O Flamengo começou 2013 sob nova direção e tudo que isso significa.
E nesse caso significou muito. Achava a situação do Flamengo difícil nos anos anteriores. Estava errado, não era difícil, era caótica.
Catastrófica, definiria melhor.
Realmente, não gostaria de estar na pele de Bandeira de Mello e seus companheiros de direção, o que só faz aumentar a injustiça de muitas críticas que recebem. Lendo a análise que se segue, pode-se perceber, antes mesmo da frase aparecer, que é longo, é muito longo o caminho do Flamengo.
O pior que poderia acontecer seria a direção dar ouvidos ao seu executivo de futebol e acreditar que tenha que “botar faixa no peito”. É justamente essa obsessão que levou os clubes, o Flamengo inclusive, à situação que atravessam hoje. Também penso que a próxima Libertadores deve ser somente isso: a próxima Libertadores. Trocando em miúdos: não dá para mudar a atual política de austeridade e economia, embora cheia de exceções.
O título da Copa do Brasil não deve, ou não deveria, mudar absolutamente nada na direção e no planejamento. Ele foi fruto dos acasos do futebol combinados com uma gestão que trouxe um bom ambiente ao departamento de futebol. Para isso contribuiu, sem dúvida, dizer não aos apelos para manter ídolos ou trazer outros.
Em 2012 o clube teve uma receita total de R$ 212,0 milhões, bem abaixo do São Paulo e muito abaixo do Corinthians. Há muito a percorrer para diminuir essas distâncias. Para isso, o Urubu precisa voltar a voar, sim, como diz o título da análise abaixo, mas dentro de suas possibilidades.
O Urubu precisa voltar a voar
Que o Flamengo é uma marca forte, ninguém nunca duvidou. Aliás, se há certezas no futebol, esta é uma delas. E que o clube sofre por conta de gestões fracas ao longo das últimas décadas, esta é outra verdade inquestionável do futebol. Verdades postas, o fato é que o clube mostra no balanço de 2012 toda sua força e todos os reflexos das gestões ruins, ao mesmo tempo. Mas desta vez, ao menos, enxergamos luz no fim do túnel.
As Receitas do clube cresceram 15% em 2012, abaixo da média dos clubes analisados, mas porque sofreu com algumas situações ruins: i) as receitas de Bilheteria caíram 34%, função de ter que jogar no Engenhão; ii) as receitas de Publicidade caíram 1%, pouco, mas para um clube com a exposição do Flamengo, é muito. Mesmo as receitas com TV cresceram apenas 11%, depois do salto enorme de 113% em 2011. De qualquer forma, o clube atingiu bons R$ 212 milhões em receitas, a 3ª maior do futebol Brasileiro.
Em termos de Custos o resultado não foi exatamente bom, mas ainda assim aceitável: cresceram 18%, pouco acima das Receitas. Desta forma, a Geração de Caixa de 2012 repetiu a de 2011, com R$ 26 milhões.
Tudo muito bom, tudo muito bem, mas daí começam a surgir dificuldades na análise, que entendemos fruto de alguns movimentos internos. Primeiramente, o balanço apresenta uma série impressionante de ajustes de exercícios anteriores, que montaram mais de R$ 300 milhões. Muitos desses ajustes conseguimos conciliar dentro das rubricas de ativos e passivos, mas ainda assim restaram R$ 75 milhões denominados “Movimentações no PL” para os quais não conseguimos ajustar o fluxo de caixa.
Além disso, a forma de agrupamento das contas nas rubricas de balanço é simplesmente caótica, misturando contas de diversas características na mesma rubrica, de forma que, por exemplo, restaram saídas de caixa de R$ 19 milhões sem explicações de origem.
Isto é ruim para a análise, mas ao mesmo tempo há que se entender que o clube está sob nova gestão e certamente estas movimentações fazem parte de diversos ajustes que visam regularizar os inúmeros problemas do passado. Formalmente, o clube hoje tem dívidas renegociadas junto à Timemania de R$ 280 milhões e adicionou cerca de R$ 120 milhões em novos acordos.
Nesse sentido, o clube pagou cerca de R$ 20 milhões em Acordos e Tributos atrasados. Naturalmente que ao fazer estes pagamentos, e se entendermos que parte das movimentações não explicadas teve efeito de saída real de caixa, logo faltou dinheiro para fechar as contas, dado a geração de apenas R$ 26 milhões de caixa. A saída foi abusar do Adiantamento de Recursos da TV. Foram R$ 121 milhões que entraram no Caixa do Clube, que adicionados da liberação de R$ 14 milhões adicionais de capital de giro, montam expressivos R$ 135 milhões.
Estes recursos pagaram Despesas Financeiras de R$ 17 milhões, as saídas de caixa citadas e bancaram Investimentos de R$ 30 milhões, sendo que R$ 5 milhões nas Categorias de Base, R$ 15 milhões em Estrutura e R$ 10 milhões na Formação de Elenco.
Mas estes Adiantamentos não foram suficientes. O clube ainda aumentou sua Dívida Bancária em R$ 16 milhões, atingindo R$ 68 milhões.
O resumo disso tudo é um clube gigante, com enorme Receita, mas Custos ainda elevados frente ao tamanho dos ajustes e das saídas de caixa não operacionais que tem que enfrentar.
PERSPECTIVAS
O que vemos é um clube buscando seu rumo, efetivamente. Mas para isto a torcida precisará ter muita paciência, o que não é comum no futebol. Especialmente porque muitos clubes tem um passado de conquistas às custas de atrasos de Impostos e Salários, que refletem na situação econômico- financeira hoje. Porém, o Torcedor quer continuar ver seu time vencendo, mas o cobertor é curto: ou põe a casa em ordem, ou busca títulos. Mas para buscar títulos atualmente precisa ter a casa em ordem. Enfim, precisa se livrar do círculo vicioso para atingir o círculo virtuoso.
O Flamengo pode conseguir isto? Sim, porque tem torcida, tem receitas e atrai bons atletas. Mas vai sofrer um bocado até que a casa esteja definitivamente em ordem.
EVENTOS SUBSEQUENTES
Final de Setembro/2013 – O clube não chegou às finais do Carioca e ocupa a 15ª colocação da Série A.