José Carlos Asbeg
20:09 (1 hora atrás)
para mim
Caro Arthur,
Nesse universo de corneteiros profissionais e torcedores tendo faniquitos de deixar costureiros morrendo de inveja, peço sua atenção para algumas considerações sobre o ambiente poluído de futricas que cerca o nosso time.
Em primeiro lugar, sigo acreditando na seriedade de propósitos da nova diretoria. A gritaria do ‘queremos time’ não pode contaminar o necessário saneamento financeiro do clube, que sob nenhuma circunstância deve ser interrompido.
Todos que apostamos nesta diretoria sabíamos que este ano seria um ano de aperto (e torço para que seja só 2013), de poucas contratações para o futebol, sem estrelas e de cortes de jogadores que estavam longe de ser craques, mas que recebiam salários e tinham comportamento de marajás. Portanto, sabíamos que o risco de rebaixamento era e é real. Ninguém deseja, mas é real.
Esse risco, entretanto, se torna mais próximo não pelo fraco elenco que temos, mas sim pela atitude, ou melhor, da falta de atitude dos jogadores. Como interpretar a derrota de 3 x 0 para o Bahia? O time de Salvador tem onze cracaços? Foi um jogo disputadíssimo, decidido nos detalhes, como gostam os comentaristas? Foi um placar injusto, porque nosso time criou, mas perdeu muitas oportunidades?
Não. O Flamengo, simplesmente foi um time apático, previsível, burocrata, indigno de vestir a camisa do clube.
Vamos ver, para efeito de ilustração, o que aconteceu nos três gols do adversário.
Primeiro gol. Adryam estava ao lado do jogador que chutou. Por que não correu para marcar, para impedir o chute? Ou, porque pelo menos não o pressionou e forçou um chute torto ou prensado? Porque é um mimado, como todos os jogadores brasileiros, que só gostam de jogar com a bola nos pés, odeiam marcar. Adryan pode vir a ser um bom jogador, mas não provou ainda ter caráter para vestir camisa do Flamengo.
Segundo gol. Aos 45 minutos do primeiro tempo, a sumidade intelectual que é o nosso atual lateral esquerdo, comete uma falta no bico da área absolutamente desnecessária (o atacante do Bahia estava de costas para nossa área). Custava o indigente mental cercar e tentar tirar a bola sem fazer falta? Ele, como de resto quase todos os jogadores brasileiros, correm, jogam só com os pés, não jogam com a cabeça e não pensam.
Terceiro gol. Bola nas costas de Leonardo Moura (como tem acontecido nos últimos quatro anos da presença deste funcionário público na lateral direita de nosso time). O ala do Bahia divide com Bruninho. Quem fica no chão? O nosso jogador, tanto por vício dos atletas brasileiros de cavarem a falta, quanto por falta de determinação em vencer a disputa de bola. Se repararmos, perdemos quase todas as divididas no jogo, além de termos o péssimo hábito de só cercarmos os adversários, enquanto eles fazem uma fortíssima marcação sobre nossos movimentos.
Então, pergunto: qual a responsabilidade da diretoria numa derrota como esta? Quem, de fato, poderá levar o Flamengo à Segunda Divisão, o presidente ou estes jogadores que se conformam tão docilmente em ser derrotados e se comportam com tal indignidade? Jogadores que conseguiram a proeza de não acertar um único cruzamento na área do Bahia durante noventa minutos (acabo de ler que Mano fez hoje um intensivão de fundamentos!!!!!! Jogadores profissionais aprendendo a passar, a cruzar, a bater escanteio).
É claro que a diretoria é responsável pelas fracas contratações até agora, mas, repito, sabíamos que não teríamos nenhum craque contratado;
nossas revelações são apenas meras apostas. Rafinha, Matheus, Adryan, Thomas, Nixon, Luiz Antonio, Rodolfo, Samir… Alguns jogaram até direitinho no que você chama de carioqueta, mas é um campeonato que não dá parâmetro algum de quem vai vingar e de quem vai ficar na promessa; por fim, os mais experientes que temos são de nível médio e nada além disso (Moura, González, Cáceres, Moreno, Hernane, Felipe).
A aposta da diretoria foi contratar um treinador respeitado pelo trabalho feito no Grêmio e no Corinthians e que provou ser um técnico sério. Não é nenhum gênio (não tem um treinador estudioso e inovador no Brasil), mas tem currículo. Curiosamente a imprensa, logo o incensou: no terceiro jogo do Flamengo sob o comando do Mano disse que o time já tinha a cara do novo treinador. Nossos comentaristas são uns brincalhões. Eu discordo enfaticamente. Há anos não vejo o Flamengo ter qualquer cara diferente da de um bando. Nosso time, entra técnico, sai técnico, não consegue ter um padrão tático identificável. O time do Mano joga igualzinho ao que jogavam os times do Dorival e do Jorginho. Os jogos que vencemos foram na raça, não na qualidade do futebol jogado.
Por que isto acontece é aí que está o mistério pra mim. É um problema de comando? Eles estão sabotando o técnico? Se estão, então estão sabotando o clube? E aí, a diretoria é omissa? Os jogadores mandam no futebol do clube? Tem desunião no grupo? (Hoje li que o Walim desligou o Renato Abreu porque ele boicotava o Jorginho. Isso é de uma indignidade suprema, um jogador prejudicar o time porque não quer trabalhar sob o comando de tal ou qual técnico. E isso vimos repetidas vezes nos últimos dez anos no Flamengo). Voltando às perguntas: os jogadores estão desinteressados de jogar? O Mano fala difícil e eles não entendem? São incapazes de jogar taticamente e com criatividade?
Não tenho resposta para tamanha incapacidade desses jogadores. Não alcanço a mediocridade de nosso time atual, com a honrosa e valente exceção do Elias e do Cáceres, que sabem de suas limitações e se doam ao time noventa minutos.
Só sei do seguinte: temos time para estar bem mais adiante, não para disputar título, nem para entrar na Libertadores. Mas temos time para não cair. Ou será que Bahia, Vitória, Náutico, Atlético Paranaense, Criciúma, Ponte Preta, São Paulo, Botafogo, Vasco, Santos, Coritiba, Cruzeiro, Grêmio, Goiás são tão melhores assim? Não são e nem menciono a Portuguesa. A diferença é que estes times jogam com disciplina, com disposição, com brio. Correm, brigam por todas as bolas, se entregam ao jogo. Quesitos há muito abandonados por vários jogadores do Flamengo, a começar pelo capitão Leonardo Moura.
Aliás, Leonardo Moura é um capítulo à parte. Leonardo Moura já foi um excelente lateral direito e temos que agradecer as alegrias que nos deu, mas se acomodou há alguns anos em ser um funcionário burocrata dentro de campo, comportamento que contamina o restante da equipe. Um capitão que não lidera, que não mostra amadurecimento para ter esta função na equipe; um capitão que parece não ter vergonha de derrotas tão humilhantes; um capitão que zela mais pelo penteado do que pelas vitórias; um capitão que não sabe ler a partida, que não entendeu ainda que dezenas de derrotas do Flamengo aconteceram em falhas gritantes defensivas suas. Por que ainda é capitão? Outra pergunta sem resposta.
Há anos passamos pelo sufoco do rebaixamento, não é a primeira vez. Teve campeonato em que escapamos nas últimas rodadas. Este ano, ao que tudo indica, vai ser mais uma vez assim. Torço para não cair. Torço muito, também, para que este nosso time tenha vergonha na cara e que comece a lutar e a honrar um clube que tem uma belíssima história de mais de cem anos.
Espero que o Mano dê logo a sua cara a este time. Que deixe de ser um bando para ser uma equipe. Que seja competitivo, que tenha a humildade de jogar de acordo com suas limitações. Mas a verdade é esta: quem cruza, quem passe, quem bate escanteio, quem finaliza, enfim, quem joga, não é o presidente, nem o treinador. Só estes jogadores podem evitar a humilhação da queda.
Torço muito para não cair, mas se cair, não podemos jogar toda a culpa na diretoria atual. Temos que cobrar de Marcio Braga, de Patricia Amorim, de Veloso, de Ferraz, de Edmundo. Temos que cobrar tudo o que fizeram, e o que não fizeram, para termos hoje uma dívida de 750 milhões de reais e vivermos esta situação de penúria, de descrédito. São eles e estes jogadores sem fibra que podem nos levar à Segundona. E, se isto acontecer, que eles tenham seus nomes gravados nos tijolinhos do CT como os responsáveis pelo primeiro rebaixamento do Flamengo.
Fonte: Urublog