O abalo de duas derrotas consecutivas em Brasileiro e Libertadores seria fácil mensurar com a sequência. É no passar de jogos que o Flamengo mostraria o quanto seria, de fato, afetado pelos insucessos recentes. Não um jogo tático ou técnico. Muito mental. Principalmente devido ao fato de o adversário ser o mesmo de três dias antes, mas com um agravante: recheado de reservas. Diante do Cruzeiro, o Flamengo respondeu bem no Maracanã. Não houve brilho. Mas um time correto. O magro 1 a 0 com gol de Henrique Dourado serviu para estancar a sangria, selar nova paz com uma torcida que já mostrava irritação e seguir na briga direta pelo título.
Em busca desse reencontro com arquibancada, Mauricio Barbieri mandou um Flamengo a campo no já tradicional 4-1-4-1, mas obrigatoriamente com caras novas. Cuellar e Renê, suspensos, deram vagas ao estreante paraguaio Piris da Motta e ao peruano Trauco. Vitinho iniciou pela primeira vez um jogo, na esquerda. De restante, tudo certo. Diego e Paquetá por dentro, Everton Ribeiro à direita, mas na frente mais uma mudança: Henrique Dourado. Não deixava de ser uma surpresa. Fora até mesmo do banco contra o mesmo Cruzeiro pela Libertadores, o Ceifador ganhou vez no time titular com a lesão muscular de Uribe. Barbieri explicou antes do jogo a ideia: os reservas do Cruzeiro provavelmente esperariam o Flamengo no Maracanã, obrigando o time a manter um centroavante como referência entre os grandalhões Manoel e Léo.
A ideia se mostrou certeira. Pois Mano Menezes mandou o seu time a campo numa tentativa de 4-2-3-1, mas que, recuado, mantinha mesmo o 4-4-2 com Rafinha e Raniel mais avançados. Talvez a ideia do técnico cruzeirense fosse ter mais velocidade. Saía o time cascudo de quarta-feira, com mais qualidade de Thiago Neves, Arrascaeta e companhia, entravam os próprios Raniel, Rafinha e David, este aberto à direita para buscar espaços às costas de Trauco. Do outro lado, Mancuello destoava. Sem nenhum cacoete para jogar encostado na linha lateral ou velocidade para puxar o contra-ataque.
O Flamengo, com sua trinca de meias completa, fez o que dele se esperava: alugou o campo e passou a empurrar o Cruzeiro para a defesa com toques. Há, como mostrado diante do Grêmio pela Copa do Brasil, uma ideia amadurecida de jogo. Trocar passes, se impôr, alternar posições. Com calma, sempre por baixo, sem apelar para um festival de cruzamentos como feito quarta-feira. O Flamengo até conseguiu ter este estilo no início do jogo no Maracanã. Mas sem tanto brilho, sem ser incisivo.
Essa pouca agressividade inicial permitiu ao Cruzeiro tentar escapadas pelo meio, talvez na tentativa de aproveitar a ausência de Cuellar. Mas Piris da Motta fez boa apresentação. Mostrou força na marcação, velocidade para coberturas e estar atento para antecipações. Fez três desarmes, um deles logo no início, ao roubar a bola de Raniel e esticar o jogo com belo passe longo à esquerda para Diego. É novidade agradável para Barbieri. Um volante que mantenha o pique do titular, sem apresentar lentidão e forçar o trabalho dos zagueiros, espaçando o time para o contra-ataque rival, como ocorreu com Romulo diante do São Paulo. Mas nem tudo são flores. Ao menos em seu cartão de visitas, Piris da Motta mostrou não ter a facilidade para sair ao jogo como Cuellar. Lucas Paquetá e Diego se alternaram para voltar um pouco mais antes do meio, receber a bola e tentar o passe mais vertical, à esquerda. Um cacoete dos tempos de Vinicius Junior que permaneceram com Vitinho.
Mais à vontade, o camisa 14 mostrou velocidade e habilidade ao arriscar jogadas individuais em cima de Ezequiel, Henrique e Manoel. Mas ainda procura muito pouco o fundo. Instintivamente vai ao meio para tentar a finalização, mesmo de fora da área. Teve duas ou três chances, mas apenas em uma conseguiu bater em gol, ainda que em chute fraco para defesa de Rafael. Ajudava, no entanto, o Flamengo a manter a superioridade. Era um jogo nada nervoso, distinto do de quarta-feira. E o Flamengo até mostrou rapidamente suas cartas. Em boas participações de seus reforços recém-chegados. Vitinho tentou o drible e acabou desarmado por Ezequiel. David pegou a sobra e tentou o passe longo, por dentro. Piris da Motta fez ótima antecipação e devolveu de primeira a Vitinho. Ele procurou o meio e viu Everton Ribeiro passar à direita. O Camisa 7 puxou ao centro e parecia buscar o arremate. Achou Henrique Dourado no centro da área. Passe rasteiro, certeiro, com boa finalização em um toque só. Um beijo na trave, outro beijo na outra e a morte, travessa, dentro do gol para explodir o Maracanã. 1 a 0.
É daquelas ironias saborosas do futebol. Escanteado com o retorno do Guerrero, ovacionado pelos torcedores no pós-doping, o Ceifador fez seu décimo gol em jogos oficiais na temporada, recorde do elenco ao lado do agora madridista Vinicius Junior, no dia em que o peruano foi anunciado pelo Internacional, pondo fim a uma novela que só fez prejudicar o Flamengo. Uribe estreou às pressas também como forma de pressão ao agora ex-camisa 9. E Dourado acabou escanteado sem motivo aparente. Desprezá-lo é bobagem. Cabe saber utilizá-lo como fez neste domingo no Maracanã. É atacante à moda antiga, com mais apreço pelos gols do que a qualquer movimentação tática. Graças a ele e a Trauco o time encerrou o primeiro tempo vitorioso. Mano Menezes trocou David e Mancuello de lado e adiantou o Cruzeiro após o gol, tentando pressionar a saída de bola do time rubro-negro. Conseguiu, mesmo, um lance de perigo em escanteio. Ótima cabeça de Henrique que teria endereço certo, com Diego Alves batido, não fosse Trauco ao afastar, em cima da linha, de cabeça. O Maracanã suspirou e foi para o intervalo sem qualquer indício de irritação.
O segundo tempo trouxe um Cruzeiro com posicionamento diferente. Mais adiantado, em um 4-2-3-1 mais claro, com Mancuello por dentro, David à direita e Rafinha à esquerda, os três atrás de Raniel. A pouca efetividade, no entanto, fez o técnico mudar de ideia com dez minutos. Tentou apimentar o jogo com Arrascaeta e Thiago Neves nas vagas de Mancuello e David. Deu muito certo. Claro, muito em razão da qualidade técnica superior dos dois substitutos, mas também porque o Flamengo começou a pagar o preço da insana sequência de agosto. O desgaste físico ficou evidente. Everton Ribeiro, geralmente atento, passou a errar passes em demasia. Trauco, sem jogar desde a Copa do Mundo pelo Peru, resguardou mais a posição. Piris da Motta, recém-chegado e com físico em início da temporada argentina, também diminuiu os avanços. Aos poucos, o time ficou mais espaçado. E o jogo ficou franco.
Frescos, Thiago Neves e Arrascaeta causavam preocupação ao entrar na grande área. Por vezes, Thiago trocava com Raniel. O Cruzeiro buscava forçar a conhecida deficiência de Trauco na marcação. Mas o peruano, certamente instruído por Barbieri, segurou a passada e deu menos campo no setor do que o talvez imaginado por Mano Menezes. E a dupla de zaga rubro-negra também teve boa participação. Rever e, principalmente, Léo Duarte, este ótimo nas antecipações. Para reforçar o meio, Barbieri sacou Diego, cansado e já com dificuldades para fechar o lado esquerdo e auxiliar Trauco, e pôs Arão. Paquetá deu passos à esquerda. Em seguida, Marlos Moreno substituiu Vitinho, outro fisicamente em início de temporada. O Flamengo sentia o desgaste por razões distintas. No panorama, dava chances a um resultado ruim. Não apenas pela qualidade cruzeirense. Mas também por um personagem nefasto na partida.
Árbitro com escudo Fifa, o paraense Dewson Freitas teve atuação desastrosa desde o início da partida. No primeiro tempo inverteu faltas e não teve critério na distribuição de cartões. No segundo tempo, a balança foi muito desfavorável ao time da casa. Dewson passou a picotar o jogo com faltas imaginárias a qualquer ataque rubro-negro. O Flamengo, dos times menos faltosos do Brasileiro, somou 29 infrações – um recorde – neste domingo. De quebra, ignorou faltas claras sobre jogadores rubro-negros, em especial em Paquetá, cedendo contra-ataques aos cruzeirenses. Ao agir desta maneira nada equilibrada, o árbitro conduziu o jogo com o apito de forma nada recomendável. Teve interferência direta no desenrolar do segundo tempo. Qualidade para lá de questionável.
Houve, no fim, uma grande chance para o empate do Cruzeiro no segundo tempo. Só não se converteu em gol graças a uma gigante defesa de Diego Alves em cabeçada de Arrascaeta, no chão, ao superar Rodinei pelo alto. Em cima da linha, o goleiro impediu o empate. Uma boa nova ao Flamengo de 2018: ter um centroavante artilheiro e um goleiro decisivo costuma ser bom caminho para buscar taças. Ao fim, Barbieri sacou Dourado, extenuado, para a entrada de Pará. Rodinei adiantou à ponta direita, Paquetá fez as vezes de atacante como na reta final de 2017, Everton Ribeiro permaneceu mais atrás, embora alternassem. Ficou, então, por aí.
Uma vitória sem grande brilho, mas também sem grandes sustos. Um Flamengo que teve, de acordo com o Footstats, 54% de posse de bola, quatro finalizações certas e menos de 20 cruzamentos – 19 – na partida. Na conta do chá, o Flamengo segue na briga pelo título brasileiro passo a passo. E, por enquanto, estancou a sangria.
FICHA TÉCNICA
FLAMENGO 1X0 CRUZEIRO
Local: Maracanã
Data: 12 de agosto de 2018
Horário: 16h
Árbitro: Dewson Freitas (PA – Fifa)
Público e renda: 50.402 pagantes / 55.276 presentes / R$ 1.530.890,60
Cartões Amarelos: Henrique Dourado, Lucas Paquetá e Diego Alves (FLA) e Ariel Cabral, Raniel e Arrascaeta (CRU)
Gol: Henrique Dourado (FLA), aos 22 minutos do primeiro tempo
FLAMENGO: Diego Alves, Rodinei, Léo Duarte, Rever e Trauco; Piris da Motta; Everton Ribeiro, Lucas Paquetá, Diego (Willian Arão, 29’/2T) e Vitinho (Marlos Moreno, 35’/2T); Henrique Dourado (Pará, 38’/2T)
Técnico: Mauricio Barbieri
CRUZEIRO: Rafael, Ezequiel, Manoel, Léo e Marcelo Hermes; Henrique e Ariel Cabral; David (Arrascaeta, 10’/2T), Rafinha (Robinho, 26’/2T) e Mancuello (Thiago Neves, 10’/2T) ; Raniel
Técnico: Mano Menezes
Reprodução: Pedro Henrique Torre/ Chute Cruzado
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Lições da semana:
- Reserva do Cuellar é o Piris;
- Reserva do Paquetá, Everton Ribeiro ou Diego é o William Arão;
- Dourado tem que ser titular, jogando ao lado de Vitinho ou Uribe.
Análise de quem realmente viu o jogo, a movimentaçao tática, as alternâncias e a péssima atuação do árbitro. Muito boa!
Um jogo de tanta importância merecia um árbitro melhor, mas a grande maioria dos "menos piores" está no Rio, São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, onde clubes dessas praças estão disputando as primeiras colocações, e aí corre-se o risco de ver figuras como Raí reclamarem de árbitros cariocas em jogos do São Paulo, mas que, no seu estrabismo bairrista, não reclama e muda de assunto quando questionado sobre os árbitros paulistas apitando jogos do Flamengo. Isso pode, na visão desse mentecapto. Então temos que aguentar árbitros do Pará, de Rondônia, do Acre, ou coisa que valha, praças sabidamente de menor tradição no futebol brasileiro, e que muitas vezes nunca pisaram num Maracanã, num Mineirão, num Morumbi. E dá nisso.
Mas o Flamengo venceu, e é isso que importa. Estamos na briga, ainda...até que os árbitros passem a expulsar nossos atletas, os "tribunais" dêem suspensões de 6 meses por cartões amarelos, ou comecem a validar gols do São Paulo feitos em impedimento ou com a mão, e a marcarem aqueles manjados pênaltis aos 43 do segundo tempo. Vamu que vamu!
SRN