Saída do Vasco, sonhos com o Manto Sagrado e memórias dos #Nossos10: conheça Gomes, promessa do sub-20 do Flamengo

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Por: Higor Neves e Rodrigo Antunes

“Craque o Flamengo faz em casa”. O lema criado na década de 80, quando o Rubro-Negro viu surgir de suas categorias de base atletas como Zico, Leandro e Júnior, tem voltado a ganhar força no atual século. Em anos recentes, vimos Garotos do Ninho brilharem com o Manto Sagrado, como Lucas Paquetá e Vinicius Júnior. Atualmente, uma das principais promessas é Reinier, que já integra o elenco profissional. E mais um jovem que tenta fazer valer a histórica frase é o volante João Gomes, de 18 anos, que é promessa do sub-20 do Mais Querido.

Se preparando para disputar a Copa São Paulo de Futebol Júnior e a Supercopa do Brasil sub-20, o meio campista concedeu entrevista exclusiva ao Coluna do Fla, contando um pouco de sua trajetória e de seus sonhos pelo Flamengo. História que, aliás, poderia ser diferente, caso o jovem garoto não fosse rubro-negro fanático. Isso porque, quando começou a dar seus primeiros chutes na bola, Gomes defendia o Vasco, principal rival do Fla no estado. Porém, com bastante ‘jogo de cintura’, ele deu adeus ao Cruzmaltino, antes mesmo de saber que teria espaço no clube de coração.

– Meu avô sempre me levou para os treinos. Antes de eu vir para o Flamengo, passei pelo Vasco, e era ele quem estava comigo. Às vezes, quando jogava no Vasco, eu enrolava (risos). Tinha dia que eu inventava dor de barriga, dor de cabeça, cada dia era uma história diferente. Eu não gostava muito, até porque eu não conseguia dar o meu melhor lá, então ficava no banco de reservas, às vezes nem ia aos jogos. Então, um dia eu cheguei para o meu avô e falei: “Vô, eu não quero mais jogar no Vasco” – revelou o jovem, que contou em seguida sobre sua chegada ao Fla.

– Fiquei um tempo sem clube, só atuando em alguns projetos. Foi aí que o Jean, meu melhor amigo, já fazia parte do Flamengo. Tinha um treinador chamado Falcão, e o Jean me indicou. Esse Falcão falou: “Leva ele lá no Flamengo para fazer um teste”. Eu passei e entrei para o futebol de salão. Quando eu tinha 11 anos, já mudei para o campo e estou até hoje.

O avô ‘Seu Valdomiro’, aliás, sempre foi o grande incentivador da carreira de João. O jogador decidiu marcar na pele, para eternizar o apoio que sempre recebeu para realizar o sonho. Na panturrilha, o garoto tatuou o seu avô o levando para os treinos, com o Maracanã à frente. A homenagem foi divulgada pelo jovem em rede social, com direito a declaração de amor ao já falecido avô.

Focado na disputa da Copinha, que acontecerá em janeiro, o jogador não esconde a vontade de levantar o troféu mais importante da categoria sub-20. Com o Manto Sagrado, Gomes já faturou competições relevantes, como a Copa do Brasil sub-17 e, recentemente, o Brasileirão sub-20. Entretanto, ele traça a Copa São Paulo como grande meta.

– Falta o principal (título, que seria o da Copinha). Não desmerecendo as outras conquistas, até porque o Brasileirão sub-20, conquistado recentemente, a gente nunca tinha vencido, foi uma conquista inédita para o clube, a gente entrou para a história, pois é um título extremamente importante. Mas para eu poder dizer que minha base foi completa, preciso ganhar a Copa São Paulo (Copinha), que é a mais importante da nossa categoria.

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Como está a preparação para a Copinha?

Eu já tive a oportunidade de disputar uma Copinha. Essa preparação é bem intensa, pois é o principal campeonato sub-20. A gente precisa estar 100%, sempre na melhor forma para poder representar o Flamengo da melhor forma possível. Nesse ano, existem demandas do profissional, porque o sub-20 deve iniciar o Carioca. Então, seja para os juniores ou para a equipe principal, eu tenho que estar pronto para entrar em campo e dar o meu melhor.

O Flamengo tem se destacado em diversas competições de base nos últimos anos. Qual você acredita que seja o grande motivo para isso?

Acho que a grande diferença é que o Flamengo tem a melhor estrutura do Brasil. Aqui, o jogador recebe acompanhamento em tudo, desde a parte de nutrição, fisiologia, estudo do nosso rendimento em campo. Isso faz uma grande diferença. Além disso, o clube investe em bons profissionais. Temos bons treinadores, preparadores de goleiros. Aqui conseguem extrair o melhor da gente. É isso que nos faz ganhar títulos, render bem em campo e chegar bem aos profissionais.

Você tem 18 anos e ainda pode atuar por mais duas temporadas no sub-20. Porém, você considera a hipótese de subir para o profissional antecipadamente?

Sempre quero estar em um degrau maior, e o próximo degrau é estar na equipe profissional. Mas temos que ir etapa por etapa, há grandes jogadores que subiram recentemente, como o Hugo Moura e o Vinição (Vinicius Souza), que é um exemplo para mim. Eu sempre vou dar o meu melhor. Se a oportunidade aparecer, estarei preparado para dar o meu melhor.

E você já imaginou em como seria jogar em um elenco com tantos atletas consagrados?

Na verdade eu nunca parei para pensar nisso, porque parece que está tão perto e, ao mesmo tempo, longe. O elenco do Flamengo tem diversos jogadores renomados, com bastante qualidade. Então, para mim, atuar ao lado desses atletas parece um sonho, mas que na verdade pode estar perto de ser realizado. Falta o passo mais importante, que é chegar ao profissional.

Como você escalaria o Gomes no time do Jorge Jesus?

No time do Jorge Jesus, eu me vejo jogando de ‘5’, como primeiro volante. Eu tentaria dar suporte para o Gerson, ao Arrascaeta e aos demais jogadores de frente, essa é minha característica. Trabalho bastante para ter um bom passe, uma boa saída de jogo, ter essa essa lucidez. Me inspirava muito no Cuéllar, que saiu do Flamego. Agora o Arão tem me encantado, porque tem muita técnica. Ele faz o time rodar, com passes rápidos e simples. Hoje, o jogador que me inspiro é o Arão.

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Trocaria o sucesso no Flamengo pela ida à Europa?

É claro que todo jogador sonha em ir para a Europa e atuar em grandes clubes por lá. A Champions League atrai muito. Mas antes disso tudo, meu principal sonho, que é muito forte em meu coração, é jogar pelo Flamengo, jogar no Maracanã lotado, ouvir a torcida gritar meu nome. Eu quero muito, porque não é um sonho só meu. Minha família é toda flamenguista, não escondemos isso de ninguém, então eu não carrego esse sonho sozinho. Para eu sair do Flamengo, só depois de estar realizado com essa camisa. Nesse momento, estar realizado é cumprir todos os meus objetivos pelo clube do meu coração.

Por fim, mas não menos importante: o ano de 2019 marcou a maior tragédia da história do nosso clube, e você, certamente, perdeu muitos amigos no incêndio ocorrido no Ninho. O que você faz ou fez para manter viva a memória dos garotos que se foram?

Nossos 10, como chamamos, nunca serão esquecidos. Eu faço questão de, toda vez que a gente ganha título, eu vou às câmeras para mandar mensagem às famílias dos irmãos que perdi, porque eles com certeza foram os mais abalados nessa tragédia. Eles nunca vão ser esquecidos, por isso que eu vou lá, mando um abraço, tento passar o meu apoio. Quem veste a camisa do Flamengo tem sempre que entrar em campo por eles, porque sonhos foram perdidos. Nós não podemos voltar atrás, mas nosso futuro pode ser escrito para eles.