Adílio é oriundo da favela Cruzada São Sebastião, antiga Praia do Pinto, no coração do bairro do Leblon, vizinha à sede da Gávea. Na infância, era chamado de Pelezinho pela habilidade que apresentava com a bola. Nessa época, o Flamengo era somente um sonho, uma possibilidade, uma chance de mudar de vida.
Para romper a barreira social e o preconceito, junto com seu amigo e companheiro inseparável por toda a vida, Júlio César, mais tarde conhecido como “Uri Geller”, precisou pular o muro da sede da Gávea. Adílio não era sócio do Flamengo, aluno ou atleta. Também não seria aceito naquele espaço pela sua cor, raça e origem, mas sua classe com a pelota conquistou a todos. “A gente trazia toda nossa ginga, habilidade e esperteza para o pessoal do Flamengo, e eles gostavam muito”, disse o nosso eterno camisa 8. Ele praticou basquete, natação, ciclismo e arco e flecha, mas foi no futebol que se tornou profissional.
E foi pelo futebol que Adílio venceu as suas cruzadas e as do Flamengo, marcando gols em finais de Campeonato Brasileiro e do Mundial de Clubes. Fez um gol histórico contra o Vasco, no “FlaxFlu das Diretas“, afinal, “o Fla não Malufa”, e no “jogo da vingança” em 1981, contra o Botafogo, na goleada por 6 a 0. Fez parte de um dos maiores times do futebol e da história do Mais Querido. Além de saber de cor o time de 1981, todo rubro-negro recita aquele meio-campo como uma declamação hexassílaba de um poema: Andrade, Adílio e Zico. A métrica perfeita na separação de sílabas poéticas: An-dra-deA-dí-lioE-Zi-co. Assim é separado o verso na poesia clássica; a elisão das vogais e a contagem até a última sílaba tônica. Uma perfeição!
Adílio dizia que faltou uma conquista mundial pela Seleção Brasileira para sua carreira ser completa, mas devemos ponderar que Telê Santana não teve a genialidade de perceber que o time da Copa de 82 precisaria do craque flamenguista pela direita. Foi por ali que a Itália venceu o Brasil no estádio Sarriá. Faltou ginga, habilidade e esperteza para aquela equipe. Faltou Adílio ao Canarinho.
O nosso craque era do povo e gostava de estar entre o povo. Em dias de jogos do Flamengo, apreciava ir à praia, sentir a temperatura e conversar com o torcedor. Também adorava ver, através da janela do ônibus do time chegando ao Maracanã, aquela massa que jogaria junto com ele minutos depois. E foi assim mesmo depois de parar de jogar. Viajou o Brasil inteiro com o time de Master, promovendo diversas ações sociais e fazia questão de ser o “Brown” aos seus súditos. Bronca mesmo, ele só dava nas peladas que jogava. Com seus 40, 50, 60 e quase 70 anos, parecia um garoto jogando. Futebol para ele era como andar de bicicleta, nunca desaprendeu, mesmo sem a juventude de outrora.
Adílio virou tema de série de TV, sendo o “Craque da Esperança” na direção do nosso saudoso Milton Gonçalves, que contou sua história na maior emissora do país em 1983. Foi saudado por Bezerra da Silva na canção de Pedro Butina e Sérgio Fernandes e eternizado nos versos: “A querida Cruzada São Sebastião/Antiga Praia do Pinto que deu o Adílio, um grande campeão” em 1985. Foi literatura através da pena de Renato Zanata Arns, sendo o “Camisa 8 da Nação” em 2013. Virou busto na Gávea através do trabalho de Sandro Rilhó no “Fla Nação”.
A grandeza de Adílio Oliveira Gonçalves estava justamente na sua humildade, na sua discrição, nas palavras serenas que proferia com afável zelo. Sempre foi impossível não perceber sua presença. Adílio era gigante. Transformou a camisa 8 do Flamengo na camisa do Adílio, e ela nunca mais foi a mesma. Agora, o número 8 do Manto Sagrado do Flamengo dá um quarto de volta no sentido horário para ser o símbolo do infinito e da eternidade. O conceito sob medida e indizível do seu legado.
Adílio de Oliveira Gonçalves, nascido em 15 de maior de 1956 para a finitude∞.
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Que vontade de chorar… aguenta, coração. 😢