Por: Tulio Rodrigues
Sede do Flamengo, Gávea, Rio de Janeiro, 08 de novembro de 2012. Neste dia, ocorreu a reunião do Conselho de Administração para registro das candidaturas de Patrícia Amorim, Jorge Rodrigues e Wallim Vasconcellos. Numa manobra política, só o último sofreu impugnação junto com seu vice, Rodolfo Landim. A Chapa Azul tinha 48 horas para substituir os nomes.
Cotado a vencer o pleito, Wallim Vasconcellos saiu revoltado da reunião após ser provocado por apoiadores de Patrícia Amorim. Em conversa com a imprensa, deu uma forte declaração:
— O resultado da reunião já era esperado. Isso é o Flamengo que a gente vem vivendo há muitos anos, a vanguarda do atraso que quer continuar dominando o clube. O que fizeram com a gente foi a mesma coisa que fizeram com o Zico. A chapa continua, amanhã vamos anunciar os nomes que vão substituir. Agora, espero que a torcida do Flamengo veja isso, o sócio do Flamengo veja isso e fiquem mais indignados do que a gente está. Podem ter certeza que a Chapa Azul vai continuar. A eleição começou hoje e termina dia 03. Até dia 03 tem muita água pra rolar, pode ter certeza que vamos continuar lutando pra moralizar o Flamengo e acabar com essa corja que está aqui dentro.
Ao invés de tirarem proveito da impugnação das primeiras escolhas da chapa de oposição, os adversários políticos transformaram Wallim num mártir e aumentaram o favoritismo do grupo de empresários desconhecidos do público que queriam gerir o clube.
No início do primeiro semestre de 2012, o então Deputado Estadual pelo Ceará, Gony Arruda, se encontrou com o ex-presidente do Flamengo, Kleber Leite. Debatendo sobre a situação do clube, os dois concordavam que o quadro da política rubro-negra precisava de renovação.
Pensando na eleição que iria ocorrer em dezembro, a ideia era lançar Gony como candidato, contudo, ele não era sócio do clube, o que impossibilitou a candidatura. Com a candidatura de Gony descartada, Flavio Godinho foi convidado para ser ‘o nome’ da Chapa Azul. Em reunião no Copacabana Palace, com anuência de Kleber Leite, Gony fez a proposta a Godinho, contudo, este havia perdido o título de sócio do Flamengo. O curioso é que a ‘perda’ do título foi por conta de um divórcio, com a posse ficando para a ex-esposa.
Foi através de Godinho que o Flamengo chegou ao nome de Rodolfo Landim. Eles haviam sido colegas de trabalho na EBX, empresa de Eike Batista. A ideia era ter Landim envolvido na chapa, ainda não como presidente, mas sim ajudando a encontrar um nome que se enquadrasse nas características e requisitos necessários. https://youtu.be/gMH2BjsfEZA
Àquela altura, a situação do Flamengo, gerido por Patrícia Amorim, era de desespero. O futebol era um caos, o time havia sido eliminado da Libertadores, do Campeonato Carioca e da Copa do Brasil. Chegou a ficar 40 dias sem jogar até o início do Brasileiro por não ter mais jogos oficiais. O caixa do clube estava vazio, a dívida era milionária e até os salários dos jogadores estavam atrasados.
Também insatisfeito com todos esses problemas, Márcio Braga, ex-presidente do Flamengopor seis mandatos, ligou para Kleber Leite e propôs que algo fosse feito. Kleber falou do grupo que estava formando com Gony Arruda, Flávio Godinho e Rodolfo Landim já pensando na eleição de dezembro.
Márcio sugeriu a criação de uma união da oposição do Flamengo projetou uma reunião no Teatro Leblon, para expor a insatisfação com a gestão do clube. O objetivo era formar uma chapa única para ir contra contra Patrícia Amorim. Kleber topou, levando também os empresários do grupo que estava se formando. https://youtu.be/6DPSpgeR_YY?t=936
Numa noite de segunda-feira, dia 11 de junho, Márcio Braga lançou o “Movimento Ocupe o Flamengo – Central de oposições”, em evento realizado no Teatro Leblon. Além de Kleber Leite, Delair Dumbrosck, Marcos Braz, Ronaldo Gomlevsky (pré-candidato na ocasião) e Andrade, ídolo do Flamengo.
— A situação está muito grave. Aquele que lá chegar vai encontrar o Flamengo destruído como aconteceu em 2004, quando não tinha nem talão de cheques. Tendo várias candidaturas vamos ter um conflito grande de ideias. Temos de nos unir —, disse Márcio Braga ao abrir a reunião.
Segundo Kleber Leite, a Chapa Azul foi criada nessa reunião. Mas ainda faltava um nome para ser o candidato. Empenhado para encontrar um nome, Flavio Godinho ligou para Carlos Langoni. Economista e ex-presidente do Banco Central, ficou animado com a ideia, mas também não era sócio do clube.
Alguns dias depois, Rodolfo Landim anunciou ao grupo que havia achado um nome para concorrer a eleição. Tratava-se de Wallim Vasconcellos, um economista com passagem pelo BNDES. Em seguida, chegaram Rodrigo Tostes e Luiz Eduardo Baptista.
No dia 28 de agosto de 2012, era lançada oficialmente a Chapa Fla Campeão do Mundo, popularmente conhecida como Chapa Azul, cor escolhida para identificação no processo eleitoral do Flamengo, tendo Wallim Vasconcellos como candidato a presidente e Rodolfo Landim, o vice. O grupo formado trazia duas categorias: o núcleo dos empresários e políticos.
Wallim Vasconcellos (ex-diretor do BNDES e sócio-diretor da Iposera Investimentos); Carlos Langoni (ex-presidente do Banco Central e sócio-diretor da Projeta); Frederic Kachar (diretor-geral da Editora Globo); Flávio Godinho (membro do conselho do grupo EBX); Gustavo Oliveira (vice-presidente da Giovanni, DraftFCB); Luis Eduardo Baptista (presidente da Sky); Rodolfo Landim (presidente da YXC Óleo e Gás); Romulo Dias (presidente da Cielo); Rubén Osta (presidente da Visa); Sérgio Brandão (presidente da G2 Brasil) e David Zylbersztajn (sócio-diretor da DZ Negócios com Energia), formavam o grupo dos empresários. Todos desconhecidos dos torcedores e dos sócios do Flamengo.
O núcleo político trazia o apoio e influência de diversos ex-presidentes como Márcio Braga, Kleber Leite, Hélio Ferraz e Delair Dumbrosck. Ainda haviam os grupos Sócios Pelo Flamengo, o SóFla, o Flamengo Acima de Tudo, a FAT e o Garden.
Com a presença de Zico e tendo o ator e Cláudio Manoel como mestre de cerimônia, a Chapa Azul apresentou um vídeo manifesto chamado de “Flamengo no peito, Futuro nas mãos. Reage Flamengo. Vote Wallim”. A proposta era romper com o modelo de gestão da época, que tinha estratégias traçadas por dirigentes amadores. A nova ideia era ade introduzir uma administração totalmente profissional. https://www.youtube.com/watch?v=_bSSfqeazvE
Junto a isso, o grupo prometia o resgate da credibilidade do clube, austeridade e responsabilidade orçamentária e fiscal; gestão profissional com executivos e diretores tendo metas esportivas, financeiras, administrativas e patrimoniais; governança, transparência e trabalho em equipe. Diferente do que era feito, a administração não seria comandada por uma pessoa na figura do presidente, mas de um grupo.
A ONDA AZUL – MOVIMENTO DE FORA PARA DENTRO
A Chapa Azul se tornou um grande sucesso. Copiando a campanha de Barack Obama para a presidência dos Estados Unidos em 2008, os executivos prepararam uma comunicação voltada para o digital. A ideia não era só se comunicar com o sócio, mas também com o torcedor comum. Eles aderiram as redes sociais e conquistaram a simpatia dos torcedores que não tinham direito a voto.
Todo esse movimento foi batizado de “Onda Azul” por Marcello Tijolo. Ele organizou uma caminhada no dia 15 de novembro, aniversário de 117 anos do Flamengo. Torcedores e sócios caminharam do Posto 8 da Praia de Ipanema até a sede da Gávea. A essa altura, já havia ocorrido a impugnação de Wallim, e Eduardo Bandeira de Mello havia virado o nome da chapa, com Walter D’Agostino como vice.
Mais de 300 pessoas se misturaram as torcidas organizadas e entoaram gritos de arquibancada com cânticos de apoio a Bandeira, que fazia ali a sua primeira aparição oficial como candidato.
— Estou confiante porque a Nação Rubro-Negra está comigo e acredito que a grande maioria dos sócios também. Eu acho que vamos ganhar a eleição e revolucionar aquele clube. Foco na gestão, na melhoria da administração, bola pra frente e viva o Flamengo —, disse Bandeira ao Blog Ser Flamengo. https://youtu.be/BDsXUm5eZpM?t=32
Dia 03 de dezembro, em verdadeiro clima tenso, a Gávea estava preparada para receber os sócios com direito a voto no pleito mais importante dos últimos anos do Flamengo. Patrícia Amorim, Jorge Rodrigues e Eduardo Bandeira de Mello concorriam para a vaga de presidente do próximo triênio (2013-2015). As pesquisas colocavam a Chapa Azul como favorita a vencer a eleição.
5990 sócios estavam aptos a votar, mas nem todos participaram. Com 1414 votos, Eduardo Bandeira de Mello foi eleito presidente do Flamengo. Patrícia Amorim ficou em segundo, com 914. Jorge Rodrigues foi o terceiro mais votado, com 347 votos.
— Estou muito emocionado. Queria dizer que esta vitória é do Wallim (Vasconcellos, candidato impugnado da Chapa Azul que deu lugar a Bandeira de Mello). Queria agradecer à torcida, que nas ruas e nas redes sociais tornou a vitória possível. A vitória veio das ruas para o Flamengo. Agradecer também ao Zico. Só estamos aqui por causa do Zico —, disse Bandeira em seu discurso após apuração.
Em seguida, a expectativa ficou em saber quem seria o grupo de vice-presidentes que iriam ajudar Eduardo Bandeira de Mello a administrar o Flamengo nos três anos seguintes. A posse foi marcada para o dia 27 de dezembro.
Com o grupo definido, Bandeira de Mello e Rodrigo Tostes, futuro vice de finanças, foram na Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional horas antes da posse, para saber o tamanho das dívidas do Flamengo. Os dirigentes tiveram uma conversa franca com os procuradores da PGFN. Promessas foram feitas e a situação encontrada mudou até mesmo o discurso do novo mandatário já preparado para o evento da noite.
Visivelmente emocionado, Bandeira ficou de pé no Salão Nobre do clube. Com um papel a sua frente, começou a ler o discurso, que intercalava com olhares ao público presente e a Patrícia Amorim, a quem não poupou críticas, mesmo procurando fazer de forma educada.
O Flamengo dos últimos anos não apresentava somente problemas financeiros, mas em outras áreas. O clube foi constantemente presente em páginas oficiais, de fofoca e se tornou um exemplo do que não deveria ser. Jogadores se recusavam a jogar pelo Rubro-Negro. Diante de tudo isso e depois de ver o tamanho do problema do clube, Bandeira fez questão de dizer que sua gestão não teria só que acabar com os problemas administrativos e econômicos, mas também de credibilidade, ética e moral.
“Não vamos descansar enquanto não conseguimos equacionar esse passivo que não é só financeiro. É ético. É moral”, disse Bandeira no ponto alto do seu discurso, que recebeu muitos aplausos. https://youtu.be/pZwWjJaaNyg?t=2616
No dia 27 de dezembro de 2022, completa 10 anos da posse de Bandeira de Mello e do início da reestruturação financeira e administrativa do Flamengo, mas muitas histórias ainda estão por vir, pois foi só o início da história dos empresários desconhecidos que assumiram o clube com uma dívida de quase R$ 800 milhões e o devolveram ao patamar de potência continental.
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"Bandeira fez questão de dizer que sua gestão não teria só que acabar com os problemas administrativos e econômicos, mas também de credibilidade, ética e moral." Infelizmente, a contratação do Vítor Pereira e a dispensa do Dorival Júnior é um prenúncio, de que esta era vai acabar!!!