Dizer que o Cruzeiro é pentacampeão da Superliga Masculina de Vôlei é uma meia-verdade. O projeto é gerido pelo Grupo Sada, que aluga a camisa do Cruzeiro. Um programa vitorioso, mas que não empolga outro gigante do esporte brasileiro, o Flamengo. Em processo de ampla expansão nos esportes ditos olímpicos, o clube carioca se reforçou em modalidades como judô e natação e montou uma nova equipe de vôlei feminino. Tudo isso rejeitando diversas propostas para emprestar sua marca a outros projetos.
“O Flamengo é uma marca muito forte para fazer isso. A gente não faz. Alguns esportes são franquias, tipo futebol americano, mas isso é marketing, não é esporte olímpico. Nós sempre recebemos propostas, mas a chance de alugarmos a camisa é zero. A atividade fim do Flamengo é esporte, e atividade fim você não terceiriza. Pode terceirizar TI, limpeza, RH, mas esporte não”, assegura Alexandre Póvoa, vice-presidente de esportes olímpicos do Flamengo.
Foi ele quem, em 2013, comandou a desmontagem do esporte olímpico do Flamengo. As equipes de alto rendimento de judô e ginástica artística foram desfeitas e os poucos nadadores que continuaram no clube eram crias da base, que acabaram também saindo. Um processo que foi duramente criticado, enquanto Póvoa alegava que primeiro precisava estruturar o clube para depois voltar a investir. Cinco anos depois, a promessa enfim é completamente cumprida.
No começo do mês, o Flamengo anunciou a contratação de Sarah Menezes para sua equipe de judô, que não tinha uma grande atleta desde a saída de Erika Miranda, em 2013. Depois, foram anunciadas as chegadas de Daiene Dias, Felipe Ribeiro e João de Lucca para o time de natação, repondo as saídas de Jhennifer Conceição, Luiz Altamir e Ana Giulia Zortea, crias do clube que foram embora no período em que não havia dinheiro para salários competitivos no mercado. No meio do ano deve ser apresentado o time feminino de vôlei, que vai jogar a Superliga B com um elenco jovem, sonhando em voltar à elite da Superliga depois de 13 anos.
Assim, o Flamengo voltará a ter equipes de alto rendimento em todas as suas oito modalidades olímpicas: judô, vôlei, basquete, natação, nado sincronizado, polo aquático, ginástica artística e remo. “O plano sempre foi conseguir auto-sustentar as modalidades que eu tenho, voltar ao alto rendimento em todas elas, e só então considerar abrir esportes novos. Todo ano a gente recebe proposta para abrir cinco, seis, oito esportes, mas a gente precisa de pelo menos um ou dois anos para consolidar isso e depois pensar em dar novos passos”, explica Póvoa.
Ele diz que o Flamengo não vai colocar o carro na frente dos bois. Ou seja: esse ano o Flamengo não briga por título no Troféu Brasil de Natação (antigo Maria Lenk), nem no Grand Prix Interclubes de Judô. “A ideia é voltar com equipes para ao longo dos próximos anos ir voltando ao topo. Nossa prioridade é formar atletas para 2020 e 2024”, conta.
Mas há exceções. Na ginástica feminina, a base da seleção é do Flamengo: Rebeca Andrade, Jade Barbosa, Flávia Saraiva e Lorrane Oliveira. No remo (que tem uma vice-presidência exclusiva), o Fla destronou Vasco e Botafogo e venceu o Campeonato Brasileiro de Barcos Curtos, realizado no fim de semana passado em São Paulo. O time de polo aquático feminino é campeão nacional e o masculino ganhou o reforço do veterano Kiko Perrone.
Para 2020, a meta é ter mais atletas olímpicos do que no Rio-2016: 13. “A gente não vai contratar atleta para dizer que tem atleta em Tóquio. Queremos que o Flamengo volte a ter capacidade de formar atletas. Em Tóquio, a gente espera pelo ter pelo menos uns 20 atletas”, continua o vice-presidente. Ao mesmo tempo, já pensando em 2024 e 2028, a meta é que o número de alunos nas escolinhas passem de 3,7 mil para mais de 5 mil em dois ou três anos.
PASSO À FRENTE
Quando anunciou os cortes nos esportes olímpicos do Flamengo em 2013, Póvoa falou em “passo atrás”. Queria estruturar o clube. “Tínhamos meses de salários atrasados, piscina condenada, o ginásio da ginástica tinha pegado fogo. Muitos criticaram, mas era uma situação muito difícil. Não adiantava se enganar. Não tem lugar para treinar, não tem dinheiro para salário. Aproveitamos o ciclo olímpico para nos reestruturarmos.”
O ginásio da ginástica foi reformado, como todo o parque aquático. Com dinheiro da Lei Estadual de Incentivo ao Esporte, da Lei Federal de Incentivo ao Esporte e do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC), além de parcerias com os comitês olímpicos dos EUA e do Reino Unido, que usaram a estrutura da Gávea durante a Olimpíada, o Flamengo conseguiu assentar as bases para crescer.
Ainda falta, porém, conseguir ampliar o investimento da iniciativa privada. “O setor privado não olha esporte olímpico. Para modalidades com menos visibilidade como remo e polo aquático, você depende do projeto incentivado. Mas a gente está evoluindo. Hoje temos cerca de 15% do que você chama de dinheiro bom e um superávit muito bom nas escolinhas. Antes você tinha que tirar do futebol para por no olímpico, mas hoje a gente vive com nossos recursos”, relata.
E ainda há espaço para crescimento. A sede da Gávea tem, por exemplo, uma quadra só de handebol e um espaço para vôlei de areia. Além disso, o dojô pode receber modalidades de luta e a piscina pode servir para atletas de maratonas aquáticas. Mas isso é para o futuro. “De nada adianta abrir duas três frentes e chegar amanhã e ter que fechar”, analisa.
Reprodução: Blog Olhar Olímpico/ UOL
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