Por Raul Learte-Mareco
Permitam-me, primeiro, agradecer ao matemático britânico Alan Turing, por eu estar, agora, de posse de um notebook, por ele ter contribuído, significativamente, para a criação da computação moderna. Mas, tu deves estar a se perguntar, que raios isso tem a ver com o Flamengo?
Tua glória é lutar, não?! Não fosse Turing, eu, tu e 40 milhões de rubro-negros não teríamos a chance de ler e ter conhecimento a respeito de aspectos socioculturais que, neste ano de 2019, vêm modificando a vida – positivamente, óbvio – destes milhões.
Em 1920, quando sequer os deuses do futebol imaginariam que viria ao mundo um ser apelidado de ‘Galinho de Quintino’, o goleiro do Flamengo, à época Paulo Magalhães, num magistral momento do quando o ser humano tem um sentimento de que, como afirmava o dramaturgo Bertold Brecht, “as convicções são esperança”, escreveu o hino oficial do clube.
O trecho, “tua glória é lutar” se eternizou tanto quanto “uma vez Flamengo”, de Lamartine Babo. O futebol é o ópio do povo, já escrevia o imortal tricolor Nelson Rodrigues, que também se rendia aos encantos de Zico e companhia. De acordo estou, pois, Rodrigues sempre foi um homem à frente de seu tempo, como Turing e Magalhães
O que vemos, hoje, no plantel de Jorge Jesus, é de se, literalmente, deixar todo flamenguista – ou, torcedores de outros clubes que realmente sabem qualificar o futebol como se deve – diria, modificados psicologicamente pelo estratagema tático a que os jogadores vêm impondo aos adversários. Que o diga o Grêmio. E outros.
Estamos diante de uma novel realidade neste esporte brasileiro, que encantou o mundo em décadas nostálgicas que parecia teimar em não voltar mais. Foi preciso que um lusitano regressasse ao Brasil para mais uma descoberta, desta vez, redescoberta, para demonstrar que estávamos errando, sendo arrogantes em termos de técnicas futebolísticas.
Foi preciso, e está sendo necessário, que um português e seus atletas, comissão técnica e a atual diretoria comandada por Rodolfo Landim– e é preciso fazer justiça a Eduardo Bandeira de Mello que, desde 2013, junto aos seus, reergueu o Flamengo – estão devolvendo a alegria aos rubro-negros, após tantos fracassos grotescos.
Eu custei a escrever o termo ‘Mais Querido’ propositalmente. Porque quis deixar para o fim justamente este sentimento: ser querido é forte. É quando alguém, ou, o que é o caso, o clube, faz parte de nossas vidas diariamente, não importando a classe social das pessoas, ou o contexto em que o clube está. É o que o Flamengo já despertou nas pessoas.
Eu tinha apenas três anos quando conquistamos a Libertadores e o Mundial. Nunca saberei a tua idade. O que sei é que, após 38 anos, estamos em mais uma final com grandes chances de sermos os maiores da América do Sul, pela segunda vez. E de praticarmos nosso inglês no final do ano. Contra o Liverpool, da terra de Alan Turing, aquele, da computação.
O que também sei é que o Flamengo já conquistou o maior título de todos: devolveu ao torcedor a mesma convicção do ex-goleiro Paulo Magalhães, a de que nossas almas estão repletas de felicidade, de que o “futuro ainda será mais lindo”.
Tua glória é lutar!
Que o TODO rubro-negro sempre esteja contigo e que Scyra sempre nos proteja de mares revoltos!
Raul Cláudio Martins Learte-Mareco é graduado em Comunicação há 14 anos. Especialista em Comunicação Política e Jornalismo Gonzo. Adepto da Cultura Cyberpunk e da Antipoesia. Consultor e assessor de órgãos públicos, campanhas políticas, mandatos legislativos e executivos. Produtor cultural. Colunista de esportes e cinema. Futuro Mestre na Universidade de Coimbra – Portugal. Apaixonado por cerveja pura, rock n’ roll, jazz, blues, bossa nova e música clássica. Fã do Los Angeles Lakers e SL Benfica. Flamengo desde a barriga da mamãe. Twitter: RaulMareco Instagram: raulmareco