e hoje está vencendo, ajudando o time – disse Paquetá, que divide quarto na concentração com o amigo.

Matheus Savio comemora gol contra o Botafogo com seu amigo e antigo reserva Paquetá (Foto: Alexandre Durão/GloboEsporte.com)

Confiança do novo professor


Responsável direto pela aposta inesperada, Maurício Barbieri também celebrou a boa atuação de Savio ainda no Maracanã e ressaltou a postura do jovem nos treinamentos, mesmo diante da desconfiança após o “sumiço” entre o San Lorenzo, em 18 de maio de 2017, e a redenção diante do Botafogo:

O Savio tem muita qualidade e vinha muito bem nos treinamentos. Isso só reforça nosso elenco. Quem entra ou sai, mantém o mesmo desempenho.

Matheus Savio, encoberto, recebe o carinho dos companheiros após o gol contra o Botafogo (Foto: Gilvan de Souza/Flamengo)

Sereno, Matheus Savio tem motivos de sobra para segurar a empolgação. Seja nas críticas ou nos gols, ele já viveu muitas experiências para definir os altos e baixos dos intensos três anos como profissional:

Tudo é aprendizado. Nas adversidades e nos momentos bons.

A fase está boa. A bola que raspou a trave voltou a entrar. Mas o improvável segue aí, deixando lições para Matheus Savio. Quarta-feira, às 21h50 (de Brasília), o Flamengo volta a defender a liderança do Brasileirão, diante do Santos, na Vila Belmiro. Everton Ribeiro retorna ao time, Marlos Moreno segue como dúvida, e Matheus Savio… Bem, vai saber. Com Matheus Savio, sempre tudo pode acontecer.

Reprodução: Globoesporte.com

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