João Borba, presidente do Maracanã S.A, me parece sério e bem intencionado. Mas dá a impressão de desconhecer por completo as tradições do estádio que dirige e do futebol carioca. Basta ver a comparação que fez com Wimbledon, templo do tênis, e agora essa baita confusão armada com o Vasco, por garantir ao Flu, em contrato, o direito de ocupar o lado direito da arquibancada.
Se os novos administradores do “Maraca” tivessem bom senso, conhecimento de causa e um mínimo de respeito às tradições, essa discussão deveria ter sido ampla e anterior a qualquer assinatura de contrato, buscando um consenso entre os quatro grandes clubes de forma clara e transparente e não da forma que foi, com os vascaínos descobrindo, em cima da hora, que perderam o lugar que ocupavam há décadas. Tomara que a ignorância não custe caro.
É preocupante o clima de animosidade criado entre as torcidas para o clássico de reabertura do Maracanã, no próximo domingo. Já está definido, e agora aparentemente reconhecido por todas as partes, que as arquibancadas atrás do gol à direita das tribunas de honra e de imprensa passarão a ser mesmo do Fluminense, desalojando de lá os torcedores do Vasco, que ocupavam o setor desde a fundação do estádio — os tricolores sempre ficaram à esquerda, à exceção dos dias de Fla-Flu, quando mudavam de lado. Assim como os botafoguenses se situavam sempre à direita, só trocando de lado nos confrontos com o Vasco.
Nem quero entrar no mérito da discussão sobre quem tem direito a que lugar, mas continua a me preocupar muito a possibilidade de brigas e confusões no dia do jogo, não somente dentro do estádio mas, principalmente, em seu entorno.
Vivemos dias conturbados e os acontecimentos de anteontem à noite, no Leblon e em Ipanema, uma vez mais, deixaram evidente como vândalos, ladrões e arruaceiros se aproveitam de manifestações que começam pacíficas, para depredar, roubar e destruir tudo que tem pela frente.
Por conta dessa polêmica em torno da mudança dos lugares das torcidas, o jogo de domingo, no Maracanã, é de alto teor explosivo. Diante desse quadro inquietante é até melhor que os vascaínos atendam ao apelo do presidente Roberto Dinamite e, simplesmente, boicotem o clássico. O que não deixará de ser, também, lamentável.
Fonte: Blog do Renato Maurício Prado